Postura de estadista
Pedro J. Bondaczuk
A
entrevista dada pelo senador Fernando Henrique Cardoso, na
Quinta-feira, já na qualidade de virtual presidente eleito,
repercutiu favoravelmente, no País e no Exterior. Suas respostas às
várias questões levantadas pelos jornalistas foram precisas, claras
e sobretudo seguras.
Resta,
agora, transformar as palavras em ações. Passar da teoria à
prática. Agir tão bem quanto fala. Até porque, sua
responsabilidade será maior do que a de seus antecessores. Entre
tantos atos que precisará praticar, para fazer um bom governo, a
sustentação do Plano Real, para que de fato seja aquele programa
final e definitivo que livre o Brasil de uma vez por todas da
inflação, é fundamental.
Afinal,
o político do PSDB foi eleito, sem sombra de dúvida, em função do
aparente sucesso da estabilização econômica. Quaisquer acidentes
de percurso ou eventuais “cataclismos” na economia brasileira,
que redundem em taxas inflacionárias absurdas (como ocorreu nos
últimos anos), ou que reativem o desemprego em massa, com o
conseqüente agravamento do caos social, da marginalidade e da
violência, serão cobrados do futuro presidente com muito mais rigor
do que as cobranças feitas aos que o antecederam.
Fernando
Henrique Cardoso conseguiu a maior soma de votos em toda a história
do País. Superou sete concorrentes e ganhou a disputa logo no
primeiro turno. Recebeu, portanto, inequívoca manifestação de
confiança dos brasileiros, de todas as faixas de renda, ideologias e
classes.
Caso
o Real “naufrague”, por fatores imprevisíveis, ninguém levará
a imprevisibilidade em conta. Todos irão rotular o plano de
“estelionato eleitoral”. Por conseqüência, vão classificar o
senador de oportunista. E sua credibilidade será zerada. A
entrevista coletiva da Quinta-feira, porém, mostrou que o presidente
eleito está consciente disso.
Não
se discute o seu preparo intelectual e muito menos se contesta sua
competência. O que se espera de FHC é um estilo dinâmico, honesto,
moderno, justo e sobretudo, seguro, de governar. Pretende-se que seja
um magistrado. A expectativa é a de que, depois de muitos anos de
governos medíocres, o País tenha escolhido, finalmente, um
estadista.
Um
ponto a favor de Fernando Henrique foi a sua promessa de que formará
sua equipe em função de políticas e não de políticos. Que assim
o seja. Chega de conchavos, negociatas e fisiologismos. Basta de
loteamentos do poder!
A
impressão que o presidente eleito nos passa é de um emérito
articulador, de um negociador tão hábil quanto foi o saudoso
Tancredo Neves. O Brasil, neste momento, precisa de alguém que saiba
somar, e não dividir, em termos políticos.
E,
em economia, que aja de forma exatamente inversa. Ou seja, que divida
com sabedoria e justiça o “bolo” da riqueza nacional, acabando
com a fome e com o nosso “apartheid”, com a exclusão social. Sua
busca por apoio de todos os partidos, na tentativa de conseguir o tão
sonhado acordo nacional, tantas vezes tentado e sempre frustrado,
enchem de esperanças os que entendem que finalmente chegou a “hora
da grande virada” para todos os brasileiros. Que assim seja!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de outubro
de 1994).
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