Wednesday, September 07, 2016

Crepúsculo da soberania


Pedro J. Bondaczuk


A questão da soberania nacional tem sido invariavelmente levantada sempre que ocorrem controvérsias políticas, econômicas e militares entre países. É uma palavra muito usada principalmente pelas esquerdas e por grupos nacionalistas e pelos que defendem a tese da não ingerência externa nos assuntos internos, mesmo quando um povo é subjugado por algum notório e cruel tirano.

O pilar desse conceito, pelo menos até aqui, tem sido as fronteiras. É possível, todavia, sua subsistência nesta era da comunicação global, onde nada e ninguém se escondem de uma infinidade de satélites e das câmeras da televisão?

Walter B. Wriston, ex-presidente do Citicorp, em seu profundo e imperdível livro "O Crepúsculo da Soberania", que acaba de ser lançado no Brasil pela editora Makron Books, demonstra que não. O autor, um dos mais lúcidos e inovadores financistas do nosso tempo, detecta uma "Revolução pelaz Informação" que está transformando o mundo.

Hoje em dia, as barreiras nacionais são cada vez mais difusas, mis voláteis, mais conceituais (e portanto fictícias) que reais. O poder desloca-se de eixo e passa a ser daqueles que controlam esse sistema informativo. Isto é bom? É ruim? Apenas o tempo poderá demonstrar. Mas se trata de uma realidade irreversível e sua negação não é mais do que mera retórica ou absoluta alienação.

No capítulo 8 de seu livro, intitulado "Fronteiras não são limites", Wriston constata: "No mundo que estamos construindo hoje é impossível declarar soberania sobre a informação. Está se tornando cada vez mais difícil deixar os cidadãos de um lugar fora da conversação global".

O risco maior dessa globalização é o da homogeinização da cultura. Cada povo precisa criar a própria estratégia de manutenção de suas raízes culturais, de seus costumes, suas tradições, seus mitos e de sua forma de ser.

É possível (e desejável) aderir à cosmopolitização sem a perda da individualidade. Basta contar com aguçado espírito crítico, o mesmo que norteia os cientistas e os filósofos, jamais aceitando por completo alguma idéia sem deixar espaço para a dúvida.

Tomara que essa globalização remova os abismos econômicos e sociais hoje existentes, com dois terços da humanidade vegetando na miséria para sustentar o um terço restante.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de fevereiro de 1994).


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