Política industrial
Pedro J. Bondaczuk
O País requer, entre tantas
mudanças que se fazem necessárias para a retomada do
desenvolvimento econômico com justiça social, o estabelecimento de
uma política industrial coerente, medida que há muito se impõe,
mas que agora se torna premente.
Durante o Plano Cruzado
(fevereiro de 1986) e agora, com o Real, ficou patenteado que nosso
parque produtivo, a despeito de contar com alta capacidade ociosa e
razoável estágio tecnológico, não tem condições de defender,
com a presteza que se faz necessária, a eventuais aumentos de
demanda, ditados mesmo que por discretíssimos aumentos do poder
aquisitivo da população.
Basta que as vendas tenham
ligeiro aquecimento para que essa vulnerabilidade venha à tona,
mediante a cobrança de ágio nos produtos mais procurados e
conseqüente aumento da inflação.
O País precisa definir o quê,
como, para qual finalidade e quanto produzir; se para atender o
mercado interno ou o externo ou ambos; sob quais condições; a que
custo, etc. Sem isto, os brasileiros continuarão inseguros acerca da
eficácia de qualquer estratégia de combate inflacionário, por mais
perfeita que seja do ponto de vista técnico-econômico e por mais
palatável que se revele no aspecto político. Estarão a mercê de
incertezas e oscilações conjunturais, dependentes de "soluções"
de algibeira, muitas vezes irracionais.
A propósito dessa
necessidade, ressaltamos o lançamento, por parte da Editora Papirus,
em conjunto com a Editora da Unicamp, do livro "Estudo ca
Competitividade da Indústria Brasileira", coordenado pelos
professores Luciano Coutinho e João Carlos Ferraz, que ocorre,
oficialmente, na próxima quarta-feira, no Instituto de Economia da
Universidade de Campinas.
Trata-se do mais completo
diagnóstico já feito do setor industrial do País. Tendo por
universo de pesquisa 1.500 empresas, as mais representativas de
diversos ramos, a obra identifica problemas, sugere soluções e
sobretudo aponta caminhos.
A óptica utilizada é a da
competitividade, palavrinha-chave que determina, nos tempos atuais, o
sucesso ou o fracasso de qualquer empreendimento, tendo em conta a
abertura mundial de mercados que se esboça após a assinatura, em
abril passado, em Marrakesh (Marrocos), do tratado Rodada Uruguai, do
Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt). A era do protecionismo,
dos privilégios concedidos por governos e dos subsídios estatais
passou.
Quem não tiver cacife para
competir está, com certeza, com os dias contados. E o estudo tem,
sobretudo, o mérito de servir de ponto de partida --- por apresentar
conclusões e recomendações setoriais e globais --- para a criação
da tão sonhada, e sempre protelada, política industrial do País.
Competir, com qualidade,
eficiência e preço, é a nova palavra de ordem mundial. E o Brasil
não pode ficar à margem desse processo, sob pena de ter que se
conformar com um papel secundário --- não condizente com a sua
importância --- na nova ordem internacional que se esboça.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de setembro de 1994).
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