Um gigante físico e
intelectual
Pedro
J. Bondaczuk
O filósofo grego,
Platão, “deve” ter sido um sujeito formidável (e não me refiro, sequer, à sua
notória condição de sábio, o que é inquestionável, mas à sua pessoa, ao
indivíduo, ao cidadão). E por que me refiro utilizando o verbo “dever” no
sentido de possibilidade e não de certeza? Porque tudo o que conhecemos dele é
através de terceiros. São inúmeros os seus biógrafos. Mas as tantas biografias
que temos dele divergem em quase tudo: na data e local de seu nascimento, em
quando e como ocorreu sua morte e em tantos e tantos outros dados pessoais que,
todavia, considero sem importância. O importante é que a obra de Platão
atravessou o tempo e nos chegou quase intacta, cerca de 2.400 anos após ser
produzida, o que não deixa de ser notável e que pode ser considerado, até, sem
nenhum exagero, como um “milagre”. Ainda bem que chegou até nós. .
Caso houvesse a tal
“máquina do tempo” (que só “existe” na ficção científica, por ser teoricamente
possível, contudo apenas no terreno da fantasia, e que na prática é rigorosamente
inviável, se não absurda) que nos permitisse viajar ao passado, “vivê-lo” mesmo
que temporariamente e regressar à nossa época, esse gênio, esse gigante da
espécie, esse fenômeno intelectual seria, sem dúvida, um dos personagens que eu
mais gostaria de conhecer pessoalmente. Teria tanta coisa a conversar com ele!
E mais, como jornalista que sou, certamente o entrevistaria, em uma
extensíssima e detalhada entrevista, para esclarecer determinados aspectos do
seu pensamento que não consigo (ainda) compreender. Tenho, até, enorme lista,
com centenas de perguntas que lhe faria, buscando arrancar dele toda informação
que me fosse possível. Mas...
Seu nome, aliás, a se
acreditar em seus principais biógrafos, nem mesmo era Platão. Era Aristocles
(como o de seu avô). A forma como ficou conhecido entre seus contemporâneos (e
principalmente, pela posteridade) era um apelido, que o filósofo adotou como
pseudônimo e com ele se consagrou. Foi apelidado assim por causa da sua grande
estatura e da sua enorme cabeça (pudera!). A palavra grega “platão” pode ser
traduzida como “grande”, “amplo”, “largo”, “avantajado”. Nos dias de hoje, ele
seria, possivelmente, apelidado de Gigante, ou de Montanha, ou de Cabeçudo, ou
então de Cabeção. Há divergências, entre seus biógrafos, quanto à data do seu
nascimento. Uns dizem que nasceu em 428 a.C, outros que em 424, outros, ainda,
que teria ocorrido em 425.
O próprio Platão,
todavia, observou, na “Sétima Carta”, que seu nascimento coincidiu com a tomada
do poder, em Atenas, pelos Trinta Tiranos. Dessa forma, teria nascido em 423
a.C. Será? Tentar determinar datas exatas, por sinal, quando se trata de fatos
e pessoas de tempos tão remotos é, no meu entender – como tenho enfatizado e
reiterado – praticamente impossível. Afinal, foram tantos os calendários
adotados por vários povos e em várias épocas, que, compatibilizá-los com o
atual, o Gregoriano, é uma ficção. Antes desse nosso ser oficializado, em 24 de
fevereiro de 1582, pelo papa Gregório XIII, houve cálculos, estudos, debates,
brigas até, sem que se chegasse a algum consenso. Por isso, não levo a sério as
datas historicamente citadas que sejam anteriores ao século XVI, embora
cite-as, mencionando as respectivas fontes. Nesses casos, imito Pilatos: lavo
as mãos.
A mesma controvérsia se
repete em relação à época da morte de Platão. Nesse caso, fico (e apenas por
“intuição”) com a informação de seu biógrafo Neantes, que escreveu que o
filósofo morreu em 327 a.C, aos 84 anos de idade. A ser verdade, fazendo
simples operação aritmética, é possível concluir que ele teria nascido de fato
em 411 a.C. Nesse caso, “vendo o peixe pelo tanto que comprei”. O que importa,
porém, não é nada disso, mas o que esse gigante (fisicamente e, sobretudo,
intelectualmente) fez. Sem mencionar sua vasta obra, de mais de três dezenas de
livros (cuja análise me proponho a fazer oportunamente), destaco que
Platão foi o criador da primeira
universidade do mundo ocidental, que foi a celebrada Academia de Atenas. Essa
instituição, à qual se deve o fundamento filosófico do Ocidente, durou nove
séculos, novecentos anos!!! Foi destruída, somente no século VI d.C., pelo
imperador bizantino, Justiniano I.
É forçoso reconhecer
que sem ele, sem o seu mestre Sócrates (de quem foi aluno por oito anos e do
qual se tornou o principal porta-voz) e sem seu não menos ilustre pupilo,
Aristóteles, provavelmente o mundo, hoje, seria muito diferente, e para pior.
Do pensamento desse trio (e de mais um ou outro pensador, não tão célebre)
construiu-se o alicerce da ciência contemporânea, como a conhecemos hoje, com
todas suas maravilhas tecnológicas, além, claro, da filosofia ocidental.
Educador por excelência, foi um dos primeiros a defender a igualdade de
direitos e deveres entre homens e mulheres. Por tudo o que fez e pelo que foi,
portanto, seu apelido, Platão, cabe-lhe justinho, como uma luva. Ele foi, de
fato, um gigante, não apenas físico (posto que também nesse aspecto), mas,
sobretudo, no intelecto, na genialidade, na capacidade de criar. Que sujeito
boa praça esse grandão deve ter sido!!!!
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