Como
deveríamos ser
Pedro
J. Bondaczuk
O
amor transforma, como num passe de mágica, subitamente, se não
todos, pelo menos parte considerável dos nossos pensamentos,
sentimentos, projetos e ideais, e, principalmente, comportamentos,
sem que sequer nos apercebamos.
Faz,
por exemplo, do pessimista, um sujeito pródigo em otimismo; do
carrancudo, uma pessoa sorridente e alegre; do brusco, alguém que
sai por aí esbanjando cortesia e gentilezas etc.etc.etc. Refiro-me,
aqui, é bom que se explicite, a quem esteja, de fato apaixonado.
Não
entra, pois, nesse elenco de comportamentos, quem apenas sinta
atração sexual por alguma pessoa do sexo oposto. E nem o que julga
amar alguém, mas que, na verdade ame tão somente a si próprio. Ou
seja, o que entende que o outro tem que satisfazer, sempre, todos os
seus desejos e caprichos, sem que precise manifestar a mínima
reciprocidade.
Quando
amamos, o mundo parece se transformar. Representa, para nós, que
fica mais bonito, mais amável, menos árduo e mais encantador.
Coisas que quase nunca valorizávamos, antes de nos apaixonarmos,
passam a ter imenso valor.
Reparamos,
de repente, por exemplo, nos dias de sol, aqueles cálidos e
agradáveis de primavera ou de outono (que aqui na minha cidade
costumam ser os mais belos), com um céu azul e um perfume adocicado
e especial no ar. Valorizamos as noites estreladas, de céu limpo e
de um glorioso luar, notadamente quando estamos na companhia da
amada.
O
cenário, trivial, de crianças brincando, que sequer notávamos há
poucos dias, enche-nos, de repente, o coração de ternura e, não
raro nos leva às lágrimas, que tentamos disfarçar se formos do
tipo “durão” que entende que homem não chora. A maioria de nós,
convenhamos, é assim. Ao vê-las, ficamos logo imaginando como
seriam nossos filhos, gerados com amor infinito, por aquela pessoa
especial que nos “fisgou”.
Quando
estamos com a amada, então... Vivemos momentos de magia e
encantamento, que os mais refinados poetas tentam, há tempos, em
vão, descrever e dos quais nos dão, apenas, pálidas e incompletas
idéias, a despeito da sua competência e criatividade. Esses
instantes, porém, não são para serem descritos, mas usufruídos em
toda a sua plenitude e esplendor.
Mudamos,
subitamente, nossos hábitos (pelo menos, os piores). Se formos
relaxados, de uma hora para outra passamos a nos preocupar com
asseio, com aprumo, com os trajes que vestimos, com a limpeza e a
arrumação dos cabelos, com o brilho dos sapatos, com o hálito, com
tudo o que possa agradar e impressionar nossa musa. Policiamos o
nosso linguajar e nos preocupamos com cada um dos assuntos que formos
abordar, na tentativa de parecermos inteligentes, responsáveis e
sensíveis ao alvo da nossa paixão.
Nessas
ocasiões, nem adianta disfarçar, para os parentes e amigos, que
estamos apaixonados. O simples brilho dos nossos olhos denuncia essa
condição. E, claro, a súbita mudança do nosso comportamento
confirma esse estado peculiar. Até o mais tolo dos tolos, ou o mais
distraído dos nossos conhecidos, nota isso.
A
despeito de tudo, porém, há momentos de intenso sofrimento, que
chega a ser até físico, quando estamos perdidamente apaixonados.
São os que antecedem os encontros com o foco, o motivo, o alvo da
nossa paixão. As horas parecem se multiplicar, dá a impressão que
o tempo parou e a ansiedade se torna aguda, furiosa, insuportável e
nos causa profundo desconforto.
Subitamente...
eis que vemos a amada à distância, caminhando, sorridente, em nossa
direção. Um calorzinho gostoso percorre todo o nosso corpo. O
coração parece vir parar na boca, pulsando, intensamente. E, a
partir de então, não temos mais olhos para nada e ninguém.
Perdemos a noção de tempo e de espaço e nos sentimos, de corpo e
alma, no interior do Paraíso.
O
escritor russo, Anton Tchekov, fez pitoresca observação a respeito,
no seu livro “Apontamentos”, com a qual sou forçado a concordar.
Escreveu: “Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez
seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele
deveria ser sempre”.
Já
imaginaram se fôssemos sempre assim?!! E se “todos” fossem?!!
Certamente o mundo não seria tão violento, injusto e repleto de
violência, corrupção, taras, velhacarias, lágrimas e dor. Seria o
resgate permanente do bíblico Éden original. Quem sabe,
algum dia, não será?!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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