A reforma esquecida
Pedro J. Bondaczuk
O
governo festejou a aprovação, durante o período de convocação extraordinária do
Congresso, de duas das reformas pelas quais vem batalhando há três anos: a
administrativa e a previdenciária. A primeira, foi aprovada, em primeiro turno,
no Senado, onde a base governista é bastante ampla, o que dá tranqüilidade ao
Planalto para aprovar o que quiser. A segunda, obteve o aval, também em
primeira votação, na Câmara, depois de intensas negociações e até confrontos,
embora falte ainda a apreciação dos respectivos destaques.
A
mídia, sem maiores análises ou considerações, deu grande ênfase às
"vitórias" governistas, dando a entender que o País agora está
"salvo" pelos seus "diligentes" parlamentares. Estaria de
fato? Ambas as emendas constitucionais eram prioridades? As novas regras vão,
como se diz, tornar o Estado mais eficiente e menos oneroso? É bastante
contestável.
A
reforma da Previdência, por exemplo, vai reduzir de fato o crescente déficit do
setor, ou estagná-lo, mas não eliminá-lo, conforme seria desejável. A cirurgia
deveria ser mais profunda, para atingir a raiz do tumor que corrói o sistema,
que são os privilégios de determinados setores do funcionalismo. Os
trabalhadores das empresas privadas, em especial os que começaram a trabalhar
(e recolher) precocemente, aos 14, 15 ou 16 anos, acabaram sendo os grandes
penalizados. Muitos brasileiros jamais vão se aposentar.
Tanto
estardalhaço, por pouca coisa! Do jeito que está, o sistema previdenciário terá
que ser novamente reformado, em dez anos ou menos, para que se torne viável.
Agora não é. Quanto à reforma administrativa, o corporativismo impediu que
fosse aquela que o País há muito requer.
Antecipado
o recesso parlamentar, por causa do Carnaval, os deputados já engendram, com a
maior desfaçatez, outro golpe no bolso do contribuinte. A exemplo da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, aprovada sob a alegação
de custear a saúde (e que agora se sabe que parte dos recursos acabou desviada
para outras áreas), se esboça a criação de outro tributo, não menos oneroso
para quem já paga (como o brasileiro) 30% de tudo o que ganha no ano em taxas e
impostos, nas três esferas: municipais, estaduais e federal.
É
o que incidiria sobre os combustíveis. O pretexto para a sua criação é o de
financiar a conservação das precaríssimas rodovias federais. Mais essa! Mesmo
que fosse, de fato, com essa finalidade, esse novo assalto ao bolso do cidadão
seria intolerável. O motorista já paga pedágio exatamente para esse fim. No
entanto, as estradas continuam esburacadas, mal sinalizadas e ceifando milhares
de vidas anualmente. E a menos que sejam privatizadas, vão continuar sempre
assim.
A
reforma que deveria ser prioritária, por desonerar a sociedade e
simultaneamente fornecer fontes de recursos ao governo, a tributária, sequer
está na pauta de nenhuma das duas casas do Congresso. E pelo visto, nem vai
estar nos próximos anos. Enquanto isso, a parafernália dos impostos (em torno
de 60 atualmente), continuará engrossando mais e mais, de acordo com a fantasia
dos burocratas e a anuência de parlamentares alienados, desligados da realidade
nacional.
(Artigo
escrito em 15 de fevereiro de 1997)
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