Tiro pela culatra
Pedro J. Bondaczuk
O Fundo
Social de Emergência e, por conseqüência, o próprio plano de
estabilização, de médio prazo, do ministro da Fazenda, Fernando
Henrique Cardoso, terão momentos decisivos esta semana.
Congressistas experientes acreditam que o projeto será aprovado o
mais tardar até amanhã, embora com risco de ser mais
descaracterizado ainda do que já foi.
Especula-se
que a intenção do Congresso, ou pelo menos de alguns parlamentares,
foi apenas a de retardar propositalmente a aprovação da emenda (que
terá de ocorrer em dois turnos) por razões meramente políticas.
Fica
até implícito, pelo próprio momento, em se tratando de um ano
eleitoral e de uma fase de definições de candidaturas, que o
retardamento objetivou, sobretudo, inviabilizar a possível
postulação à Presidência por parte do ministro.
E
o Brasil, como fica nisso? Boa pergunta. Provavelmente Fernando
Henrique, com a experiência que tem, possui uma carta decisiva, um
plano alternativo, prevendo desde a morosidade na aprovação do
Fundo Social de Emergência à sua rejeição.
Aliás,
as apostas nos meios financeiros, que por força da própria
atividade têm, geralmente, margem mínima de erro, são as de que a
inflação será finalmente controlada este ano, com a reativação
da atividade econômica.
Caso
isso ocorra, e o ministro da Fazenda tem se mostrado muito seguro de
sua estratégia, a suposta manobra protelatória de alguns
congressistas tende a se tornar um tiro pela culatra.
O
adiamento da votação, por falta de quórum, para esta semana,
fortaleceu a imagem de Fernando Henrique, que ganhou espaço na
mídia, fez seu desabafo contra a irresponsabilidade de certos
parlamentares e conquistou a adesão dos empresários ao plano de
estabilização, inclusive de alguns que estavam recalcitrantes ou
pelo menos em dúvida.
Portanto,
se o retardamento da votação teve por objetivo desgastar o possível
candidato tucano à Presidência, o efeito foi inverso. Quem
pretendia inviabilizar a candidatura do ministro da Fazenda apenas
agiu como seu cabo eleitoral involuntário. Até porque é
inconcebível que um político experiente como Fernando Henrique
Cardoso desconheça esse tipo de manobra e, portanto, não saiba como
neutralizar tais artifícios.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de
fevereiro de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment