Avalanche de questões
Pedro J. Bondaczuk
A vida é tão complexa e misteriosa, que quanto mais
perguntas fizermos (e respondermos) a propósito, mais e mais questões surgem, a
desafiarem a nossa inteligência e a nossa perspicácia. Qual, por exemplo, a sua
verdadeira origem? Teorias a respeito existem inúmeras. E, se há tantas, é
porque não se encontrou, ainda, uma resposta convincente.
Qual a finalidade da vida? Nascemos, apenas, para
existir por existir? Ou seja, só para desenvolvermo-nos, amadurecer, reproduzirmo-nos
e morrer, e assim sucessivamente, geração após geração? Mesmo não aceitando
esse medíocre objetivo, ninguém, jamais, apontou, com certeza, sem a mínima
possibilidade de contestação, um que fosse melhor e mais nobre.
E, afinal, estamos sós neste imenso universo, cujas
reais dimensões são tão grandiosas que sequer cabem em nossa mente? Caso a
resposta seja positiva, surge outra pergunta lógica a propósito: por que a vida
surgiu aqui, e não alhures? Quais as condições mínimas, porém indispensáveis,
para que ela surja em qualquer lugar que seja propício ao seu surgimento? Com
esta infinidade de mundos, não há um, pelo menos um, que se assemelhe, ou pelo
menos se aproxime muito, deste nosso, em suas características básicas (de
temperatura, pressão, composição da atmosfera, gravidade etc.etc.etc.)?
São questões e mais questões, das mais variadas
naturezas: científicas, filosóficas e até espirituais, a desafiarem nossa
inteligência. Esse conjunto, praticamente infinito, de perguntas requer
respostas que pelo menos se aproximem da verdade. Apesar das inúmeras
tentativas de homens sábios e observadores através de milênios, tudo permanece
nebuloso e obscuro, exatamente da forma que era quando este animal estranho e
contraditório surgiu sobre a face da Terra (e quando isso ocorreu? Como? Por
que?).
Um dos métodos mais eficazes, práticos e funcionais
para aprendermos qualquer coisa, não importa sua complexidade, é, exatamente, o
da elaboração de perguntas. Mas que sejam claras, objetivas e diretas e sobre o
assunto específico que se quer aprender. Sócrates já utilizava, com sucesso,
esse procedimento na Grécia Antiga, conforme nos relata seu mais ilustre
discípulo, Platão.
Nos meus tempos de adolescente, os professores usavam
bastante esse recurso como arma pedagógica na escola que estudei. Benditos
mestres! Após o estudo das matérias, tínhamos, invariavelmente, que responder a
um bem-elaborado questionário a respeito do que havia sido estudado nas aulas.
Caso empacássemos em alguma questão, o jeito era voltar
à leitura do texto em que o assunto havia sido exposto, mas com redobrada
atenção. E... Eureka! Invariavelmente, lá estava a resposta, não raro escondida
em alguma oração a que não havíamos dado a devida importância ao ler a matéria
pela primeira vez. Quanto mais nos enroscávamos em alguma pergunta, melhor
fixávamos na mente a respectiva resposta quando a encontrávamos.
Confesso que devo a maior parte do meu aprendizado a
esse método que, até por razões profissionais, adotei como norma no correr da minha
vida profissional. Sou jornalista e, portanto, estou consciente que, numa
entrevista, quanto mais inteligentes e profundas forem as questões que
levantar, mais informações irei extrair do meu entrevistado e valorizar, dessa
forma, a matéria que estiver escrevendo.
Muitos entrevistadores são relapsos e não se
preparam devidamente para a tarefa. Conhecem pouco (ou nada) do assunto que
foram encarregados de abordar com algum especialista da área e findam por
descontentar a todo o mundo (principalmente ao seu editor, que fica, com toda
razão, furioso com o repórter relaxado). Entre outras gafes, fazem perguntas
fora do contexto, ou sobre questões já respondidas pelo entrevistado, ou
aquelas óbvias, que até uma criança do Jardim da Infância não faria.
Muitos colegas de trabalho reclamam de determinados
entrevistados, acusando-os de serem ou muito mal-humorados (no caso, o ex-treinador
do São Paulo Futebol Clube, Muricy Ramalho), ou enfáticos e agressivos além da
conta (como Wanderley Luxemburgo), ou sumamente vagos (como o técnico, Caio
Junior). Todavia, será que já atentaram para as perguntas que fazem a essas
personalidades? São de doer!
Fico imaginando esses repórteres tendo que cobrir a
área de Ciências. Vou mais longe, imagino-os entrevistando Albert Einstein
(quando este ainda estava vivo, óbvio). Suas matérias seriam, no mínimo,
hilariantes. Provavelmente, seriam mais confusas do que a letra do célebre
“Samba do Crioulo Doido”, com a qual o saudoso Sérgio Porto, que assinava suas
colunas com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, tanto se divertia.
O escritor Robert Louis Stevenson compara o método
de questionamento a uma incontrolável avalanche, dessas que descem uma íngreme
montanha, levando tudo de roldão.. Escreveu, em um de seus tantos romances:
“Fazemos uma pergunta, e é como se empurrássemos uma pedra do alto do morro: lá
vai a pedra empurrando outra”. É a esse espírito de insaciável curiosidade, de
sábia e pertinente inquisição, que denomino de “inteligência”. Ou não é?!
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