É
preciso combater a infecção, não a febre
Pedro J. Bondaczuk
O terrorismo internacional, já se disse e se repetiu
inúmeras vezes, é uma das mais graves doenças de que padecem as sociedades
nacionais no mundo moderno. É uma infecção que atinge aqueles organismos mais
debilitados, onde o respeito aos direitos humanos é mera ficção e as injustiças
sociais produzem hordas de deserdados, que acabam sendo campos férteis para os
germes da violência.
Alguns comparam essa prática nefasta a um monstro de
múltiplas cabeças, como se fora uma Hidra de Lerna do século XX. Combater os
efeitos do terrorismo, sem se aprofundar nas causas, e sem que se busque a
correção delas, equivale a atacar apenas a febre que se apossa de um corpo
doente, sem que se elimine o foco infeccioso que a determinou.
Fala-se muito, de uns tempos a esta parte, do
extremismo patrocinado por Estados. E sempre que alguém menciona isso, o nome
de países como a Líbia, o Irã e a Síria vêm, imediatamente, à baila, como se
fossem os únicos a se valer de meios não-ortodoxos para impor seus pontos de
vista.
Acontece que a acusação contra esses regimes, de
patrocínio ao terror, jamais foi levada ao foro apropriado, à Corte
Internacional de Justiça de Haia. No entanto, a ajuda aberta e ostensiva dada
pelo governo norte-americano aos “contras” nicaragüenses foi julgada por esse
seleto tribunal, que condenou essa ação.
A Assembléia Geral das Nações Unidas votou uma
resolução exigindo o cumprimento da sentença exarada pelos juízes desse
organismo. No entanto, a Casa Branca teima nessa prática ilegal, passando por
sobre o direito internacional, somente por não simpatizar com o regime vigente
na Nicarágua.
É esse tipo de mau exemplo que conduz tantas pessoas
à prática de formas condenáveis de luta por aquilo que julgam ser o correto. No
meio de idealistas extraviados e de inadaptados sociais (que ainda existem no0s
diversos grupos radicais), pessoas inescrupulosas, que amam a violência pelo
simples sabor da aventura ou que mercantilizam seus talentos para matar, se
infiltram, cada vez em maior quantidade.
Esses últimos, sim, são o grande perigo. Para eles,
a sociedade não passa de uma farsa, que convém ser destruída. Mas eles não
apontam caminhos melhores para serem seguidos. Amam o caos, a desordem, o
terror, que lhes traz vantagens e lhes dá a sensação do poder.
Tais celerados, a qualquer momento, podem
perfeitamente, produzir tragédias muito maiores do que as originais, de guerras
e revoluções. Podem lançar mão de armas terríveis, químicas, bacteriológicas,
radiológicas ou mesmo nucleares, pois não têm o mínimo escrúpulo ou
consideração por ninguém.
Tais extremistas multiplicam-se, com uma rapidez
espantosa, capaz de assustar às pessoas de maior sangue frio. Não basta,
portanto, cortar as cabeças menos ferozes da Hidra de Lerna. É necessário que o
monstro seja abatido por completo. Que não somente os pequenos Estados
patrocinadores do terror sejam condenados e segregados pela comunidade
internacional, mas também as potências que agem dessa forma.
Como isso está, apenas, no plano do ideal, o que se
pode esperar por muitas décadas ainda, são ações cada vez mais ousadas e
sangrentas e tragédias imensas envolvendo milhares de incautas e inocentes
vítimas.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 5 de novembro de 1986)
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