Esperam-se mudanças estratégicas
Pedro J.
Bondaczuk
A guerra do Golfo Pérsico, cujo fim está iminente, apesar
de no dia 20 próximo passar a vigorar, tão somente, um cessar-fogo que pode ser
rompido por qualquer das partes (embora ninguém mais acredite que isso venha a
ocorrer), está terminando da maneira que as superpotências queriam: sem nenhum
vencedor e com os dois contendores exauridos.
O término desse conflito vai
trazer alterações de médio prazo na economia, na política e no relacionamento
internacionais. Em primeiro lugar, a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo, Opep, dificilmente conseguirá sustentar os preços do produto sequer
no patamar atual, de cerca de US$ 16 o barril, e muito menos sonhar, por
enquanto, com sua elevação.
Os dois países beligerantes
sofreram danos irreparáveis em suas economias com os oito anos de guerra.
Doravante, terão que trabalhar bastante para reparar os estragos causados em
fábricas, represas, rodovias, ferrovias e outras unidades indispensáveis aos
serviços públicos.
Tudo isso demanda investimentos
altíssimos, que ascendem a bilhões de dólares, que neste momento nenhum deles
possui. Ademais, vai ser necessária a geração de muitos empregos, para colocar
aqueles que até aqui estiveram envolvidos em combate. E tanto o Irã, quanto o
Iraque, têm no petróleo uma das poucas fontes de riqueza. Mais os iraquianos,
que dependem desse produto tanto quanto do ar que respiram, já que ele
constitui 95% de sua pauta de exportações.
Por isso, dificilmente qualquer
um dos dois vai respeitar as cotas de extração estabelecidas pela Opep para
segurar os preços. Não, pelo menos, neste primeiro instante, que deverá durar
uns três ou quatro anos no mínimo.
A tendência, portanto, é que o
mercado petrolífero fique literalmente inundado, fazendo com que as cotações
despenquem. Quanto ao realinhamento político, a impressão que fica, em relação
ao Irã, é que o país buscará um maior isolamento, no intento de consolidar a
sua revolução.
Voltar-se-á para dentro de si
próprio, até porque terá que enfrentar, muito em breve, a ausência do seu líder
máximo, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que mesmo que não tenha os seus dias
contados por um câncer de próstata, conforme se apregoa, certamente não viverá
mais muitos anos, já que está em vias de completar 89 anos.
Quanto ao Iraque, o país ficou
debilitado demais para disputar com egípcios e sírios a hegemonia no mundo
árabe e para, em conseqüência, representar algum perigo mais sério para o
Estado de Israel.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 10
de agosto de 1988).
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