Crise em nossos três “gigantes”?
Pedro J.
Bondaczuk
A sucessão presidencial, como não poderia deixar de ser,
está na ordem do dia, principalmente agora, quando se aproxima o momento de
definição de candidaturas e o fato mais relevante atinente a ela são as
dificuldades enfrentadas pelos três maiores partidos brasileiros, PMDB, PFL e
PDS, obviamente por razões diferentes.
O primeiro, por ter postulantes
demais e por já ser uma tradição, ao menos nos últimos anos, sofrer ameaças de
implosão às vésperas de uma eleição. O segundo, por não dispor de nenhum nome
forte para concorrer, com possibilidades de vitória. E o terceiro, em virtude
da ambição (diríamos teimosia) do ex-governador paulista, Paulo Maluf, em
disputar pleitos.
Na maior organização política do
País, dividida, como sempre esteve, em várias correntes (algumas até bastante
antagônicas), está criado o impasse. O deputado Ulysses Guimarães saiu na
frente, no que diz respeito ao lançamento de candidaturas e, provavelmente, por
isso mesmo, está com o seu nome tão desgastado junto aos seus pares.
Querendo a mesma coisa, ou seja,
o direito de postular a Presidência, estão o ministro Íris Rezende, o preferido
do grupo moderado, cuja campanha, inclusive, já ganhou as ruas (embora com
baixa receptividade popular até aqui), e os governadores Waldir Pires, da
Bahia, representando a ala mais à esquerda do partido, identificada com os
“tucanos”, que bateram asas e foram buscar espaço próprio e Álvaro Dias, do
Paraná.
Correndo por fora, numa posição
sumamente cômoda, está o paulista Orestes Quércia, para o qual tudo o que vier,
em termos de definição, será lucro. Ostensivamente, ele vem apoiando o nome do
presidente licenciado da agremiação. Mas não é segredo para ninguém que o
governador de São Paulo, um político de rara habilidade, é uma espécie de
“coringa” do PMDB, muito bem guardado para ser usado no momento mais adequado.
Ou seja, surge como uma espécie de “tábua de salvação”, como um nome de
consenso, capaz de unir o partido e leva-lo pelo menos ao segundo turno.
O PFL, por seu lado, tem dois
caminhos à sua frente. O primeiro, é a indicação do ex-ministro Aureliano
Chaves, que já deixou claro que somente concorrerá à Presidência se for
respaldado por todas as alas peefelistas (o que não vem acontecendo) e se as
pesquisas demonstrarem que tem alguma chance de vencer (neste momento, pelo
menos, a julgar pelas prévias, ela é remotíssima). O segundo é conferir apoio a
um candidato de centro, mais ou menos afinado com os ideais liberais, com
possibilidades de fazer frente ao “rolo compressor” das esquerdas. Mas quem
seria esse nome?
Já no PDS, a ambição do
ex-governador Paulo Maluf levou Jarbas Passarinho a abrir mão de sua
candidatura. A tendência atual do partido é a de compro-se numa grande frente
de centro-direita, “negociando”, se possível, uma vice-presidência. Mas tudo,
por enquanto, está no terreno das especulações.
Não está descartada, em absoluto,
a hipótese do malufismo garantir mais uma vez seu espaço, tentando aquilo que à
primeira vista parece o impossível: conquistar a Presidência pelo voto direto.
A grande verdade é que, em eleições, ninguém pode ser apontado como favorito de
véspera. Ainda mais no Brasil, que tem uma situação tão complexa, onde pela
primeira vez na história jovens de 16 e 17 anos vão votar e onde o voto dos
analfabetos pode ter um peso decisivo.
Os prognósticos dando Lula,
Brizola ou Mário Covas como virtualmente eleitos podem “furar”, como aliás
aconteceu nas eleições municipais paulistas, onde Maluf esteve na dianteira,
por larga margem, em todas as pesquisas de opinião, até a véspera da votação, e
acabou sendo fragorosamente batido por Luiz Erundina.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de
abril de 1989).
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