Por falta de opção
Pedro J. Bondaczuk
As pesquisas de opinião,
invariavelmente, apontam que o presidente Fernando Henrique Cardoso
deverá obter a reeleição em segundo turno, nas eleições
presidenciais deste ano, com uma vantagem expressiva de votos sobre
seu adversário direto, o petista Luís Inácio Lula da Silva. Nem
seria necessário recorrer a tais consultas para chegar a essa
conclusão. O eleitor descontente com o atual governo, mas que
rejeite o candidato do PT, ou por suas posições políticas ou por
não confiar em seu tino administrativo, não conta com opções. Ou
vota em FHC ou anula o voto.
Ciro Gomes, em outras
circunstâncias, que não as atuais, seria uma boa alternativa. No
entanto, sua candidatura é prematura. Deveria ser lançada dentro de
quatro anos. Em 2002, seria o sucessor ideal para quem vencer as
eleições de outubro próximo. Ademais, carece de estrutura
partidária, já que o PPS é um partido relativamente pequeno, sem
grande abrangência em âmbito nacional. Seu tempo, no horário
político de rádio e televisão, é restritíssimo e, por maior
poder de comunicação que tenha, é impossível persuadir um número
de eleitores suficiente para lhe dar alguma chance, mesmo que remota,
de vitória.
Os outros 13 concorrentes não
têm a mínima possibilidade de fazer frente ao favorito. O principal
obstáculo de Lula não é sequer a plataforma esquerdista que
defende, nem a reforma agrária radical que propõe. É a sua falta
de experiência administrativa. Afinal, jamais foi governador de
Estado ou até mesmo prefeito.
Esse fato foi enfatizado por
Fernando Collor, em 1990, e por Fernando Henrique, em 1994. E
certamente será bastante explorado até 3 de outubro próximo,
mormente pelo atual presidente. Como político eleito, o candidato
petista exerceu um único mandato na Câmara Federal, sem grande
destaque. Não há um único projeto relevante de sua autoria que ele
possa citar em seus comícios.
Seus defensores argumentam que
o polonês Lech Walesa, operário e sindicalista como ele, também
nunca havia ocupado cargos na administração pública, mas fez um
governo até que razoável quando conquistou a Presidência da
Polônia. Ocorre que o líder europeu contava com um "cabo
eleitoral" imbatível: o papa João Paulo II.
É certo que Lula conta com um
contingente fiel de eleitores. Insuficiente, no entanto, para vencer
as eleições. Suas mensagens empolgaram mais de 40% do eleitorado em
1990 e 1994 e, conforme as pesquisas, conserva o mesmo porcentual
para um eventual segundo turno este ano.
Sua maior dificuldade é a
inexistência de candidatos de direita e de centro, que diluam os
votos que serão dados a Fernando Henrique, melhorando por
conseguinte as suas chances.
Todavia, a renovação do
Congresso, praticamente esquecida durante a campanha, que enfatiza
somente a sucessão no Executivo (Presidência da República e
governos dos Estados), é da maior relevância para conferir
governabilidade ao presidente eleito. Tudo leva a crer que FHC ficará
mais refém do que já é do PFL, em detrimento do PMDB e
principalmente do seu próprio partido, o PSDB.
Tal situação projeta
dificuldades ainda maiores do que as atuais para a execução de
programas sociais no segundo mandato (se de fato conquistá-lo), seu
atual "calcanhar de Aquiles" junto à opinião pública.
Tão logo inicie a nova gestão, certamente a corrida sucessória
para 2002 será deflagrada, posto que nos bastidores. Há tempos os
liberais aspiram a tal investidura.
No tocante às oposições, as
projeções das pesquisas indicam que devam ter discretos ganhos na
Câmara, compensados por ligeiras perdas no Senado. O ideal seria que
o presidente eleito contasse com uma bancada majoritária e
extremamente fiel, de preferência do seu próprio partido, que lhe
conferisse plenas condições de governabilidade e possibilitasse
aprovar todos os projetos necessários ao cumprimento do programa
proposto ao eleitorado.
A menos que haja dramática
reversão de expectativas, a lógica é que tudo permaneça como
está, até as eleições de 2002. Fernando Henrique deve vencer não
porque seu governo tenha sido maravilhoso, mas por absoluta falta de
opções. É o menos ruim dos candidatos propostos.
(Texto escrito em 27 de julho
de 1998, publicado como editorial na Folha do Taquaral).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment