Tuesday, September 24, 2013

De quem é a culpa?


Pedro J. Bondaczuk

A polícia inglesa vem sendo responsabilizada, pela opinião pública da Grã-Bretanha, e por alguns círculos políticos, pela tragédia ocorrida no sábado passado, no estádio de Hillsborough, em Sheffield, quando 108 pessoas morreram pisoteadas, ou asfixiadas (em sua maioria menores de idade), durante a realização da partida entre o Liverpool e o Notingham Forest, pelas semifinais da Copa da Inglaterra.

A argumentação é a de que, com a abertura de um dos portões para cerca de dois mil torcedores, que não conseguiram entrar para ver o jogo e que faziam baderna do lado de fora, se instalou o tumulto, e em seguida o pânico, provocando as cenas chocantes que todos tivemos a oportunidade de presenciar pela televisão.

Mas seria a polícia, de fato, a responsável por esses lamentáveis acontecimentos? Ou pelo menos caberia exclusivamente a ela a culpa por esse triste caso? Em absoluto! Acreditamos que mais culpado do que ela é aquele que programou um jogo de tamanha importância, envolvendo um clube com uma torcida sabidamente fanática, como a do Liverpool, para um estádio cujas dimensões não condiziam com o interesse despertado pelo espetáculo.

Esta não foi a primeira vez, e nem mesmo a maior, das tragédias que se verificaram em praças esportivas, embora na Inglaterra detenha essa triste primazia. E, certamente, não irá ser a última. Em 1964, por exemplo, durante um jogo entre as seleções juvenis da Argentina e do Peru, no estádio de Lima, centenas de torcedores (os números oficiais são de 303) perderam a vida no tumulto causado pela anulação de um gol. Quem lida com o público deveria ter uma noção, por pálida que fosse, de psicologia das massas.

Enquanto não se compreender como é o comportamento do cidadão, inclusive do mais pacato, que libera uma quantidade insuspeitada e enorme de agressividade quando inserido em multidão, dezenas de casos dessa natureza vão continuar acontecendo.

Aliás, essa questão chegou a ser comentada, por diversos homens responsáveis pela segurança de personalidades políticas internacionais, logo após a tentativa de assassinato do papa João Paulo II na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 13 de maio de 1981.

Um membro do serviço secreto norte-americano chegou a dizer, naquela ocasião, que dantescas tragédias não haviam ainda sido registradas, durante acontecimentos congregando multidões, apenas por “pura sorte”. Ele chegou a prever, então, que fatos lamentáveis (como o do Estádio de Hillsborough) poderiam acontecer, não somente durante visitas papais a algum país ou idas de personalidades do mundo político ou artístico a determinados lugares, mas que estádios de futebol e locais de grandes shows estavam igualmente sujeitos ao mesmo perigo. Que os fatos ocorridos em Sheffield sirvam, pelo menos, como tema de grande reflexão para aqueles que lidam com grandes massas. Senão...

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 18 de abril de 1989).


   
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