Reunião
de Genebra leva marca da intransigência
Pedro J. Bondaczuk
As conversações que vão ocorrer amanhã, em Genebra,
entre o secretário de Estado norte-americano, James Baker, e o ministro de
relações exteriores iraquiano, Tarik Aziz, com o objetivo de se conseguir uma
solução pacífica de última hora para a crise do Golfo Pérsico, evitando, dessa
maneira, uma guerra na região, antes mesmo da sua realização estão marcadas
pelo signo do fracasso.
A menos que nas próximas horas surja algum fato
novo, de caráter espetacular, algum gesto de flexibilização de qualquer das
duas partes, o encontro servirá, somente, para confirmar a ocorrência de um
perigoso conflito armado que, como todos dessa natureza, está cercado de riscos
e incertezas. E, o pior, com data marcada para começar, mas não para terminar.
A despeito das milhares e milhares de lições
inscritas na História a esse respeito, os líderes mundiais ainda não entenderam
que o argumento da força jamais serviu para solucionar pendência alguma. Sempre
trouxe, apenas, morte, destruição, dor e desolação.
Objetivamente, não há como se comparar o poderio
bélico dos Estados Unidos com o do Iraque, tal é a disparidade entre ambos.
Teoricamente, portanto, uma ação militar, tendente a expulsar os soldados
invasores do território ocupado do Kuwait, é para ser rápida e fulminante.
Todavia, quem se detém em estudar guerras e batalhas
anteriores – e estas jamais faltaram nos mais de 13 mil anos de civilização –
conclui, facilmente, que na prática a teoria é outra. Nenhuma confrontação é
vencida na véspera.
Quem, em 1961, poderia imaginar, por exemplo, que o
Vietnã resistiria à monumental máquina militar norte-americana? No entanto, não
somente resistiu, como expulsou a superpotência ocidental do seu território. O
mesmo ocorreu no Afeganistão, onde o Exército Vermelho soviético entrou
arrasador, controlando os pontos-chaves do país invadido em menos de 24 horas,
mas levou dez anos para se livrar do atoleiro, perdendo milhares de jovens
nessa aventura, levada a cabo por nada.
Há, evidentemente, quem esteja torcendo pelo sucesso
norte-americano no Golfo Pérsico, e da forma como o Pentágono planeja: de forma
rápida e decisiva. Somente dessa maneira, o mundo ficaria livre do espectro de
Saddam Hussein, ditador que desde que subiu ao palco maior dos acontecimentos
mundiais, em 1979, sempre foi sinônimo de encrenca.
O ideal, todavia, seria colocar o truculento general
em fuga por outros meios, que não o das armas. Isto já foi feito muitas vezes
no passado. Embora muita gente não se dê conta disso, o mundo corre sérios
riscos com essa guerra, de conseqüências absolutamente imprevisíveis. E, à
medida em que o tempo passa, sem que as partes arredem pé de sua
intransigência, mais e mais a humanidade se aproxima de outro grande drama deste
século, marcado, todo ele, pela violência.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 8 de janeiro de 1991)
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