Sunday, September 08, 2013

É preciso combater a infecção, não a febre

Pedro J. Bondaczuk

O terrorismo internacional, já se disse e se repetiu inúmeras vezes, é uma das mais graves doenças de que padecem as sociedades nacionais no mundo moderno. É uma infecção que atinge aqueles organismos mais debilitados, onde o respeito aos direitos humanos é mera ficção e as injustiças sociais produzem hordas de deserdados, que acabam sendo campos férteis para os germes da violência.

Alguns comparam essa prática nefasta a um monstro de múltiplas cabeças, como se fora uma Hidra de Lerna do século XX. Combater os efeitos do terrorismo, sem se aprofundar nas causas, e sem que se busque a correção delas, equivale a atacar apenas a febre que se apossa de um corpo doente, sem que se elimine o foco infeccioso que a determinou.

Fala-se muito, de uns tempos a esta parte, do extremismo patrocinado por Estados. E sempre que alguém menciona isso, o nome de países como a Líbia, o Irã e a Síria vêm, imediatamente, à baila, como se fossem os únicos a se valer de meios não-ortodoxos para impor seus pontos de vista.

Acontece que a acusação contra esses regimes, de patrocínio ao terror, jamais foi levada ao foro apropriado, à Corte Internacional de Justiça de Haia. No entanto, a ajuda aberta e ostensiva dada pelo governo norte-americano aos “contras” nicaragüenses foi julgada por esse seleto tribunal, que condenou essa ação.

A Assembléia Geral das Nações Unidas votou uma resolução exigindo o cumprimento da sentença exarada pelos juízes desse organismo. No entanto, a Casa Branca teima nessa prática ilegal, passando por sobre o direito internacional, somente por não simpatizar com o regime vigente na Nicarágua.

É esse tipo de mau exemplo que conduz tantas pessoas à prática de formas condenáveis de luta por aquilo que julgam ser o correto. No meio de idealistas extraviados e de inadaptados sociais (que ainda existem no0s diversos grupos radicais), pessoas inescrupulosas, que amam a violência pelo simples sabor da aventura ou que mercantilizam seus talentos para matar, se infiltram, cada vez em maior quantidade.

Esses últimos, sim, são o grande perigo. Para eles, a sociedade não passa de uma farsa, que convém ser destruída. Mas eles não apontam caminhos melhores para serem seguidos. Amam o caos, a desordem, o terror, que lhes traz vantagens e lhes dá a sensação do poder.

Tais celerados, a qualquer momento, podem perfeitamente, produzir tragédias muito maiores do que as originais, de guerras e revoluções. Podem lançar mão de armas terríveis, químicas, bacteriológicas, radiológicas ou mesmo nucleares, pois não têm o mínimo escrúpulo ou consideração por ninguém.

Tais extremistas multiplicam-se, com uma rapidez espantosa, capaz de assustar às pessoas de maior sangue frio. Não basta, portanto, cortar as cabeças menos ferozes da Hidra de Lerna. É necessário que o monstro seja abatido por completo. Que não somente os pequenos Estados patrocinadores do terror sejam condenados e segregados pela comunidade internacional, mas também as potências que agem dessa forma.

Como isso está, apenas, no plano do ideal, o que se pode esperar por muitas décadas ainda, são ações cada vez mais ousadas e sangrentas e tragédias imensas envolvendo milhares de incautas e inocentes vítimas.   

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 5 de novembro de 1986)


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