Sunday, May 21, 2017

Comunicação exige bom-senso



Pedro J. Bondaczuk


O profissional de comunicação, seja qual for a área em que atue, tem um compromisso e uma responsabilidade muito grandes para com o público que pretende atingir. O compromisso é o de adotar postura voltada para a prestação de serviços à comunidade, esclarecendo-a, orientando-a e atuando como o seu porta-voz. A responsabilidade, por sua vez, decorre exatamente do item anterior.

Quanto maior for a amplitude do meio que o comunicador utilizar, mais responsável ele terá que ser quanto ao que disser ou que escrever. Precisará, claro, ter muito critério e muita competência sempre. Deverá ser guiado por um elenco de pressupostos que vão desde o interesse à qualidade do que veicula; da técnica usada à utilidade da comunicação, passando, por aí, o bom gosto, a inteligência e outras coisas mais, que o jornalista e/ou o radialista conhecem, ou deveriam conhecer de sobejo.

Quem não aceitar isso, espontaneamente, sem imposição ou pressões, estará, evidentemente, em profissão errada. A mensagem que o profissional de comunicação passar, embora possa ser endereçada a um determinado público, bastante específico, terá influências as mais variadas sobre tantas outras faixas da população. Tem que atentar, sempre, para o que, como, com que objetivo e a quem comunicar.

Um comunicador irresponsável pode, até mesmo, provocar sublevação popular, de conseqüências imprevisíveis, sem que sequer se dê conta e mesmo que não seja essa a sua intenção (quase nunca é). Veja-se, por exemplo, o que ocorreu há algum tempo nos países muçulmanos em decorrência da publicação, por parte de um jornal dinamarquês, da caricatura do profeta Maomé.

Que benefício, e a quem, essa divulgação (no fundo, no fundo, preconceituosa) trouxe? Qual a necessidade de se mexer com as crenças e convicções alheias, mesmo as que consideremos ridículas e frutos do atraso (não é o caso), utilizando, como pretexto, o direito da liberdade de expressão? Convém ressaltar e sempre reiterar que um comunicador tem a possibilidade concreta de influenciar idéias, costumes, comportamentos e ações em uma sociedade. Quanto mais liberdade tiver, portanto, maior será, em contrapartida, a sua responsabilidade.

Estas considerações vêm a propósito do desvirtuamento que se vem fazendo, em determinados canais de televisão (e isso não é de hoje) e em alguns horários nem sempre apropriados, da arte do erotismo. Seu limite, em relação à pornografia, é sutil, sutilíssimo e nem todos os expectadores têm critério ou maturidade suficientes para fazer a distinção.

Não defendo, evidentemente, nenhum tipo de censura. A própria Constituição brasileira a proíbe. O que é necessário é que o próprio comunicador, autor de novela, roteirista de filme ou mesmo escritor de romances tenha autocrítica. Que pergunte, a si mesmo, se tem algo inteligente, proveitoso, interessante e construtivo a dizer (ou a escrever, claro). Se a resposta for positiva, que o diga. Caso contrário...

Para se destruir algo ou alguém, seja lá o que ou quem for, não é preciso ser criativo, dispor de muita técnica ou ter um pouquinho a mais de massa cinzenta que os mortais comuns. Construir, porém, é tarefa de gigantes, de pessoas especiais, talentosas e de grande visão. Será que é válido, por uma certa importância em dinheiro (e não importa quanto), um intelectual se expor ao ridículo e alterar (para pior) o comportamento de pessoas mais simples e menos dotadas de capacidade de análise?

A pornografia barata apenas alimenta uma tara, uma doença comportamental, e nada acrescenta a quem quer que seja. Há, evidentemente, quem goste dela. Essas pessoas estão no seu direito – afinal, como preceitua a doutrina, nem tudo o que é legal é moral e vice-versa – mas elas que procurem veículos adequados para satisfazer sua compulsão: um pornoshop, por exemplo, ou fitas de vídeo (que existem, por aí, em profusão) ou outro meio que não seja de livre acesso ao público, em especial às crianças.

Há, infelizmente, hoje em dia, toda uma indústria voltada à pornografia. Exibir bobagens publicamente, todavia, sob o rótulo de arte, é, antes de tudo, uma fraude. E das mais grotescas e grosseiras. Trata-se de enorme tapeação a quem espera do comunicador mensagens criativas, originais e, sobretudo, construtivas. Além, é claro, de informações precisas, exatas e isentas, pressupostos básicos de um jornalismo que se preza.


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