Renovação de mentalidade
Pedro
J. Bondaczuk
O
prestígio dos políticos, não apenas no Brasil, mas em todo o
mundo, jamais esteve em nível tão baixo, pelo menos neste século.
Prova disso são os índices de abstenção nas várias eleições
que se realizam pelo mundo afora, cada vez maiores e crescentes, em
especial nos países onde o voto é tido como direito democrático do
cidadão e não como uma obrigação.
Faltam
estadistas atualmente. Carece-se de líderes com carisma. com
grandeza, com competência para acumpliciar seus liderados na tarefa
de regenerar os costumes e vencer este fenômeno inerente à própria
natureza do homem, que é a corrupção.
As
grandes mudanças planetárias, ocorridas nos últimos cinco anos,
foram feitas pelas massas, mormente no Leste europeu. Foi a população
checa, por exemplo, que protagonizou a chamada "Revolução de
Veludo", que redundou no fim do comunismo na antiga
Checoslováquia.
Nenhum
líder se sobressaiu nesse movimento espontâneo, nesse basta dado
pelos cidadãos aos desmandos de burocratas tapados e corruptos, que
em nome de uma ideologia, sufocavam toda uma nação.
A
mesma coisa verificou-se em relação à reunificação das duas
Alemanhas, que apenas saiu do papel depois que milhares de então
alemães orientais promoveram um êxodo em massa, tomando de assalto
as embaixadas da ex-RFA em Budapeste, Viena, Varsóvia e outras
capitais européias.
Quando
os políticos assumiram as rédeas dos acontecimentos, os fatos já
estavam consumados. O patético Muro de Berlim estava no chão, sendo
"loteado" para servir de "souvenir" de um período
absurdo e maluco, que um dia certamente nossos netos irão encarar
com uma acentuada dose de ironia.
No Brasil,
a despeito da crise (ou provavelmente em decorrência dela), os
cidadãos começam a resgatar os valores éticos, perdidos em algum
ponto do tempo. Nunca o comportamento do brasileiro foi tão
analisado, estudado, criticado, virado no avesso (por ele próprio)
quanto agora.
Nesse
revisionismo, descambou-se, amiúde, para o exagero. Chegou-se a cair
num profundo desalento nacional, uma espécie de fatalismo derrotista
que, felizmente, está sendo superado.
É
indispensável que o debate prossiga, mas que derive para o terreno
prático, não se limitando às denúncias sobre corrupção, mas se
cobrando a punição dos corruptos e a restauração da dignidade da
atividade pública.
Um
documento extraído da 31ª Conferência Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, intitulado "Promoção dos
Valores Éticos", datado de 6 de maio passado, exprime com
clareza o que os brasileiros conscientes querem e esperam de seus
representantes.
Diz,
em determinado trecho: "A vida política deve reencontrar sua
dignidade na edificação da cidade humana, onde todos têm
oportunidade de realização pessoal e de comunhão solidária.
Recupera-se
o espírito público adotando estruturas e instituições adequadas,
o que exige decisões políticas conseqüentes. Um primeiro passo se
impõe: a correta relação entre o que é público e o que é
particular. No entanto, a recuperação da política passa pela
moralização dos políticos como 'verdadeiros homens de Estado' e
não 'negociantes do poder', enredados em jogadas pessoais. Isto
exige romper os laços entre política e negócios privados".
Esta
é e deve ser a expectativa do brasileiro em relação ao atual e ao
futuro presidente e ao Congresso de hoje e àquele que será eleito
em 1994, sem tirar e nem pôr.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1 de junho
de 1993).
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