Wednesday, September 21, 2016

Crise em nossos três “gigantes”?


Pedro J. Bondaczuk


A sucessão presidencial, como não poderia deixar de ser, está na ordem do dia, principalmente agora, quando se aproxima o momento de definição de candidaturas e o fato mais relevante atinente a ela são as dificuldades enfrentadas pelos três maiores partidos brasileiros, PMDB, PFL e PDS, obviamente por razões diferentes.

O primeiro, por ter postulantes demais e por já ser uma tradição, ao menos nos últimos anos, sofrer ameaças de implosão às vésperas de uma eleição. O segundo, por não dispor de nenhum nome forte para concorrer, com possibilidades de vitória. E o terceiro, em virtude da ambição (diríamos teimosia) do ex-governador paulista, Paulo Maluf, em disputar pleitos.

Na maior organização política do País, dividida, como sempre esteve, em várias correntes (algumas até bastante antagônicas), está criado o impasse. O deputado Ulysses Guimarães saiu na frente, no que diz respeito ao lançamento de candidaturas e, provavelmente, por isso mesmo, está com o seu nome tão desgastado junto aos seus pares.

Querendo a mesma coisa, ou seja, o direito de postular a Presidência, estão o ministro Íris Rezende, o preferido do grupo moderado, cuja campanha, inclusive, já ganhou as ruas (embora com baixa receptividade popular até aqui), e os governadores Waldir Pires, da Bahia, representando a ala mais à esquerda do partido, identificada com os “tucanos”, que bateram asas e foram buscar espaço próprio e Álvaro Dias, do Paraná.

Correndo por fora, numa posição sumamente cômoda, está o paulista Orestes Quércia, para o qual tudo o que vier, em termos de definição, será lucro. Ostensivamente, ele vem apoiando o nome do presidente licenciado da agremiação. Mas não é segredo para ninguém que o governador de São Paulo, um político de rara habilidade, é uma espécie de “coringa” do PMDB, muito bem guardado para ser usado no momento mais adequado. Ou seja, surge como uma espécie de “tábua de salvação”, como um nome de consenso, capaz de unir o partido e leva-lo pelo menos ao segundo turno.

O PFL, por seu lado, tem dois caminhos à sua frente. O primeiro, é a indicação do ex-ministro Aureliano Chaves, que já deixou claro que somente concorrerá à Presidência se for respaldado por todas as alas peefelistas (o que não vem acontecendo) e se as pesquisas demonstrarem que tem alguma chance de vencer (neste momento, pelo menos, a julgar pelas prévias, ela é remotíssima). O segundo é conferir apoio a um candidato de centro, mais ou menos afinado com os ideais liberais, com possibilidades de fazer frente ao “rolo compressor” das esquerdas. Mas quem seria esse nome?

Já no PDS, a ambição do ex-governador Paulo Maluf levou Jarbas Passarinho a abrir mão de sua candidatura. A tendência atual do partido é a de compro-se numa grande frente de centro-direita, “negociando”, se possível, uma vice-presidência. Mas tudo, por enquanto, está no terreno das especulações.

Não está descartada, em absoluto, a hipótese do malufismo garantir mais uma vez seu espaço, tentando aquilo que à primeira vista parece o impossível: conquistar a Presidência pelo voto direto. A grande verdade é que, em eleições, ninguém pode ser apontado como favorito de véspera. Ainda mais no Brasil, que tem uma situação tão complexa, onde pela primeira vez na história jovens de 16 e 17 anos vão votar e onde o voto dos analfabetos pode ter um peso decisivo.

Os prognósticos dando Lula, Brizola ou Mário Covas como virtualmente eleitos podem “furar”, como aliás aconteceu nas eleições municipais paulistas, onde Maluf esteve na dianteira, por larga margem, em todas as pesquisas de opinião, até a véspera da votação, e acabou sendo fragorosamente batido por Luiz Erundina.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de abril de 1989).


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