Monday, May 29, 2017

Plano é sóbrio, equilibrado e factível


Pedro J. Bondaczuk


O primeiro pronunciamento do presidente Itamar Franco à Nação --- agora já efetivado no cargo e sem as limitações impostas por sua interinidade --- e, sobretudo, as linhas gerais da política econômica a ser adotada daqui para a frente, com enfoque para a retomada do crescimento, embora despido de "charme" e dos arroubos demagógicos que caracterizavam Fernando Collor, parece ter agradado a gregos e troianos. Afinal, todos já estão fartos de figuras pré-fabricadas e de mestres em retórica, peritos em sofismas, "milagres" e mágicas, mas que não resolvem coisa alguma.

O plano, elaborado com o concurso de representantes dos mais diversos partidos e setores da sociedade, coordenado pelo ministro interino da Fazenda (prestes a ser efetivado), Paulo Haddad, parece, à primeira vista, sóbrio, equilibrado, factível e, sobretudo, realista. Apesar de privilegiar o social, não lembra em nada a deprimente estratégia paternalista do ex-presidente José Sarney.

Como Itamar frisou bem em seu pronunciamento, é preciso não confundir "modernidade" com perversidade. E isso caracterizava a política econômica imposta por Collor. Além de ineficiente --- ao longo de seu catastrófico governo, o Produto Interno Bruto caiu 10% --- a estratégia do ex-presidente foi perversa. Produziu desemprego em massa, sucateou a rede de saúde pública, gerou monumental capacidade ociosa no parque fabril brasileiro, sem que a inflação (o propalado objetivo do desastrado programa costurado às pressas sem que se medissem suas possíveis conseqüências) recuasse a um patamar dito civilizado. O principal mérito do plano de Itamar é a garantia de estabilidade nas regras do jogo.

Doravante, será possível aos empresários estabelecerem um planejamento que ultrapasse ao dia seguinte. O programa, e mais do que isso, o compromisso assumido pelo presidente perante seus ministros, os congressistas, os moços e moças e todos os brasileiros, é o da previsibilidade.

Parece que finalmente o País vai se livrar das surpresas desagradáveis de um político instável e inapto, que se preocupava mais com o culto à própria personalidade do que em governar, de fato, o Brasil.

(Artigo publicado na página 5, Economia, do Correio Popular, em 31 de dezembro de 1992).



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