Tecnologia a serviço da
ópera
Pedro
J. Bondaczuk
O advento do cinema,
num primeiro momento, e, posteriormente, o surgimento dos diversos meios de
gravação de som e imagem, não somente popularizaram a ópera (claro que com
popularidade relativa) como a consolidaram de vez no mundo das artes. Antes de
existirem esses recursos, hoje corriqueiros, quem quisesse assistir a uma
apresentação do gênero, teria, necessariamente, que ir a algum teatro, então
acessível apenas á elite, em que ela ocorria. As montagens eram caríssimas (e
ainda o são) e nem sempre essas produções faziam sucesso. Foram inúmeros os
produtores que tiveram a desventura de presenciar contundentes fracassos e por
isso arcar com imensos prejuízos e diversos deles chegaram a ir à falência.
Agora não. Quem quiser
conhecer (ou, se já conhece, voltar a se deliciar) alguma ópera, tem plenas
condições de fazê-lo sem muito esforço e a custos acessíveis à maioria dos
bolsos. Basta alugar uma fita, em alguma locadora de filmes, ou mesmo adquirir
um DVD, e assistir, o que antes exigia deslocamentos e não raro altos
dispêndios (os ingressos nos teatros eram caros), em sua própria casa, e no
momento em que lhe der na veneta. Conheço muitos apreciadores do gênero que têm
extensas coleções com as mais célebres e consagradas peças operísticas
encenadas pelos mais refinados, e requisitados, artistas, em seu acervo.
Apenas de filmes, posso
citar alguns, cujas cópias pude assistir na casa de um amigo, como as óperas
“La Boheme”, de Giácomo Puccini, com produção de John Copley; “Carmem”, de
Georges Bizet, produção da Royal Opera; “Fausto”, de Charles-François Gounod;
“Nabuco”, de Giuseppe Verdi e vai por aí afora. Para os que preferem ver as
apresentações ao vivo, no teatro, os principais centros artísticos da Europa e
dos Estados Unidos, mantêm temporadas operísticas regulares, com programas dos
mais variados e cujas apresentações são gravadas em DVD que, salvo raras
exceções, se esgotam rapidamente.
Neste preciso instante
em que redijo estes comentários, dezenas, centenas, quiçá milhares de
compositores debruçam-se sobre partituras para comporem novas óperas que
futuramente estarão nos melhores e mais sofisticados teatros do mundo, muitas
das quais irão gerar filmes ou serão gravadas não importa em qual dos tantos
recursos eletrônicos que existem e que poderão, caso você se interesse,
integrar seu acervo, caro leitor. É a modernidade tecnológica, mais uma vez, a
serviço da arte, da cultura e do bom gosto.
Ademais, inúmeras
inovações surgem, praticamente, todos os dias, para facilitar a tarefa dos
compositores e dos apreciadores do gênero. Por exemplo, os vastos (quase
infinitos) recursos da informática são crescentemente utilizados, e com pleno
êxito, por boa parte deles. Ademais, a ópera, que sobreviveu dada a capacidade
dos seus cultores de renová-la, adaptá-la e modernizá-la, segue nessa linha
inovadora, aproximando, cada vez mais, o erudito do popular. As mudanças
ocorrem tanto na linha melódica, quanto na utilização de instrumentos populares
(como as guitarras, por exemplo) e, principalmente, na temática desenvolvida.
Neste caso, o movimento
inovador mais expressivo, conhecido e polêmico, é a chamada “ópera rock”, que
desgosta os puristas, que argumentam que ela não tem nada a ver com o gênero
que consagrou Mozart, Wagner, Puccini, Verdi e tantos outros, mas que conquista
crescente contingente de adeptos, mundo afora, especialmente a juventude. Essa
vertente surgiu na década de 60 do século passado. Os historiadores de arte
consideram que a peça “Tommy”, do grupo The Who, foi a precursora dessa nova
linha de composição. Seu sucesso motivou outras produções no mesmo estilo.
Atribui-se ao guitarrista Peter Townshend, do grupo The Who, o pioneirismo como
compositor desse tipo híbrido, de música e de arte dramática, posto que
cantada, em vez de recitada.
Há quem conteste essa
primazia e jure que a primeira ópera rock foi do grupo britânico Nirvana, com
seu álbum “The Story of Simon Simopath”. Controvérsias do tipo sempre existiram
e sempre irão existir. De qualquer forma, não se pode negar o caráter histórico
de Peter Towshend nessa revolucionária inovação do gênero. Outras óperas rock
das mais conhecidas são “Jesus Christ Superstar”, de Tim Rice, “The rise and
fall of Ziggy stardust and the spiders of Mars”, de David Bowie, “Quadrofenia”,
também de Peter Townshend, do grupo “The Who”, “Berlin”, de Lou Reed, “The lamb
lies down on Broadway”, do Genesis, “Joe’s garage”de Frank Zappa e vai por aí
afora.
A modernização da ópera
(processo contínuo, em pleno andamento), e as facilidades de acesso
proporcionadas pela tecnologia, fazendo com que deixasse de ser exclusividade
das elites, consolidam e, sobretudo, concretizam plenamente o sonho daquele
punhado de florentinos de fins do século XVI, de maneira modernizada, a grandiosidade
e a veracidade da tragédia da Grécia Antiga.
Estamos em plena
segunda década de um novo século e novo milênio, repleto de promessas, mas
também de incógnitas, incertezas e sobressaltos, com vários movimentos
artísticos e culturais se transformando em meras referências históricas, por
sua incapacidade de se transformar. Mas esse equívoco filológico dos italianos,
a “opera in musica”, visto por muitos anos com suspeição e encarado como mero
modismo passageiro, está mais vivo do que nunca, passados mais de quatro
séculos de sua concepção, sustentado pela atuação magnífica de gênios de várias
épocas que excederam, em termos de inteligência e criatividade, no uso de uma
adequada e funcional linguagem para comunicar acontecimentos, projeções,
dramas, comédias, pensamentos, sentimentos etc. etc.etc.
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