Pesquisas ou
"chutometria"?
Pedro J. Bondaczuk
A
escolha do candidato à vice-presidência, feita por George Bush, para as
eleições presidenciais norte-americanas de 8 de novembro próximo, não poderia
ter sido mais infeliz. O senador Dan Quayle, além da sua inexperiência política
(que o levou a se auto apregoar como sendo um dos "maiores especialistas
em segurança nacional" dos Estados Unidos), está metido numa série de
encrencas, que a imprensa está explorando até onde pode.
Embora
tenha sido divulgada ontem uma pesquisa de opinião da Rede ABC, dizendo que a
sua presença na chapa era positiva, isto é sumamente contestável. Aliás, este
tipo de consulta, uma verdadeira mania do norte-americano, também costuma
apresentar "mancadas" homéricas. Nas eleições presidenciais de 1980,
por exemplo, uma delas, de caráter nacional, dava os dois candidatos de então,
Ronald Reagan e Jimmy Carter, como virtualmente empatados nas vésperas da
votação.
No
dia seguinte, foi aquele "massacre" que todos conhecem. É clara que
às vezes tais pesquisas também acertam. Por sinal, na base do puro
"chutômetro", qualquer cidadão razoavelmente bem informado pode ter
êxito em prever algum resultado de qualquer coisa. Ainda mais num pleito com
somente dois concorrentes. É verdade que não são os vices que decidem as
eleições. Seu peso é extremamente reduzido "no frigir dos ovos".
Ajudar eles não ajudam, mas podem atrapalhar barbaridades.
O
que vai contar nesta campanha será o ímpeto com que os dois candidatos vão se
lançar na conquista dos votos. As táticas de Michael Dukakis e de George Bush
são sobejamente conhecidas, até porque, democratas e republicanos divulgaram
suas plataformas. Quem estiver esperando discursos amenos, pode ficar
decepcionado. Os dois lados irão partir para a ofensiva.
O
partido que está no poder, obviamente, além de explorar os êxitos da
administração Reagan (alguns postos em "xeque", evidentemente, pela
oposição), vai traçar paralelos com o governo de Jimmy Carter, numa tática que
já rendeu frutos em duas eleições. Só que oito anos já se passaram sobre esse
período. E a memória do eleitor, seja ele de onde for, não é tão aguçada assim.
Muitos já se esqueceram por completo de Carter.
Os
democratas, por seu turno, vão se concentrar nos escândalos, como o
"Irã-contras", o relacionamento até cordial da Casa Branca (até o
início deste ano) com o regime do general Manuel Noriega, do Panamá; o
crescimento do tráfico e do consumo de drogas; as tíbias medidas para combater
a propagação da Aids e a elevação do déficit público norte-americano.
As
pesquisas de opinião, no entender dos observadores, não revelam coisa alguma,
pelo menos neste momento. A campanha ainda não chegou sequer a
"esquentar". E como sempre acontece, o nome do favorito deverá
emergir somente a uma ou duas semanas do pleito. Até lá, tudo o que se disser
não passará de mero palpite. E o nosso, com base puramente na intuição, é o de
que Dukakis deverá ser o vencedor.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 26 de agosto de
1988)
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