Crepúsculo da soberania
Pedro J. Bondaczuk
A
questão da soberania nacional tem sido invariavelmente levantada sempre que
ocorrem controvérsias políticas, econômicas e militares entre países. É uma
palavra muito usada principalmente pelas esquerdas e por grupos nacionalistas e
pelos que defendem a tese da não ingerência externa nos assuntos internos,
mesmo quando um povo é subjugado por algum notório e cruel tirano.
O
pilar desse conceito, pelo menos até aqui, tem sido as fronteiras. É possível,
todavia, sua subsistência nesta era da comunicação global, onde nada e ninguém
se escondem de uma infinidade de satélites e das câmeras da televisão?
Walter
B. Wriston, ex-presidente do Citicorp, em seu profundo e imperdível livro
"O Crepúsculo da Soberania", que acaba de ser lançado no Brasil pela
editora Makron Books, demonstra que não. O autor, um dos mais lúcidos e
inovadores financistas do nosso tempo, detecta uma "Revolução pelaz
Informação" que está transformando o mundo.
Hoje
em dia, as barreiras nacionais são cada vez mais difusas, mis voláteis, mais
conceituais (e portanto fictícias) que reais. O poder desloca-se de eixo e
passa a ser daqueles que controlam esse sistema informativo. Isto é bom? É
ruim? Apenas o tempo poderá demonstrar. Mas se trata de uma realidade
irreversível e sua negação não é mais do que mera retórica ou absoluta
alienação.
No
capítulo 8 de seu livro, intitulado "Fronteiras não são limites",
Wriston constata: "No mundo que estamos construindo hoje é impossível
declarar soberania sobre a informação. Está se tornando cada vez mais difícil
deixar os cidadãos de um lugar fora da conversação global".
O
risco maior dessa globalização é o da homogeinização da cultura. Cada povo
precisa criar a própria estratégia de manutenção de suas raízes culturais, de
seus costumes, suas tradições, seus mitos e de sua forma de ser.
É
possível (e desejável) aderir à cosmopolitização sem a perda da
individualidade. Basta contar com aguçado espírito crítico, o mesmo que norteia
os cientistas e os filósofos, jamais aceitando por completo alguma idéia sem
deixar espaço para a dúvida.
Tomara
que essa globalização remova os abismos econômicos e sociais hoje existentes,
com dois terços da humanidade vegetando na miséria para sustentar o um terço
restante.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de fevereiro de
1994).
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