Monday, May 15, 2017

Postura de estadista



Pedro J. Bondaczuk



A entrevista dada pelo senador Fernando Henrique Cardoso, na Quinta-feira, já na qualidade de virtual presidente eleito, repercutiu favoravelmente, no País e no Exterior. Suas respostas às várias questões levantadas pelos jornalistas foram precisas, claras e sobretudo seguras.

Resta, agora, transformar as palavras em ações. Passar da teoria à prática. Agir tão bem quanto fala. Até porque, sua responsabilidade será maior do que a de seus antecessores. Entre tantos atos que precisará praticar, para fazer um bom governo, a sustentação do Plano Real, para que de fato seja aquele programa final e definitivo que livre o Brasil de uma vez por todas da inflação, é fundamental.

Afinal, o político do PSDB foi eleito, sem sombra de dúvida, em função do aparente sucesso da estabilização econômica. Quaisquer acidentes de percurso ou eventuais “cataclismos” na economia brasileira, que redundem em taxas inflacionárias absurdas (como ocorreu nos últimos anos), ou que reativem o desemprego em massa, com o conseqüente agravamento do caos social, da marginalidade e da violência, serão cobrados do futuro presidente com muito mais rigor do que as cobranças feitas aos que o antecederam.

Fernando Henrique Cardoso conseguiu a maior soma de votos em toda a história do País. Superou sete concorrentes e ganhou a disputa logo no primeiro turno. Recebeu, portanto, inequívoca manifestação de confiança dos brasileiros, de todas as faixas de renda, ideologias e classes.

Caso o Real “naufrague”, por fatores imprevisíveis, ninguém levará a imprevisibilidade em conta. Todos irão rotular o plano de “estelionato eleitoral”. Por conseqüência, vão classificar o senador de oportunista. E sua credibilidade será zerada. A entrevista coletiva da Quinta-feira, porém, mostrou que o presidente eleito está consciente disso.

Não se discute o seu preparo intelectual e muito menos se contesta sua competência. O que se espera de FHC é um estilo dinâmico, honesto, moderno, justo e sobretudo, seguro, de governar. Pretende-se que seja um magistrado. A expectativa é a de que, depois de muitos anos de governos medíocres, o País tenha escolhido, finalmente, um estadista.

Um ponto a favor de Fernando Henrique foi a sua promessa de que formará sua equipe em função de políticas e não de políticos. Que assim o seja. Chega de conchavos, negociatas e fisiologismos. Basta de loteamentos do poder!

A impressão que o presidente eleito nos passa é de um emérito articulador, de um negociador tão hábil quanto foi o saudoso Tancredo Neves. O Brasil, neste momento, precisa de alguém que saiba somar, e não dividir, em termos políticos.

E, em economia, que aja de forma exatamente inversa. Ou seja, que divida com sabedoria e justiça o “bolo” da riqueza nacional, acabando com a fome e com o nosso “apartheid”, com a exclusão social. Sua busca por apoio de todos os partidos, na tentativa de conseguir o tão sonhado acordo nacional, tantas vezes tentado e sempre frustrado, enchem de esperanças os que entendem que finalmente chegou a “hora da grande virada” para todos os brasileiros. Que assim seja!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de outubro de 1994).

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