Paulistanos dão crédito à Nova República
Pedro J. Bondaczuk
A população
brasileira, aos poucos, vai recuperando o seu otimismo e passando a
acreditar na possibilidade da superação da nossa demorada,
desgastante e sumamente perigosa crise econômica. Aqui e ali
percebem-se sinais positivos de que os tempos da “vacas magras”
estão próximos do fim.
Uma
pesquisa, realizada pela empresa Rhodia S/A, e divulgada no dia 31
passado, reflete esses novos tempos. Ela foi levada a efeito na zona
metropolitana de São Paulo e seus resultados mostram que o
paulistano, tido e havido como incorrigível pessimista, tem
promissoras expectativas para 1986. Principalmente quanto ao
desemprego, em cuja queda está apostando. E, por conseqüência, na
melhoria de seus ganhos.
A
consulta foi feita mediante entrevista de 450 pessoas, de ambos os
sexos e de diversas faixas etárias e de renda. Quase metade dos
consultados, 46% deles, afirmam que a seu ver a situação brasileira
neste ano é muito melhor, 49% dizem que a sua posição individual
progrediu bastante e previram novas evoluções daqui por diante. Em
1984, esses resultados foram de 19% e 29%, respectivamente. Não há
que negar, portanto, que o brasileiro está mais otimista.
Alguns
resultados do desempenho econômico dos primeiros 180 dias do
corrente ano justificam esse crédito de confiança dado pela
população às autoridades da Nova República. Os lucros no comércio
aumentaram em 10% no período, reativando, posto que ainda
debilmente, o nível de emprego em alguns setores e fazendo com que o
País comece a despertar de uma prolongada letargia, ditada pela
“estagflação” que tomou conta da nossa economia, especialmente
de 1981 para cá.
Isso
não quer dizer, entretanto, que todas as nossas atribulações
desapareceram, como que por encanto. O governo está realizando
demoradas e perigosas negociações para reparcelar a exorbitante
dívida externa brasileira e jogando um braço-de-ferro decisivo com
o nosso avalista junto aos credores, o Fundo Monetário
Internacional, que deseja que o déficit público nacional seja
simplesmente extinto e não apenas diminuído.
Para
tanto, exige novos e mais profundos cortes nos investimentos das
estatais que, se realizados, comprometerão a ousada meta do
presidente José Sarney de conseguir um crescimento econômico anual
de 5 a 6% no Produto Interno Bruto.
A
tática das autoridades da área econômica, visivelmente, é a de
protelamento de qualquer acordo, visando a ganhar tempo e demonstrar
o acerto da nova política que vem sendo implantada. Se os resultados
no final do ano forem os que todos esperam, a sociedade poderá, aí
sim, respirar um pouco mais aliviada em 1986, e o otimismo
demonstrado pelos paulistanos, poderá ter plena justificativa.
Porém,
caso as coisas não corram da melhor maneira, e a nossa performance
econômica se revele decepcionante, o que virá depois será um
período de austeridade tão grande como raramente se viu. Será para
endoidar qualquer um. A pesquisa da Rhodia veio num momento bastante
oportuno, poucos dias depois da fala do presidente José Sarney à
Nação, na qual o condutor da Nova República esclareceu que não
tem qualquer vocação para ser um mero “síndico da catástrofe”.
E
revelou sua enorme confiança na força, na criatividade e no
trabalho de todos os brasileiros para a grande virada, para a
retomada plena do nosso desenvolvimento, sem falsas expectativas
triunfalistas, mas também sem histéricos pessimismos. E essa,
certamente, foi a resposta popular mais eloqüente à convocação
presidencial.
É
certo que ainda estamos muito distantes da situação ideal. Mas os
dados positivos, divulgados recentemente, dão conta de que a
sociedade está respondendo concretamente, com atos e com mais
produção, ao esforço das autoridades. A balança comercial, que
começou o ano com sintomas de queda, reagiu e caminha para fechar
dezembro com um saldo favorável muito parecido com o do ano passado,
se prevendo que atinja pouco mais de US$ 12 bilhões.
O
mercado interno está mais ativo e as empresas já começam mesmo a
falar em novos investimentos (coisa com a qual já tínhamos nos
desacostumado), tendentes à geração de muitos outros empregos. E a
inflação foi contida em sua sanha de voracidade. Tudo leva a crer,
portanto, que a “sinistrose” que atacou o País está em franca
regressão. Agora, o que temos que fazer é trabalhar. Trabalhar e
confiar, pois só com muito trabalho, com muita responsabilidade e
com muita confiança conseguiremos construir esse Brasil melhor que
estamos devendo para os nossos filhos.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de agosto
de 1985).
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