Crescimento
e caos social
Pedro J. Bondaczuk
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) acaba de divulgar dados muito positivos dando conta de que a economia
brasileira cresceu, no primeiro trimestre deste ano, 5,7% em relação ao mesmo
período de 1993. Constatou que houve expansão em quase todos os setores, mesmo
com o País batendo novos recordes de inflação.
Teoricamente, o resultado da pesquisa da instituição
mereceria comemoração por parte dos cidadãos, já que essa evolução favoreceria
a todos. Mas não é isso o que ocorre. Para a grande maioria dos brasileiros,
não há razão alguma para alegria, nem com a safra recorde, nem com o aumento da
produção industrial e sequer com a elevação do Produto Interno Bruto.
A agricultura, por exemplo, teve uma expansão de 11%
no período, de acordo com o IBGE, mas nunca os alimentos estiveram tão
inacessíveis às famílias de parcos rendimentos, a absolutíssima maioria, quanto
agora. A economia cresceu, mas a mortalidade infantil, especialmente no Nordeste,
também apresentou crescimento, de acordo com recente estudo divulgado pela
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
O PIB dos últimos 12 meses já apresenta uma taxa de
expansão acumulada de 5,3%, o que indica que o País retomou a trilha do
desenvolvimento. Ocorre que, como aconteceu na época do propalado "milagre
econômico", o enriquecimento está longe, muito distante de beneficiar os
que geram essas riquezas.
O bolo cresce, mas são pouquíssimos os que o comem.
Seria um fato digno de comemoração caso não houvesse 8 milhões de pais de
famílias desempregados, sem recursos para proporcionar uma vida pelo menos
decente para eles e seus filhos.
Seria uma notícia que mereceria festas, com rojões,
bandeiras e até samba nas ruas, não existissem 7,5 milhões de meninos e meninas
abandonados.
Houve tempos em que indicadores desse tipo
despertavam, de fato, esperanças nos habitantes do "eterno" país do
futuro. Hoje não. Tudo tem limites, até a esperança. Hoje, diante do caos
social que se tornou visível e que prescinde de dados estatísticos ou de
estudos e relatórios para ser verificado --- para sua constatação basta um
giro, com os olhos abertos, pelas ruas das cidades --- dados como esse não
impressionam ou causam irritação, por mostrarem até que ponto o egoísmo está
arraigado em nossa sociedade.
Põem a nu a impropriedade do modelo de
desenvolvimento que o Brasil adotou, elaborado por outros em Washington ou nas
capitais européias, e que nos foi imposto sem que nossos administradores, num
raro rasgo de patriotismo e bom senso, esboçassem a mínima reação para impedir.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 30 de junho de 1994).
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