Guerra
muda papel da ONU
Pedro J. Bondaczuk
A relação dos que se beneficiaram de alguma forma
com a guerra do Golfo Pérsico não pode omitir, de maneira alguma, as Nações
Unidas, em nome de quem ela foi travada. A ONU passava, até a invasão iraquiana
do Kuwait, por uma grande crise econômica.
Diversos países, principalmente os Estados Unidos,
estavam atrasados com suas contribuições anuais para a manutenção do organismo.
Em várias ocasiões, o secretário-geral, Javier Perez de Cuellar, veio a público
para apelar por recursos.
Apesar da imagem da organização mundial ter
melhorado muito nos últimos tempos, algumas pessoas ainda a encaravam como mero
fórum de debates, sem qualquer posição decisória. Ou seja, a ONU era tida como
um dispendioso luxo, uma inutilidade.
Após agosto de 1990, tudo isso mudou. O presidente
norte-americano George Bush, principal interessado na solução militar para a
crise no Golfo Pérsico, fez questão de montar toda a operação contando com o
respaldo das Nações Unidas em cada passo. O embargo econômico ao Iraque, a
garantia armada de respeito ao bloqueio e, principalmente, a utilização da
força para expulsar os soldados de Saddam Hussein do Kuwait, foram respaldados
por resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança. E estas foram em número de
12.
Como contrapartida, os Estados Unidos regularizaram
suas contribuições ao organismo e impediram que ele fosse à falência. É verdade
que em muitos círculos a posição da organização face à crise foi decepcionante.
Principalmente para as pessoas e grupos que sempre acreditaram que guerras
jamais solucionam quaisquer problemas.
A do Golfo Pérsico, objetivamente, não resolveu
nenhum e, pelo contrário, criou vários novos, que antes dela não existiam, e
que irão pairar como espectros assustadores no horizonte político
internacional, dificultando ou até mesmo impedindo o estabelecimento da era de
paz que se pretende no mundo. Afinal, a ONU foi criada para a promoção da
concórdia.
Mais do que as Nações Unidas, porém, o grande
ganhador com a crise foi o mercado mundial de petróleo. Utilizando a paradoxal
desinformação existente num Planeta que foi como que reduzido de tamanho pelos
veículos de comunicação instantânea de massas, os grandes intermediários na
comercialização do produto insistiram na ameaça de faltar óleo cru em
decorrência da guerra.
Subitamente, os preços do barril dispararam, dos US$
17 em julho de 1990, para US$ 42 em setembro. Paradoxalmente, a cotação somente
começou a baixar quando começou a Operação Tempestade do Deserto.
Os compradores perceberam, então, que as coisas não
eram tão feias como haviam sido pintadas. Mas já era tarde demais. Países como
o Brasil, as Filipinas, o Japão e os Estados Unidos perderam milhões de
dólares, virtualmente jogados na fogueira, desperdiçados e que certamente farão
imensa falta principalmente para brasileiros, filipinos e outros
terceiro-mundistas não-produtores de petróleo.
Finda a guerra, os preços estão refluindo. Mas os
manipuladores do mercado já estão entabulando novas jogadas, ameaçando os
compradores com o colapso da produção petrolífera da União Soviética.
(Artigo publicado na página 24, Internacional, do
Correio Popular, em 5 de maio de 1991)
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