Novos tempos
Pedro J. Bondaczuk
Os
principais líderes mundiais ainda não se deram conta do novo cenário que
emergiu com o fim da Guerra Fria, inclusive aqueles que contribuíram
decisivamente para que ela acabasse. Em mais de 45 anos deste século, tudo girou
em torno do confronto dos dois blocos ideológicos antagônicos: capitalismo e
comunismo.
Fortunas
imensas, irrecuperáveis, foram jogadas fora numa corrida armamentista insensata
e perversa, que condenou milhões de pessoas à miséria, especialmente na antiga
União Soviética. Hoje vem ocorrendo um realinhamento de forças espontâneo e por
critérios econômicos aos invés de militares.
Emergem
duas superpotências, sutilmente, que vêm se juntar a uma terceira, os Estados
Unidos. Trata-se da Alemanha unificada e do Japão. Passados 48 anos do término
da Segunda Guerra Mundial, o quadro estratégico de 1939 se repete.
As
mudanças que se verificaram, todavia, não se constituem num salvo conduto
automático para a paz. Focos potenciais de conflitos mundiais permanecem
latentes, podendo deteriorar-se a qualquer instante. São os casos da
ex-Iugoslávia, do Oriente Médio, de Cuba e outros que não vêm ao caso
mencionar.
Foi
neste panorama que o país mais rico e poderoso do mundo, que atravessa uma
grande crise como há muito não enfrentava, empossou seu 42º presidente, William
Jefferson Clinton. É a nova geração, aquela rebelde, que nos anos 60 ía às
praças ou ocupava universidades para protestar contra a Guerra do Vietnã, que
chega ao poder. E que poder!
É
bem um símbolo desses novos tempos. Teoricamente, o novo governante
norte-americano tem tudo para inserir seu país nesse novo contexto mundial e
conservar a liderança ostentada na maior parte deste século.
Presume-se,
porém, que o aparato militar não vá contar muito daqui para a frente. O diretor
da empresa Artecultura, Yacoff Sarkovas, observou, num artigo publicado na
revista "Inovação" da Ticket Grupo de Serviços na edição de dezembro,
que "...vivemos na era pós-industrial, em plena revolução dos conceitos de
riqueza e poder: a informação, a estética e os símbolos valem mais que fardos
de milho, sacas de café e barras de aço. O homem que fez a maior fortuna da
última década produz softwares, e não carros e geladeiras".
Entramos
num período em que aquilo que conta é a criatividade. Quem estiver disposto e
preparado para criar, será o maioral. Os comodistas, aqueles que se recusam a
rever velhos conceitos, francamente fracassados --- os últimos 50 anos
mostraram isto --- ficarão fatalmente para trás.
Daí
Clinton, em seu discurso de posse, de 14 minutos de duração, ter convocado, na
quarta-feira, os norte-americanos ao sacrifício. O jovem presidente propôs que
a população abandone "o hábito de esperar resultados sem fazer nada e
assumir as responsabilidades".
Em
outras palavras, incitou seu povo a que reviva ideais que parecem ter sido
esquecidos. Principalmente aquele que tornou os Estados Unidos na superpotência
que ainda são hoje: o do homem vencedor pelos próprios méritos, do
"self-made man", aquele que se faz sozinho, talhado na luta, na
autodisciplina e na permanente evolução intelectual. Tomara que tudo não se
restrinja ao terreno da retórica, pois o mundo precisa de uma América líder.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de janeiro de 1993).
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