Federação apenas de fachada
Pedro J. Bondaczuk
O princípio de federação,
no Brasil, consagrado em todas as Constituições que o País já
teve, na prática é somente nominal, de fachada. Os Estados sempre
dependeram do poder central nas principais determinações, em
especial as de caráter econômico.
Alguns deles que, em
determinado período, sejam governados por políticos não muito
simpáticos ao ocupante do Palácio do Planalto, acabam por ser
vítimas de boicotes, enfaticamente negados, em termos de
investimentos, com o seu desenvolvimento ficando seriamente
comprometido.
Foi o que aconteceu com o Rio
de Janeiro, após a fusão com a Guanabara, ao longo de toda a década
passada. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
acaba de divulgar pesquisa dando conta que os fluminenses estão,
agora, 16% mais pobres do que em 1980.
Enquanto no correr dos anos
80, que por sinal foram uma das piores épocas da nossa história, o
Produto Interno Bruto brasileiro cresceu 22,1%, numa média inferior
ao crescimento vegetativo da população, o PIB desse Estado aumentou
irrisório 1,27%. Ou seja, o número de “convidados” não parou
de aumentar, mas o bolo praticamente ficou do mesmo tamanho.
Nessas circunstâncias, o
pedaço que passou a caber a cada um somente tinha que minguar. Esse
fenômeno, certamente, explica em muito a evolução da violência no
Rio de Janeiro, que adquire proporções de autêntica calamidade.
São Paulo não tem sido
melhor aquinhoado em termos de investimentos federais. Ocorre que a
riqueza aqui gerada é tão grande, que mesmo contando com as sobras
daquilo que mandam para sustentar o restante do País, ou seja, uma
importância muitíssimo inferior à que arrecadam e repassam, a
posição dos paulistas é, senão de tranqüilidade, pelo menos mais
privilegiada em relação aos demais brasileiros.
Enquanto a renda per capita
nacional, a despeito dos vários tropeços, planos econômicos e
trapalhadas dos tecnocratas, cresceu 1% de 1980 a 1989, a fluminense
recuou 16%. Daí a favelização crescente das grandes cidades desse
Estado, caldo de cultura para a degradação social e a evolução da
criminalidade, filha da marginalidade.
Os dados, por si sós, mostram
com clareza que o Rio de Janeiro atual precisa muito mais de
investimentos em moradias, escolas, indústrias e em atividades que
absorvam mão-de-obra, do que em imensos aparatos policiais, que
somente buscam remediar um mal (através de uma terapia nem sempre a
melhor indicada), em vez de promover sua prevenção. E já se
transformou até em chavão, de tão óbvio que é, o ditado que diz
que “prevenir é melhor do que remediar”.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de agosto de 1990)
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