Hora de acreditar
Pedro J. Bondaczuk
A classe empresarial tem um
desafio importante diante de si: desengavetar projetos, há muito
arquivados em virtude de clareza nas regras econômicas, e apostar na
retomada do crescimento. É verdade que as taxas de inflação são
assustadoras, estabilizadas, agora, num novo patamar: no de 30%
mensais.
Todavia, o plano de
estabilização, anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando
Henrique Cardoso, embora de efeito lento, tem tudo para trazer os
índices inflacionários para baixo, na pio das hipóteses, até
dezembro. São medidas claras, consistentes, que objetivam cortar
despesas do governo e que, tecnicamente, são absolutamente corretas.
É preciso que a bolha de
consumo que se verificou em março e abril passados não se restrinja
apenas a um fenômeno passageiro. Para tanto, faz-se necessária a
retomada plena da atividade, com o aumento da produção e,
conseqüentemente, com a reabsorção do enorme contingente de
desempregados e a recomposição do poder de compra da população.
Em algum ponto, o
círculo-vicioso da recessão precisa ser rompido. Um país como o
Brasil não pode ficar paralisado por tanto tempo, à mercê de
planos mirabolantes e medidas “salvadoras”, que na verdade apenas
conseguiram desorganizar uma economia que é a nona maior do mundo,
de acordo com recentes estatísticas do Fundo Monetário
Internacional. Mas para que esse crescimento ocorra, é indispensável
que haja segurança dos agentes econômicos de que as regras do jogo
não serão mais alterados.
O combate consistente à
inflação deve ocorrer em duas frentes. Uma é a governamental, com
as restrições dos gastos públicos ao limite exato do que o Estado
arrecada. A outra, é na ponta da produção, impedindo que uma
demanda por produtos maior do que a oferta pressione os preços para
cima.
Produzindo-se mais, haverá
absorção de mão-de-obra, ampliando a massa salarial e expandindo o
mercado interno. A arrecadação, por conseqüência, terá, também,
crescimento, resolvendo os problemas de caixa do governo sem a
necessidade de criação de novos impostos, com a possibilidade, até,
de cortar alguns deles, como o ex-presidente norte-americano Ronald
Reagan fez durante a sua gestão.
Isto é o que o deputado José
Serra denomina de “círculo-virtuoso” do desenvolvimento, que
deve ser contraposto ao círculo-vicioso que lança o País na
miserabilidade. O atual período recessivo que, a rigor, está
completando 14 anos, apenas redundou na chamada “estagflação”.
Ou seja, estagnação econômica com inflação elevada.
O Brasil, agora, tem uma
oportunidade que talvez não se repita mais para sair da crise. As
empresas racionalizaram os seus custos e investem, cada vez mais, em
qualidade e produtividade.
O governo, por seu turno,
conta com um ministro da Fazenda que, pelo menos até aqui, goza da
confiança geral da sociedade e tenta restaurar sua credibilidade,
fator indispensável para que as medidas programadas conquistem apoio
e dêem os resultados esperados.
A imprensa está cada vez mais
atenta para denunciá-los pelos atos de corrupção que contribuíram
para tirar o Estado dos trilhos e jogar o País na atual situação.
E os brasileiros não suportam mais esse acelerado retrocesso que, ao
invés de nos possibilitar um avanço rumo ao Primeiro Mundo, ameaça
nos jogar no miserável Quarto Mundo. É hora, portanto, de
acreditar, de investir e de trabalhar.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Jornal da Acic, em julho de 1993)
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