Tuesday, September 13, 2016

Esperam-se mudanças estratégicas


Pedro J. Bondaczuk


A guerra do Golfo Pérsico, cujo fim está iminente, apesar de no dia 20 próximo passar a vigorar, tão somente, um cessar-fogo que pode ser rompido por qualquer das partes (embora ninguém mais acredite que isso venha a ocorrer), está terminando da maneira que as superpotências queriam: sem nenhum vencedor e com os dois contendores exauridos.

O término desse conflito vai trazer alterações de médio prazo na economia, na política e no relacionamento internacionais. Em primeiro lugar, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, Opep, dificilmente conseguirá sustentar os preços do produto sequer no patamar atual, de cerca de US$ 16 o barril, e muito menos sonhar, por enquanto, com sua elevação.

Os dois países beligerantes sofreram danos irreparáveis em suas economias com os oito anos de guerra. Doravante, terão que trabalhar bastante para reparar os estragos causados em fábricas, represas, rodovias, ferrovias e outras unidades indispensáveis aos serviços públicos.

Tudo isso demanda investimentos altíssimos, que ascendem a bilhões de dólares, que neste momento nenhum deles possui. Ademais, vai ser necessária a geração de muitos empregos, para colocar aqueles que até aqui estiveram envolvidos em combate. E tanto o Irã, quanto o Iraque, têm no petróleo uma das poucas fontes de riqueza. Mais os iraquianos, que dependem desse produto tanto quanto do ar que respiram, já que ele constitui 95% de sua pauta de exportações.

Por isso, dificilmente qualquer um dos dois vai respeitar as cotas de extração estabelecidas pela Opep para segurar os preços. Não, pelo menos, neste primeiro instante, que deverá durar uns três ou quatro anos no mínimo.

A tendência, portanto, é que o mercado petrolífero fique literalmente inundado, fazendo com que as cotações despenquem. Quanto ao realinhamento político, a impressão que fica, em relação ao Irã, é que o país buscará um maior isolamento, no intento de consolidar a sua revolução.

Voltar-se-á para dentro de si próprio, até porque terá que enfrentar, muito em breve, a ausência do seu líder máximo, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que mesmo que não tenha os seus dias contados por um câncer de próstata, conforme se apregoa, certamente não viverá mais muitos anos, já que está em vias de completar 89 anos.

Quanto ao Iraque, o país ficou debilitado demais para disputar com egípcios e sírios a hegemonia no mundo árabe e para, em conseqüência, representar algum perigo mais sério para o Estado de Israel.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 10 de agosto de 1988).


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