Monday, September 05, 2016

Pesquisas ou "chutometria"?


Pedro J. Bondaczuk


A escolha do candidato à vice-presidência, feita por George Bush, para as eleições presidenciais norte-americanas de 8 de novembro próximo, não poderia ter sido mais infeliz. O senador Dan Quayle, além da sua inexperiência política (que o levou a se auto apregoar como sendo um dos "maiores especialistas em segurança nacional" dos Estados Unidos), está metido numa série de encrencas, que a imprensa está explorando até onde pode.

Embora tenha sido divulgada ontem uma pesquisa de opinião da Rede ABC, dizendo que a sua presença na chapa era positiva, isto é sumamente contestável. Aliás, este tipo de consulta, uma verdadeira mania do norte-americano, também costuma apresentar "mancadas" homéricas. Nas eleições presidenciais de 1980, por exemplo, uma delas, de caráter nacional, dava os dois candidatos de então, Ronald Reagan e Jimmy Carter, como virtualmente empatados nas vésperas da votação.

No dia seguinte, foi aquele "massacre" que todos conhecem. É clara que às vezes tais pesquisas também acertam. Por sinal, na base do puro "chutômetro", qualquer cidadão razoavelmente bem informado pode ter êxito em prever algum resultado de qualquer coisa. Ainda mais num pleito com somente dois concorrentes. É verdade que não são os vices que decidem as eleições. Seu peso é extremamente reduzido "no frigir dos ovos". Ajudar eles não ajudam, mas podem atrapalhar barbaridades.

O que vai contar nesta campanha será o ímpeto com que os dois candidatos vão se lançar na conquista dos votos. As táticas de Michael Dukakis e de George Bush são sobejamente conhecidas, até porque, democratas e republicanos divulgaram suas plataformas. Quem estiver esperando discursos amenos, pode ficar decepcionado. Os dois lados irão partir para a ofensiva.

O partido que está no poder, obviamente, além de explorar os êxitos da administração Reagan (alguns postos em "xeque", evidentemente, pela oposição), vai traçar paralelos com o governo de Jimmy Carter, numa tática que já rendeu frutos em duas eleições. Só que oito anos já se passaram sobre esse período. E a memória do eleitor, seja ele de onde for, não é tão aguçada assim. Muitos já se esqueceram por completo de Carter.

Os democratas, por seu turno, vão se concentrar nos escândalos, como o "Irã-contras", o relacionamento até cordial da Casa Branca (até o início deste ano) com o regime do general Manuel Noriega, do Panamá; o crescimento do tráfico e do consumo de drogas; as tíbias medidas para combater a propagação da Aids e a elevação do déficit público norte-americano.

As pesquisas de opinião, no entender dos observadores, não revelam coisa alguma, pelo menos neste momento. A campanha ainda não chegou sequer a "esquentar". E como sempre acontece, o nome do favorito deverá emergir somente a uma ou duas semanas do pleito. Até lá, tudo o que se disser não passará de mero palpite. E o nosso, com base puramente na intuição, é o de que Dukakis deverá ser o vencedor.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 26 de agosto de 1988)


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