Friday, May 05, 2017

Hora de acreditar



Pedro J. Bondaczuk


A classe empresarial tem um desafio importante diante de si: desengavetar projetos, há muito arquivados em virtude de clareza nas regras econômicas, e apostar na retomada do crescimento. É verdade que as taxas de inflação são assustadoras, estabilizadas, agora, num novo patamar: no de 30% mensais.

Todavia, o plano de estabilização, anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, embora de efeito lento, tem tudo para trazer os índices inflacionários para baixo, na pio das hipóteses, até dezembro. São medidas claras, consistentes, que objetivam cortar despesas do governo e que, tecnicamente, são absolutamente corretas.

É preciso que a bolha de consumo que se verificou em março e abril passados não se restrinja apenas a um fenômeno passageiro. Para tanto, faz-se necessária a retomada plena da atividade, com o aumento da produção e, conseqüentemente, com a reabsorção do enorme contingente de desempregados e a recomposição do poder de compra da população.

Em algum ponto, o círculo-vicioso da recessão precisa ser rompido. Um país como o Brasil não pode ficar paralisado por tanto tempo, à mercê de planos mirabolantes e medidas “salvadoras”, que na verdade apenas conseguiram desorganizar uma economia que é a nona maior do mundo, de acordo com recentes estatísticas do Fundo Monetário Internacional. Mas para que esse crescimento ocorra, é indispensável que haja segurança dos agentes econômicos de que as regras do jogo não serão mais alterados.

O combate consistente à inflação deve ocorrer em duas frentes. Uma é a governamental, com as restrições dos gastos públicos ao limite exato do que o Estado arrecada. A outra, é na ponta da produção, impedindo que uma demanda por produtos maior do que a oferta pressione os preços para cima.

Produzindo-se mais, haverá absorção de mão-de-obra, ampliando a massa salarial e expandindo o mercado interno. A arrecadação, por conseqüência, terá, também, crescimento, resolvendo os problemas de caixa do governo sem a necessidade de criação de novos impostos, com a possibilidade, até, de cortar alguns deles, como o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan fez durante a sua gestão.

Isto é o que o deputado José Serra denomina de “círculo-virtuoso” do desenvolvimento, que deve ser contraposto ao círculo-vicioso que lança o País na miserabilidade. O atual período recessivo que, a rigor, está completando 14 anos, apenas redundou na chamada “estagflação”. Ou seja, estagnação econômica com inflação elevada.

O Brasil, agora, tem uma oportunidade que talvez não se repita mais para sair da crise. As empresas racionalizaram os seus custos e investem, cada vez mais, em qualidade e produtividade.

O governo, por seu turno, conta com um ministro da Fazenda que, pelo menos até aqui, goza da confiança geral da sociedade e tenta restaurar sua credibilidade, fator indispensável para que as medidas programadas conquistem apoio e dêem os resultados esperados.

A imprensa está cada vez mais atenta para denunciá-los pelos atos de corrupção que contribuíram para tirar o Estado dos trilhos e jogar o País na atual situação. E os brasileiros não suportam mais esse acelerado retrocesso que, ao invés de nos possibilitar um avanço rumo ao Primeiro Mundo, ameaça nos jogar no miserável Quarto Mundo. É hora, portanto, de acreditar, de investir e de trabalhar.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Jornal da Acic, em julho de 1993)



Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: