Thursday, May 18, 2017

Tiro pela culatra



Pedro J. Bondaczuk



O Fundo Social de Emergência e, por conseqüência, o próprio plano de estabilização, de médio prazo, do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, terão momentos decisivos esta semana. Congressistas experientes acreditam que o projeto será aprovado o mais tardar até amanhã, embora com risco de ser mais descaracterizado ainda do que já foi.

Especula-se que a intenção do Congresso, ou pelo menos de alguns parlamentares, foi apenas a de retardar propositalmente a aprovação da emenda (que terá de ocorrer em dois turnos) por razões meramente políticas.

Fica até implícito, pelo próprio momento, em se tratando de um ano eleitoral e de uma fase de definições de candidaturas, que o retardamento objetivou, sobretudo, inviabilizar a possível postulação à Presidência por parte do ministro.

E o Brasil, como fica nisso? Boa pergunta. Provavelmente Fernando Henrique, com a experiência que tem, possui uma carta decisiva, um plano alternativo, prevendo desde a morosidade na aprovação do Fundo Social de Emergência à sua rejeição.

Aliás, as apostas nos meios financeiros, que por força da própria atividade têm, geralmente, margem mínima de erro, são as de que a inflação será finalmente controlada este ano, com a reativação da atividade econômica.

Caso isso ocorra, e o ministro da Fazenda tem se mostrado muito seguro de sua estratégia, a suposta manobra protelatória de alguns congressistas tende a se tornar um tiro pela culatra.

O adiamento da votação, por falta de quórum, para esta semana, fortaleceu a imagem de Fernando Henrique, que ganhou espaço na mídia, fez seu desabafo contra a irresponsabilidade de certos parlamentares e conquistou a adesão dos empresários ao plano de estabilização, inclusive de alguns que estavam recalcitrantes ou pelo menos em dúvida.

Portanto, se o retardamento da votação teve por objetivo desgastar o possível candidato tucano à Presidência, o efeito foi inverso. Quem pretendia inviabilizar a candidatura do ministro da Fazenda apenas agiu como seu cabo eleitoral involuntário. Até porque é inconcebível que um político experiente como Fernando Henrique Cardoso desconheça esse tipo de manobra e, portanto, não saiba como neutralizar tais artifícios.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de fevereiro de 1994).



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