De quem é a culpa?
Pedro J.
Bondaczuk
A polícia inglesa vem sendo responsabilizada, pela opinião
pública da Grã-Bretanha, e por alguns círculos políticos, pela tragédia
ocorrida no sábado passado, no estádio de Hillsborough, em Sheffield, quando
108 pessoas morreram pisoteadas, ou asfixiadas (em sua maioria menores de
idade), durante a realização da partida entre o Liverpool e o Notingham Forest,
pelas semifinais da Copa da Inglaterra.
A argumentação é a de que, com a
abertura de um dos portões para cerca de dois mil torcedores, que não
conseguiram entrar para ver o jogo e que faziam baderna do lado de fora, se
instalou o tumulto, e em seguida o pânico, provocando as cenas chocantes que
todos tivemos a oportunidade de presenciar pela televisão.
Mas seria a polícia, de fato, a
responsável por esses lamentáveis acontecimentos? Ou pelo menos caberia
exclusivamente a ela a culpa por esse triste caso? Em absoluto! Acreditamos que
mais culpado do que ela é aquele que programou um jogo de tamanha importância, envolvendo
um clube com uma torcida sabidamente fanática, como a do Liverpool, para um
estádio cujas dimensões não condiziam com o interesse despertado pelo
espetáculo.
Esta não foi a primeira vez, e
nem mesmo a maior, das tragédias que se verificaram em praças esportivas,
embora na Inglaterra detenha essa triste primazia. E, certamente, não irá ser a
última. Em 1964, por exemplo, durante um jogo entre as seleções juvenis da
Argentina e do Peru, no estádio de Lima, centenas de torcedores (os números
oficiais são de 303) perderam a vida no tumulto causado pela anulação de um
gol. Quem lida com o público deveria ter uma noção, por pálida que fosse, de
psicologia das massas.
Enquanto não se compreender como
é o comportamento do cidadão, inclusive do mais pacato, que libera uma
quantidade insuspeitada e enorme de agressividade quando inserido em multidão,
dezenas de casos dessa natureza vão continuar acontecendo.
Aliás, essa questão chegou a ser
comentada, por diversos homens responsáveis pela segurança de personalidades
políticas internacionais, logo após a tentativa de assassinato do papa João
Paulo II na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 13 de maio de 1981.
Um membro do serviço secreto
norte-americano chegou a dizer, naquela ocasião, que dantescas tragédias não
haviam ainda sido registradas, durante acontecimentos congregando multidões,
apenas por “pura sorte”. Ele chegou a prever, então, que fatos lamentáveis
(como o do Estádio de Hillsborough) poderiam acontecer, não somente durante
visitas papais a algum país ou idas de personalidades do mundo político ou
artístico a determinados lugares, mas que estádios de futebol e locais de
grandes shows estavam igualmente sujeitos ao mesmo perigo. Que os fatos
ocorridos em Sheffield sirvam, pelo menos, como tema de grande reflexão para
aqueles que lidam com grandes massas. Senão...
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 18
de abril de 1989).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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