Consolidação e
consagração
Pedro
J. Bondaczuk
A ópera conquistou o
status que goza, atualmente, no âmbito da chamada música erudita, ou clássica,
graças à capacidade de renovação dos inúmeros compositores que lhe deram
permanência e transcendência. Além de seus inegáveis méritos artísticos,
propiciou a criação de muitos empregos, e não apenas para instrumentistas, mas
para cantores, cenógrafos, figurinistas, iluminadores etc. Levou, todavia, bom
tempo para se consolidar, como gênero híbrido, misto de composição musical e
drama, com muitos elementos da arte de representar, mas com a diferença de
trocar os diálogos “falados” pelos “cantados”.
Conquistou, todavia,
público exigente, mas fiel, que só cresceu, com a adesão de compositores
geniais, que haviam se destacado em outros gêneros clássicos e que passaram a
compor óperas, cada vez mais refinadas, inspiradas e criativas. Um desses
gênios foi, sem dúvida, Wolfgang Amadeus Mozart, que soube encontrar libretos
adequados, de inegável qualidade artística, para suas composições. Sua produção
operística, primores de perfeição, é das mais vastas e memoráveis, com destaque
para obras como “O rapto do serralho” (16 de julho de 1782), “As bodas de
Fígaro (1° de maio de 1786), “Don Giovanni” (29 de outubro de 1787) e “A flauta
mágica” (30 de setembro de 1791), entre tantas e tantas e tantas magníficas
produções.
Até o fenomenal Ludwig
van Beethoven – cujo gênero preferido nunca foi a ópera – fez sucesso no drama
cantado, com “Fidélio”, cuja estréia se deu em 20 de novembro de 1805. Cada um
desses imortais deixou um pouco de si, alguma coisa nova, seu selo de qualidade
na técnica de composição operística. Carl Maria Von Weber, por exemplo,
reformou os conceitos do gênero, escolhendo temas populares adaptáveis ao romantismo
musical. Sua ópera mais marcante foi “Freischuetz”, marco precursor de temas
nacionalistas germânicos, que seriam levados às últimas conseqüências por
Richard Wagner.
Influenciados por
Weber, diversos compositores, Europa afora, enveredaram por idêntica temática
nacionalista. O dinamarquês Friedrich Daniel Rudolf Kuhlau foi um deles. O
sueco Ivar Hallstrom, foi outro. O checo Bedrich Smetana (cuja obra mais
notável é a ópera “A noiva vendida”, estreada em 30 de maio de 1853) foi um
terceiro. E vai por aí afora. O período, meados do século XIX, marcou a adesão
dos compositores russos ao gênero. O precursor foi Mikhail Glincka, com a obra
“A vida pelo czar”, cuja estréia se deu em 9 de dezembro de 1836.
Essa composição foi a
primeira ópera de cunho nacionalista da Rússia, que revelaria, a partir de
então, grande quantidade de compositores de reconhecido valor no mundo
operístico. Para o meu gosto, o
principal foi Modest Mussorgski. Sua peça “Bóris Goudonov”, baseada em um drama
de Aleksandr Puchkin sobre um personagem lendário russo que tinha esse nome, é
considerada uma das mais perfeitas do gênero em todos os tempos. É de tirar o
fôlego! Constitui-se no ápice qualitativo da ópera na Rússia, país que também
revelou ao mundo o genial e atormentado Piotr Tchaikowski, autor de “Evgueny
Onieguin” e “A dama de espadas”; Aleksandr Borodin, que compôs “O príncipe
Igor”; Nikolai-Rimski-Korsakov, compositor de “O galo de ouro” e Igor
Stravinsky, que nos legou, entre outras obras, “O rouxinol”, “Édipo rei”, “A carreira
de libertino” e “Pássaro de fogo”.
Entretanto, um dos
maiores reformadores da ópera e um dos seus maiores expoentes de todos os
tempos foi o polêmico e genial compositor Richard Wagner, que abandonou todas
as formas tradicionais até então características do gênero, mas restabeleceu
sua substância e sua essência. Entre outras coisas, aboliu, por completo, a
ária. Substituiu-a pela cena totalmente musicada, introduzindo o leitmotiv, ou
seja, um tema-condutor. Valeu-se da melodia contínua, sustentada por recursos
orquestrais, de enorme força dramática. Transformou, enfim, a velha ópera numa
espécie de sinfonia, carregada de intenso drama, com a participação de vozes
fazendo o coro. Conseguiu, portanto, fazer o que os florentinos haviam
concebido em 1600 e que havia se perdido pelo caminho.
Wagner concretizou,
sobretudo, o grande sonho de Gluck. Subordinou a música completamente ao drama,
promovendo a absoluta fusão entre ambos. Por isso, conquistou a preferência do
público na maior parte da Europa, embora encontrasse (e ainda encontre)
resistência em vários círculos, não em decorrência de qualidade musical, mas de
seu suposto e controvertido anti-semitismo. Com Wagner, a ópera chegou quase
aos limites de suas possibilidades. O que seria atingido, afinal, por Richard
Strauss, anos depois.
A obra operística de
Wagner é das mais ricas e expressivas e. Virtualmente, não há nenhum amante de
música erudita que não a conheça, mesmo que não a aprecie (o que refletiria
contundente falta de gosto). Suas principais óperas são: “Tanhauser” (19 de
outubro de 1845), “Lohengrin” (28 de junho de 1850), “Tristão e Isolda” (10 de
junho de 1865), “Os mestres cantores de Nuremberg” (21 de junho de 1868), “O
ouro do Reno” (22 de setembro de 1869), “A Walquíria” (26 de junho de 1870),
“Siegfrid e o crepúsculo dos deuses” (16 e 17 de agosto de 1876) e, claro,
“Parsifal”, considerada a sua obra prima.
Entretanto, a Península
Itálica, berço do gênero, não ficou à margem de mais esse seu processo de
reforma e de consolidação. Isso graças à atuação inovadora de Giuseppe Verdi,
cujas composições são classificadas pelos historiadores de arte como
Neo-românticas. Seguindo caminhos bem diversos dos de Wagner, em suas últimas
composições o gênio italiano fez com que suas peças atingissem formas bastante
parecidas com o estilo wagneriano. Suas óperas mais notáveis são: “Otelo” (5 de
fevereiro de 1887), “Falstaff” (9 de fevereiro de 1893), “Rigoletto” (11 de
março de 1851), “Il trovatore” (19 de janeiro de 1853), “La traviata” (6 de
março de 1853), “Um baile de máscaras” (17 de fevereiro de 1859), “A força do
destino” (10 de novembro de 1862), “Don Carlos” (11 de março de 1867) e “Aida”
(24 de dezembro de 1871).
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