Thursday, September 29, 2016

Ricos divergem, mas permanecem unidos


Pedro J. Bondaczuk


A reunião econômica de cúpula, que começa amanhã, em Bonn, na Alemanha Ocidental, já se tornou um acontecimento rotineiro para os sete países integrantes do seleto clube dos ricos, de três continentes. Afinal, esta é a décima-primeira vez que ela se realiza, sempre com a mesma pompa, os mesmos esquemas rígidos de segurança e idêntica expectativa pelos novos rumos que, os que realmente decidem alguma coisa sobre economia mundial, devem dar a questões como comércio internacional, dívida externa, protecionismo e taxas de juros.

Como das vezes anteriores, o espírito que move cada país participante, parece ser igual. Alemanha Ocidental, Canadá e Grã-Bretanha continuam firmes ao lado de Reagan e dirão, invariavelmente, amém, a qualquer decisão que ele tome.

François Mitterrand, confirmando a tradição francesa, de controvérsia em relação à política dos EUA (inaugurada ainda nos tempos de De Gaulle), pelo quarto ano consecutivo vai apresentar a sua proposta pelo estabelecimento de uma nova regra no jogo econômico mundial. A França propõe, simplesmente, um novo Bretton Woods, visto que muita água já rolou por baixo da ponte da História desde que aquela célebre reunião ocorreu em julho de 1944. Os canhões, então, ainda não haviam se calado, numa Europa devastada pela guerra, e o perigo nazista era algo palpável.

As questões dos tempos de hoje, no plano econômico, contudo, são muito mais complexas, principalmente depois do processo de descolonização da África e de partes da Ásia, com a emergência de países que, sob qualquer ângulo que se olhe, são inviáveis.

A Itália fica, nessa reunião, mais uma vez, como o fiel da balança. Seu principal papel deverá ser o de advogado dos endividados do Terceiro Mundo, reivindicando condições mais suaves para o pagamento das dívidas, especialmente no que se refere a juros. Indiretamente, Bettino Craxi estará defendendo a mesma tese de Mitterrand, já que se manifesta, posto que moderadamente, contra o sistema estabelecido em Bretton Woods.

Quem estará, entretanto, na berlinda, será o Japão, atacado por todos os lados por ser eficaz e prático até demais. Os produtos nipônicos são, hoje, soberanos em quase todos os mercados, não somente os asiáticos, que lhes pertencem quase que completamente, mas também nos EUA e em boa parte da Europa. Com seus preços tentadores e sua qualidade extraordinária, vencem, facilmente, os similares norte-americanos e europeus, frutos de indústrias cansadas e de técnicas anacrônicas, por isso resultando mais caros.

Mas ninguém precisa recear por qualquer espécie de ruptura nesse clube seleto dos ricos. É claro que essa reunião será diferente das do bloco do Leste da Europa que, simplesmente, homologam as decisões soviéticas. Mas as rusgas e briguinhas que eventualmente surgirão terminarão, como bem dizem os moradores do bairro paulistano do Brás, simplesmente “em pizza”. É assim que funcionam as engrenagens da política ocidental.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 1º de maio de 1985).


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