Entendimento difícil de sair
Pedro J. Bondaczuk
O
sucesso das conversações para a obtenção de um sonhado e cada vez mais difícil
entendimento nacional está em risco antes mesmo da definição dos interlocutores
e da pauta a ser elaborada para conduzir as negociações. Uma das partes
integrantes do processo, a Central Única dos Trabalhadores, CUT, manifestou,
através de seu presidente, Jair Meneguelli, a intenção de não participar das
reuniões, alegando, como motivo, a nomeação de Jarbas Passarinho para o
Ministério da Justiça.
A
decisão, assinale-se, ainda não é definitiva. Porém, caso o afastamento se
configure, será lamentável, já que a entidade representa uma parcela
considerável da sociedade.
Este
é um momento para somar forças, não de divisões. Trata-se de mais uma
oportunidade, talvez a última, para que o pacto, o entendimento, ou seja lá o
nome que se deseje dar, venha a ser obtido, facilitando a travessia por um duro
período de transição que, se superado a contento, pode abrir ao Brasil amplos
horizontes.
Ao
invés da CUT retirar-se do processo, o que é necessário é a adesão de outras
categorias, de representantes de outros setores, além das participações nas
conversações da Ordem dos Advogados do Brasil e da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil.
É
hora de se deixar disputas ideológicas e inócuas picuinhas políticas de lado e
se partir para o terreno prático, para uma negociação séria, sincera, bem
intencionada quanto à repartição dos sacrifícios numa luta sem quartel contra a
inflação.
É
o momento de evitar que os 53 milhões de brasileiros afetados pela fome e pela
subnutrição tenham suas aflições aumentadas, sem que haja esperanças, pelo
menos a médio prazo, das coisas melhorarem. Se a CUT não quer ser tratada de
forma preconceituosa, é preciso que não alimente preconceitos contra ninguém.
Muito menos contra um ministro, que já deu mostras de competência no passado.
O
que está em jogo não é o poder, pois este, nas urnas, o povo decidiu, nas
eleições presidenciais do ano passado, com quem deveria ficar. Empenha-se por
uma solução consensual, ou próxima disso, para os problemas que são comuns a
todos. E não é lícito que uma entidade que representa justamente aquela parcela
que corre o risco de ser a mais atingida pela estratégia antiinflacionária se
omita de seu dever de tentar proteger os seus representados.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de outubro de 1990).
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