Friday, September 30, 2016


Falta proteção social


Pedro J. Bondaczuk


O presidente Fernando Collor falará, em rede nacional de rádio e televisão, ainda nesta semana, para responder aos ataques que vêm sendo feitos por vários setores ao plano econômico lançado em 16 de março passado. E já não era sem tempo esse pronunciamento, já que a inflação segue em alta e as atividades na economia continuam sofrendo um processo de desaquecimento, de desaceleração, prejudicando ainda mais aqueles a quem o governante prometeu proteger: os descamisados.

É indispensável que se estudem e se ponham em prática mecanismos de proteção social que impeçam que os mais humildes sempre paguem pelos erros dos tecnocratas do passado e pelas dolorosas correções de rumo do presente. O salário-desemprego, da forma com que funciona hoje, não é esta salvaguarda, convenhamos.

Os países do chamado Primeiro Mundo possuem esse "guarda-chuva" para épocas de crise. E as deles nunca são tão perversas e prolongadas quanto as nossas. O presidente manifestou, nos últimos dias, que as críticas ao plano são frutos da união dos que se interessam em sabotar o programa, dentro do País, com os credores do Brasil, cujo interesse seria o de desestabilizar os negociadores da nossa dívida externa.

Seria desejável, no entanto, que fossem claramente identificados os que agem dessa maneira pois sua ação atenta contra os interesses nacionais. É verdade que boa parte da nova escalada inflacionária se prende à prolongada crise no Golfo Pérsico, que elevou os preços do petróleo a um patamar insuportável para os países que dependem da importação dessa matéria-prima.

Todavia, não se pode atribuir somente às estrepolias de Saddam Hussein a torturante ascensão das taxas inflacionárias, num momento em que os salários estão sem nenhum mecanismo de proteção. A tal de livre negociação, em períodos recessivos, não passa de balela.

Há empresas bem geridas e administradas por pessoas de tino que fazem por sua conta a reposição, porque seus administradores têm consciência de que sem salários não há vendas e, portanto, inexistem os negócios. Mas nem todos agem assim.

E como ficam os trabalhadores das firmas que não têm essa visão? Que poder de barganha eles possuem, num período em que podem se dar por satisfeitos pelo simples fato de conservarem seus empregos, tendo permanentemente por sobre suas cabeças o cutelo da demissão? Não será por aí, evidentemente, que os descamisados --- e são tantos neste País! --- irão encontrar sua proteção.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de novembro de 1990).


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