Seqüelas da Guerra Fria
Pedro J. Bondaczuk
A Guerra Fria, que sucedeu ao
grande conflito mundial de 1939 a 1945 (embora os presidentes George
Bush, dos Estados Unidos, e Mikhail Gorbachev, da União Soviética,
tenham assegurado, em dezembro de 1989, quanda da reunião de cúpula
realizada ao largo da ilha de Malta, no Mediterrâneo, que haja
chegado ao fim), deixou ainda alguma seqüela. Por haver sido um
confronto eminentemente ideológico, entre duas concepções
distintas de vida --- a capitalista e a dita socialista ---
arraigou-se profundamente na mente dos povos que seguiam tais
correntes. Gerou preconceitos bem mais fundos do que os raciais,
principalmente por causa do bombardeio publicitário a que as pessoas
de ambos os lados ficaram expostas durante mais de 40 anos. Portanto,
por mais que se admita que a Guerra Fria tenha acabado, o
comportamento típico que a caracterizou permanecerá vivo ainda por
muitos anos.
Isto se verifica,
principalmente, em relação aos movimentos de independência das
três Repúblicas bálticas. Amiúde, os noticiaristas e
comentaristas internacionais mencionam que a Lituânia, Letônia e
Estônia foram independentes até 1940, quando foram anexadas graças
ao pacto firmado pelos ditadores Adolf Hitler, nazista e o soviético
Joseph Stalin, conhecido como "Molotov-Ribentropp". Só que
omitem que esses três territórios tiveram um período de autonomia
curtíssimo, de 23 anos apenas. Não dizem, também, que essas
independências foram obtidas no final da Primeira Guerra Mundial,
quando o império russo era convulsionado pela Revolução
Bolchevique, tanto é que se retirou desse conflito de maneira
melancólica, com imensas perdas em vidas, terras e recursos. Não
mencionam, igualmente, que as atuais três Repúblicas bálticas eram
parte integrante da Rússia czarista há séculos. A meia-verdade é
bem pior do que a mentira completa.
Compreende-se o sentimento
autonomista de lituanos, letões e estonianos. Porém, é preciso ver
a questão com objetividade. Nos últimos 50 anos, Moscou fez
investimentos enormes na região. Ainda assim, se os três Estados
lograrem obter a independência, por razões até não-objetivas e
sobretudo passionais (o nacionalismo, autêntico anacronismo numa
época em que 12 países europeus ocidentais ensaiam uma fusão para
criar os Estados Unidos da Europa), estarão distantes, muito longe
da auto-suficiência. Ficarão sempre à mercê da caridade dos
superindustrializados (que são sete), vistos como uma espécie de
"grande papai" do mundo contemporâneo. Os movimentos de
independência do Báltico, portanto, pecam pela inoportunidade,
irrealismo e anti-historiecidade. Quem os apóia, quase que
certamente ainda está profundamente intoxicado pelos "vírus"
da Guerra Fria, pretensamente acabada.
(Artigo publicado na página
13, Internacional, do Correio Popular, em 16 de maio de 1990)
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