Plano é sóbrio, equilibrado
e factível
Pedro J. Bondaczuk
O primeiro pronunciamento do
presidente Itamar Franco à Nação --- agora já efetivado no cargo
e sem as limitações impostas por sua interinidade --- e, sobretudo,
as linhas gerais da política econômica a ser adotada daqui para a
frente, com enfoque para a retomada do crescimento, embora despido de
"charme" e dos arroubos demagógicos que caracterizavam
Fernando Collor, parece ter agradado a gregos e troianos. Afinal,
todos já estão fartos de figuras pré-fabricadas e de mestres em
retórica, peritos em sofismas, "milagres" e mágicas, mas
que não resolvem coisa alguma.
O plano, elaborado com o
concurso de representantes dos mais diversos partidos e setores da
sociedade, coordenado pelo ministro interino da Fazenda (prestes a
ser efetivado), Paulo Haddad, parece, à primeira vista, sóbrio,
equilibrado, factível e, sobretudo, realista. Apesar de privilegiar
o social, não lembra em nada a deprimente estratégia paternalista
do ex-presidente José Sarney.
Como Itamar frisou bem em seu
pronunciamento, é preciso não confundir "modernidade" com
perversidade. E isso caracterizava a política econômica imposta por
Collor. Além de ineficiente --- ao longo de seu catastrófico
governo, o Produto Interno Bruto caiu 10% --- a estratégia do
ex-presidente foi perversa. Produziu desemprego em massa, sucateou a
rede de saúde pública, gerou monumental capacidade ociosa no parque
fabril brasileiro, sem que a inflação (o propalado objetivo do
desastrado programa costurado às pressas sem que se medissem suas
possíveis conseqüências) recuasse a um patamar dito civilizado. O
principal mérito do plano de Itamar é a garantia de estabilidade
nas regras do jogo.
Doravante, será possível aos
empresários estabelecerem um planejamento que ultrapasse ao dia
seguinte. O programa, e mais do que isso, o compromisso assumido pelo
presidente perante seus ministros, os congressistas, os moços e
moças e todos os brasileiros, é o da previsibilidade.
Parece que finalmente o País
vai se livrar das surpresas desagradáveis de um político instável
e inapto, que se preocupava mais com o culto à própria
personalidade do que em governar, de fato, o Brasil.
(Artigo publicado na página
5, Economia, do Correio Popular, em 31 de dezembro de 1992).
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