Falta proteção social
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente Fernando Collor falará, em rede nacional de rádio e televisão, ainda
nesta semana, para responder aos ataques que vêm sendo feitos por vários
setores ao plano econômico lançado em 16 de março passado. E já não era sem
tempo esse pronunciamento, já que a inflação segue em alta e as atividades na
economia continuam sofrendo um processo de desaquecimento, de desaceleração,
prejudicando ainda mais aqueles a quem o governante prometeu proteger: os descamisados.
É
indispensável que se estudem e se ponham em prática mecanismos de proteção
social que impeçam que os mais humildes sempre paguem pelos erros dos
tecnocratas do passado e pelas dolorosas correções de rumo do presente. O
salário-desemprego, da forma com que funciona hoje, não é esta salvaguarda,
convenhamos.
Os
países do chamado Primeiro Mundo possuem esse "guarda-chuva" para
épocas de crise. E as deles nunca são tão perversas e prolongadas quanto as
nossas. O presidente manifestou, nos últimos dias, que as críticas ao plano são
frutos da união dos que se interessam em sabotar o programa, dentro do País,
com os credores do Brasil, cujo interesse seria o de desestabilizar os
negociadores da nossa dívida externa.
Seria
desejável, no entanto, que fossem claramente identificados os que agem dessa
maneira pois sua ação atenta contra os interesses nacionais. É verdade que boa
parte da nova escalada inflacionária se prende à prolongada crise no Golfo
Pérsico, que elevou os preços do petróleo a um patamar insuportável para os
países que dependem da importação dessa matéria-prima.
Todavia,
não se pode atribuir somente às estrepolias de Saddam Hussein a torturante
ascensão das taxas inflacionárias, num momento em que os salários estão sem
nenhum mecanismo de proteção. A tal de livre negociação, em períodos
recessivos, não passa de balela.
Há
empresas bem geridas e administradas por pessoas de tino que fazem por sua
conta a reposição, porque seus administradores têm consciência de que sem
salários não há vendas e, portanto, inexistem os negócios. Mas nem todos agem
assim.
E
como ficam os trabalhadores das firmas que não têm essa visão? Que poder de
barganha eles possuem, num período em que podem se dar por satisfeitos pelo
simples fato de conservarem seus empregos, tendo permanentemente por sobre suas
cabeças o cutelo da demissão? Não será por aí, evidentemente, que os
descamisados --- e são tantos neste País! --- irão encontrar sua proteção.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de novembro de 1990).
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