Friday, September 02, 2016

Crescimento e caos social



Pedro J. Bondaczuk


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar dados muito positivos dando conta de que a economia brasileira cresceu, no primeiro trimestre deste ano, 5,7% em relação ao mesmo período de 1993. Constatou que houve expansão em quase todos os setores, mesmo com o País batendo novos recordes de inflação.

Teoricamente, o resultado da pesquisa da instituição mereceria comemoração por parte dos cidadãos, já que essa evolução favoreceria a todos. Mas não é isso o que ocorre. Para a grande maioria dos brasileiros, não há razão alguma para alegria, nem com a safra recorde, nem com o aumento da produção industrial e sequer com a elevação do Produto Interno Bruto.

A agricultura, por exemplo, teve uma expansão de 11% no período, de acordo com o IBGE, mas nunca os alimentos estiveram tão inacessíveis às famílias de parcos rendimentos, a absolutíssima maioria, quanto agora. A economia cresceu, mas a mortalidade infantil, especialmente no Nordeste, também apresentou crescimento, de acordo com recente estudo divulgado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

O PIB dos últimos 12 meses já apresenta uma taxa de expansão acumulada de 5,3%, o que indica que o País retomou a trilha do desenvolvimento. Ocorre que, como aconteceu na época do propalado "milagre econômico", o enriquecimento está longe, muito distante de beneficiar os que geram essas riquezas.

O bolo cresce, mas são pouquíssimos os que o comem. Seria um fato digno de comemoração caso não houvesse 8 milhões de pais de famílias desempregados, sem recursos para proporcionar uma vida pelo menos decente para eles e seus filhos.

Seria uma notícia que mereceria festas, com rojões, bandeiras e até samba nas ruas, não existissem 7,5 milhões de meninos e meninas abandonados.

Houve tempos em que indicadores desse tipo despertavam, de fato, esperanças nos habitantes do "eterno" país do futuro. Hoje não. Tudo tem limites, até a esperança. Hoje, diante do caos social que se tornou visível e que prescinde de dados estatísticos ou de estudos e relatórios para ser verificado --- para sua constatação basta um giro, com os olhos abertos, pelas ruas das cidades --- dados como esse não impressionam ou causam irritação, por mostrarem até que ponto o egoísmo está arraigado em nossa sociedade.

Põem a nu a impropriedade do modelo de desenvolvimento que o Brasil adotou, elaborado por outros em Washington ou nas capitais européias, e que nos foi imposto sem que nossos administradores, num raro rasgo de patriotismo e bom senso, esboçassem a mínima reação para impedir.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de junho de 1994).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk        

No comments: