Saturday, May 06, 2017

Por falta de opção



Pedro J. Bondaczuk



As pesquisas de opinião, invariavelmente, apontam que o presidente Fernando Henrique Cardoso deverá obter a reeleição em segundo turno, nas eleições presidenciais deste ano, com uma vantagem expressiva de votos sobre seu adversário direto, o petista Luís Inácio Lula da Silva. Nem seria necessário recorrer a tais consultas para chegar a essa conclusão. O eleitor descontente com o atual governo, mas que rejeite o candidato do PT, ou por suas posições políticas ou por não confiar em seu tino administrativo, não conta com opções. Ou vota em FHC ou anula o voto.

Ciro Gomes, em outras circunstâncias, que não as atuais, seria uma boa alternativa. No entanto, sua candidatura é prematura. Deveria ser lançada dentro de quatro anos. Em 2002, seria o sucessor ideal para quem vencer as eleições de outubro próximo. Ademais, carece de estrutura partidária, já que o PPS é um partido relativamente pequeno, sem grande abrangência em âmbito nacional. Seu tempo, no horário político de rádio e televisão, é restritíssimo e, por maior poder de comunicação que tenha, é impossível persuadir um número de eleitores suficiente para lhe dar alguma chance, mesmo que remota, de vitória.

Os outros 13 concorrentes não têm a mínima possibilidade de fazer frente ao favorito. O principal obstáculo de Lula não é sequer a plataforma esquerdista que defende, nem a reforma agrária radical que propõe. É a sua falta de experiência administrativa. Afinal, jamais foi governador de Estado ou até mesmo prefeito.

Esse fato foi enfatizado por Fernando Collor, em 1990, e por Fernando Henrique, em 1994. E certamente será bastante explorado até 3 de outubro próximo, mormente pelo atual presidente. Como político eleito, o candidato petista exerceu um único mandato na Câmara Federal, sem grande destaque. Não há um único projeto relevante de sua autoria que ele possa citar em seus comícios.

Seus defensores argumentam que o polonês Lech Walesa, operário e sindicalista como ele, também nunca havia ocupado cargos na administração pública, mas fez um governo até que razoável quando conquistou a Presidência da Polônia. Ocorre que o líder europeu contava com um "cabo eleitoral" imbatível: o papa João Paulo II.

É certo que Lula conta com um contingente fiel de eleitores. Insuficiente, no entanto, para vencer as eleições. Suas mensagens empolgaram mais de 40% do eleitorado em 1990 e 1994 e, conforme as pesquisas, conserva o mesmo porcentual para um eventual segundo turno este ano.

Sua maior dificuldade é a inexistência de candidatos de direita e de centro, que diluam os votos que serão dados a Fernando Henrique, melhorando por conseguinte as suas chances.

Todavia, a renovação do Congresso, praticamente esquecida durante a campanha, que enfatiza somente a sucessão no Executivo (Presidência da República e governos dos Estados), é da maior relevância para conferir governabilidade ao presidente eleito. Tudo leva a crer que FHC ficará mais refém do que já é do PFL, em detrimento do PMDB e principalmente do seu próprio partido, o PSDB.

Tal situação projeta dificuldades ainda maiores do que as atuais para a execução de programas sociais no segundo mandato (se de fato conquistá-lo), seu atual "calcanhar de Aquiles" junto à opinião pública. Tão logo inicie a nova gestão, certamente a corrida sucessória para 2002 será deflagrada, posto que nos bastidores. Há tempos os liberais aspiram a tal investidura.

No tocante às oposições, as projeções das pesquisas indicam que devam ter discretos ganhos na Câmara, compensados por ligeiras perdas no Senado. O ideal seria que o presidente eleito contasse com uma bancada majoritária e extremamente fiel, de preferência do seu próprio partido, que lhe conferisse plenas condições de governabilidade e possibilitasse aprovar todos os projetos necessários ao cumprimento do programa proposto ao eleitorado.

A menos que haja dramática reversão de expectativas, a lógica é que tudo permaneça como está, até as eleições de 2002. Fernando Henrique deve vencer não porque seu governo tenha sido maravilhoso, mas por absoluta falta de opções. É o menos ruim dos candidatos propostos.

(Texto escrito em 27 de julho de 1998, publicado como editorial na Folha do Taquaral).



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