Coragem e muito “jogo de cintura”
O líder soviético Mikhail
Gorbachev demonstrou, mais uma vez, ontem, que além de coragem, tem um grande
“jogo de cintura”. Sabe fazer, com precisão, as jogadas políticas, e na hora
certa, para transformar situações que lhe sejam desfavoráveis em outras a seu
favor.
Durante
uma plenária do Comitê Central do Partido Comunista, o segundo órgão mais
poderoso da agremiação, depois do Politburo, o presidente conseguiu o que
nenhum dos seus antecessores havia conseguido antes. Antecipou o Congresso do
PC em alguns meses, para que quase coincidisse com as eleições em vários níveis
que serão realizadas no país em 1990, com múltiplos candidatos.
Dessa
forma, ele conseguirá afastar os conservadores, que estão bloqueando as suas
reformas, de uma forma “elegante”. Ou melhor diríamos, inteligente. Vai
entregar essa decisão ao eleitorado. E este, a julgar pelo que aconteceu no
pleito de março passado, certamente não vai compactuar com o passado, com os
retrógrados, com aqueles que colocaram a superpotência marxista num impasse num
impasse principalmente econômico, quem não tiver cacife eleitoral que diga
adeus à carreira política.
Não
se pode negar, entretanto, a coragem de Gorbachev. O leitor já imaginou a
natureza e a intensidade das pressões que ele vem sofrendo da parte dos
conservadores? E ainda assim, a despeito de uma enervante lentidão, sua
“perestroika” econômica e sua “glasnost” político-social estão caminhando.
Mais
do que isso, estão extrapolando o território soviético e afetando,
positivamente, os países do bloco do Leste europeu. Por enquanto, somente dois
deles, Polônia e Hungria, estão embarcando em projetos reformistas.
No
entanto, com a evolução que se espera que os acontecimentos venham a ter, outros,
fatalmente, terão de aderir, para não perderem o bonde da história. Os alemães
orientais, por exemplo, estão sofrendo na própria carne a falta de visão as sua
liderança comunista em promover mudanças no país.
No
êxodo de seus cidadãos (que está ainda em desenvolvimento, posto que de forma
menos intensa do que na semana passada), a Alemanha Oriental está perdendo a
sua nata. Os que estão fugindo não são párias sociais, como aconteceu na
chamada “Ponte de Mariel”, de Cuba para os Estados Unidos, em 1980. São jovens
bem preparados, em geral universitários, técnicos em setores essenciais, que
farão falta ao país.
Aliás,
para evitar algo assim é que Gorbachev quer conduzir com perícia e segurança as
suas “perestroika” e “glasnost”. Para que a União Soviética seja, de fato, uma
superpotência, com um povo forte e feliz, e não um mero Estado policial, super
bem armado, mas amargurado e considerado incompetente para promover o próprio
bem estar.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 20 de setembro de
1989).
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