A dança dos números
Pedro J. Bondaczuk
A mais recente pesquisa do
Instituto Vox Populi revela que o presidente Fernando Henrique
Cardoso teria "desempatado" o jogo eleitoral com seu
principal concorrente, Luís Inácio Lula da Silva, e reassumido as
preferências do eleitorado, no caminho da reeleição. Estaria agora
com 36 pontos, contra 29 do seu adversário petista.
Daqui até 4 de outubro
pode-se esperar essa espécie de "gangorra", ao sabor das
declarações desastradas, ou no mínimo inoportunas, de um ou outro
candidato. E pesquisa avalia "intenções", que podem ou
não se traduzir no ato de votar neste ou naquele postulante. Não
decidem eleições. Caso decidissem, seria inútil e desnecessário o
comparecimento dos eleitores às urnas.
A menos que algum dos
concorrentes cometa uma gafe monumental, o panorama, até 4 de
outubro, será este. Ora um estará na frente, ora será a vez do
outro e ora se registrará empate técnico. Tudo leva a crer que
haverá segundo turno e tentar apontar agora um vencedor é um
exercício inútil, senão irresponsável, de "futurologia".
Será eleito aquele que souber convencer melhor o eleitorado e que
fizer as melhores alianças.
A tarefa de Fernando Henrique,
o primeiro presidente a tentar uma reeleição em toda a história do
Brasil, é muito mais complicada do que pode parecer ou que certos
setores da mídia querem dar a entender. Pelo cargo que ocupa, por
mais que tente partir para a ofensiva, ele é a "vidraça"
e não a "pedra". Todo seu mandato estará em julgamento e
por mais governista que seja um eventual analista, não há como
negar falhas, omissões, gafes e sérios problemas nestes seus quatro
anos de gestão. Serão, certamente, explorados pela oposição
escândalos como o do Sivam, como o Proer, como as mortes de idosos
na Clínica Santa Genoveva do Rio ou dos pacientes de hemodiálise de
Caruaru, para citar apenas alguns. Pouco vai importar para o cidadão
comum se o governo tem ou não culpa nesses casos.
A estabilização da economia
--- conquista de todo o povo brasileiro, destaque-se --- já
não será o "cabo eleitoral" capaz de decidir a eleição
em favor de FHC. Estarão em julgamento, isto sim, o desemprego, a
falência nos setores de Saúde e Educação (embora determinados
setores da mídia dêem a entender que neste campo o País já se
aproxima do nível de excelência, o que é absurdo), da falta de
segurança, da inexistência de um programa coerente e funcional de
habitação, etc. etc. etc.
A propaganda dos cinco dedos
espalmados, que foram o símbolo das prioridades do candidato de
1994, se for utilizada, tenderá a espantar e não a arregimentar
eleitores. O governo fracassou em todos esses pontos. Não é
necessária qualquer pesquisa para medir o alto grau de
descontentamento do brasileiro com o presidente. Basta sair às ruas.
Ou acompanhar a seção de cartas dos jornais e revistas. Críticas e
condenações acumulam-se.
Isto quer dizer que Fernando
Henrique não será reeleito? Não! Amplos setores da sociedade
brasileira ainda "diabolizam" Lula e temem sua eventual
chegada ao poder. A reeleição, portanto, pode ocorrer
principalmente por causa desse fator. Mas se as taxas de desemprego
permanecerem nos intoleráveis patamares atuais (e não importam os
motivos), se o presidente continuar fazendo declarações infelizes
como aquela em que chamou de "vagabundos" os brasileiros
que se aposentam antes dos 50 anos e se a violência urbana não for
contida, com ou sem medo do candidato petista, FHC pode ter a pior
surpresa de sua carreira política.
(Texto escrito em 23 de junho
de 1998 e publicado como editorial na Folha do Taquaral)
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