Wednesday, May 03, 2017

Renovação de mentalidade



Pedro J. Bondaczuk


O prestígio dos políticos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, jamais esteve em nível tão baixo, pelo menos neste século. Prova disso são os índices de abstenção nas várias eleições que se realizam pelo mundo afora, cada vez maiores e crescentes, em especial nos países onde o voto é tido como direito democrático do cidadão e não como uma obrigação.

Faltam estadistas atualmente. Carece-se de líderes com carisma. com grandeza, com competência para acumpliciar seus liderados na tarefa de regenerar os costumes e vencer este fenômeno inerente à própria natureza do homem, que é a corrupção.

As grandes mudanças planetárias, ocorridas nos últimos cinco anos, foram feitas pelas massas, mormente no Leste europeu. Foi a população checa, por exemplo, que protagonizou a chamada "Revolução de Veludo", que redundou no fim do comunismo na antiga Checoslováquia.

Nenhum líder se sobressaiu nesse movimento espontâneo, nesse basta dado pelos cidadãos aos desmandos de burocratas tapados e corruptos, que em nome de uma ideologia, sufocavam toda uma nação.

A mesma coisa verificou-se em relação à reunificação das duas Alemanhas, que apenas saiu do papel depois que milhares de então alemães orientais promoveram um êxodo em massa, tomando de assalto as embaixadas da ex-RFA em Budapeste, Viena, Varsóvia e outras capitais européias.

Quando os políticos assumiram as rédeas dos acontecimentos, os fatos já estavam consumados. O patético Muro de Berlim estava no chão, sendo "loteado" para servir de "souvenir" de um período absurdo e maluco, que um dia certamente nossos netos irão encarar com uma acentuada dose de ironia.

No Brasil, a despeito da crise (ou provavelmente em decorrência dela), os cidadãos começam a resgatar os valores éticos, perdidos em algum ponto do tempo. Nunca o comportamento do brasileiro foi tão analisado, estudado, criticado, virado no avesso (por ele próprio) quanto agora.

Nesse revisionismo, descambou-se, amiúde, para o exagero. Chegou-se a cair num profundo desalento nacional, uma espécie de fatalismo derrotista que, felizmente, está sendo superado.

É indispensável que o debate prossiga, mas que derive para o terreno prático, não se limitando às denúncias sobre corrupção, mas se cobrando a punição dos corruptos e a restauração da dignidade da atividade pública.

Um documento extraído da 31ª Conferência Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, intitulado "Promoção dos Valores Éticos", datado de 6 de maio passado, exprime com clareza o que os brasileiros conscientes querem e esperam de seus representantes.

Diz, em determinado trecho: "A vida política deve reencontrar sua dignidade na edificação da cidade humana, onde todos têm oportunidade de realização pessoal e de comunhão solidária.

Recupera-se o espírito público adotando estruturas e instituições adequadas, o que exige decisões políticas conseqüentes. Um primeiro passo se impõe: a correta relação entre o que é público e o que é particular. No entanto, a recuperação da política passa pela moralização dos políticos como 'verdadeiros homens de Estado' e não 'negociantes do poder', enredados em jogadas pessoais. Isto exige romper os laços entre política e negócios privados".

Esta é e deve ser a expectativa do brasileiro em relação ao atual e ao futuro presidente e ao Congresso de hoje e àquele que será eleito em 1994, sem tirar e nem pôr.


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1 de junho de 1993).



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