Thursday, May 11, 2017

Política industrial


Pedro J. Bondaczuk


O País requer, entre tantas mudanças que se fazem necessárias para a retomada do desenvolvimento econômico com justiça social, o estabelecimento de uma política industrial coerente, medida que há muito se impõe, mas que agora se torna premente.

Durante o Plano Cruzado (fevereiro de 1986) e agora, com o Real, ficou patenteado que nosso parque produtivo, a despeito de contar com alta capacidade ociosa e razoável estágio tecnológico, não tem condições de defender, com a presteza que se faz necessária, a eventuais aumentos de demanda, ditados mesmo que por discretíssimos aumentos do poder aquisitivo da população.

Basta que as vendas tenham ligeiro aquecimento para que essa vulnerabilidade venha à tona, mediante a cobrança de ágio nos produtos mais procurados e conseqüente aumento da inflação.

O País precisa definir o quê, como, para qual finalidade e quanto produzir; se para atender o mercado interno ou o externo ou ambos; sob quais condições; a que custo, etc. Sem isto, os brasileiros continuarão inseguros acerca da eficácia de qualquer estratégia de combate inflacionário, por mais perfeita que seja do ponto de vista técnico-econômico e por mais palatável que se revele no aspecto político. Estarão a mercê de incertezas e oscilações conjunturais, dependentes de "soluções" de algibeira, muitas vezes irracionais.

A propósito dessa necessidade, ressaltamos o lançamento, por parte da Editora Papirus, em conjunto com a Editora da Unicamp, do livro "Estudo ca Competitividade da Indústria Brasileira", coordenado pelos professores Luciano Coutinho e João Carlos Ferraz, que ocorre, oficialmente, na próxima quarta-feira, no Instituto de Economia da Universidade de Campinas.

Trata-se do mais completo diagnóstico já feito do setor industrial do País. Tendo por universo de pesquisa 1.500 empresas, as mais representativas de diversos ramos, a obra identifica problemas, sugere soluções e sobretudo aponta caminhos.

A óptica utilizada é a da competitividade, palavrinha-chave que determina, nos tempos atuais, o sucesso ou o fracasso de qualquer empreendimento, tendo em conta a abertura mundial de mercados que se esboça após a assinatura, em abril passado, em Marrakesh (Marrocos), do tratado Rodada Uruguai, do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt). A era do protecionismo, dos privilégios concedidos por governos e dos subsídios estatais passou.

Quem não tiver cacife para competir está, com certeza, com os dias contados. E o estudo tem, sobretudo, o mérito de servir de ponto de partida --- por apresentar conclusões e recomendações setoriais e globais --- para a criação da tão sonhada, e sempre protelada, política industrial do País.

Competir, com qualidade, eficiência e preço, é a nova palavra de ordem mundial. E o Brasil não pode ficar à margem desse processo, sob pena de ter que se conformar com um papel secundário --- não condizente com a sua importância --- na nova ordem internacional que se esboça.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de setembro de 1994).



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