Desafio
da Esfinge
Pedro J. Bondaczuk
Os tempos atuais caracterizam-se pela angústia, pela
violência, pela incerteza quanto ao futuro e por um profundo abismo que separa
uma inexpressiva minoria, que tudo pode e tudo tem e que detém, virtualmente,
todos os bens e recursos do Planeta, e uma imensa maioria, excluída, segregada,
vítima do “apartheid” social, que vegeta nos limites ou nas profundezas da
miséria.
A humanidade confronta-se com
aguda e generalizada crise, de múltiplas facetas, certamente a mais grave da
História, desde que o homem surgiu na face Terra. De como vai equacioná-la (se
é que vai), dependerá a sobrevivência ou não da espécie, seriamente ameaçada de
extinção por uma série de perigos, dos quais os mais iminentes e assustadores
são as profundas mudanças climáticas (provavelmente irreversíveis) que ocorrem
no mundo e a eventual utilização das armas nucleares.
Enquanto isso, a população
continua a se multiplicar, como metástase de um tumor maligno, acelerando, mais
e mais, a depredação ambiental e agravando problemas, já por si sós graves, dos
quais o maior de todos é o de como alimentar tantas bocas. Crescentes extensões
do solo, outrora cobertas por florestas, vêm sendo utilizadas, sem planejamento
e sem critério, comprometendo nascentes dos rios e aquecendo cada vez mais o
clima terrestre. Por enquanto, a agricultura vem dando conta da produção de
alimentos mais do que suficientes para o contingente atual de pessoas. Mas até
quando isso vai continuar?
Milhões, bilhões de hectares de
terra, outrora férteis, se esgotam rapidamente e exigem crescentes quantidades
de produtos químicos, ou seja, de fertilizantes, cujas influências sobre o
organismo são, certamente, daninhas, para continuar produzindo. Toneladas e
mais toneladas de defensivos agrícolas, ou seja, de venenos, são utilizadas,
para impedir que pragas arrasem as colheitas. Chegará o dia, porém, diz a
lógica, em que os solos estarão exauridos e negarão o fruto da terra. Quando
isso ocorrer... o cenário, que provavelmente vai se desenhar será de impossível
descrição, tão terríveis são as suas possibilidades.
Ademais, a distribuição desses
alimentos, hoje produzidos em imensas quantidades, é das mais injustas e
perversas. Enquanto a obesidade se tornou a doença mais difundida nas sociedades
privilegiadas, em decorrência da gula, milhares e milhares de pessoas, nos
países pobres da África, da Ásia e das Américas, morrem de fome.
René Huyghe (1906-1997), que
durante um quarto de século ocupou a cadeira de Psicologia das Artes Plásticas do
Collége de France – foi presidente do Conselho Artístico do Museu Nacional e
foi membro da Academia Francesa – afirmou que a crise que compromete a
humanidade não vem do exterior. Provém, no seu entender, “do antagonismo de
interesses e dos atritos, que se constituem em fonte de ódio”. Ou seja, procede
do coração do homem.
Daí a sua gravidade. As pessoas
não têm como e nem para onde fugir desse perigo. É como se fossem confrontadas
com a mitológica Esfinge que, conforme os gregos, estava postada em frente às
portas de Tebas e desafiava os que para lá se dirigiam: “Decifra-me ou te
devoro!”.
O único caminho possível para o
homem é o que nos parece, simultânea e paradoxalmente, impossível. Ou seja, o
da profunda transformação da mentalidade reinante e do comportamento de cada
pessoa, substituindo o atual egoísmo e a atual avareza, pela justa e fraterna
partilha de bens e pela irrestrita solidariedade. Utopia, não é verdade?
Infelizmente, sim!
Ademais, não é correto se falar
em uma única “crise”, mas sim, passá-la para o plural. O que temos são várias
crises, entre as quais as principais são a material (já abordada, caracterizada
por um consumismo insensato e crescente, que ameaça esgotar, em poucos anos, os
recursos da Terra, além de causar irreversível poluição), a psíquica e,
sobretudo, a moral, entre outras.
A humanidade parece estar
dormindo e inconsciente para a dimensão e a iminência do perigo. Ou está como
que narcotizada, iludida pelo suposto progresso, que é como denomina essa
insensata acumulação de bens materiais. Por conseqüência, como assinala Huyghe,
“sua reação é cega como a de um doente que enlouquece e, debatendo-se, agrava
seus males”.
E sabe o leitor em que reside o
risco maior? Nisto, destacado pelo líder
budista japonês, Daisaku Ikeda: “Se o homem permanecer passivo diante de
um perigo imediato, se pressentir a morte sem reagir, ele não será mais do que
uma coisa inerte com o nome de homem”. Ainda há tempo de mudar a mentalidade e
o comportamento do homem. Mas este é ínfimo e urge agir com a maior presteza.
para garantir a sobrevivência, com dignidade, da espécie. Decifra-me ou te
devoro!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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