Antagonismo
civilizado
Pedro J. Bondaczuk
A quarta reunião de cúpula entre o presidente
norte-americano, Ronald Reagan, e o líder soviético, Mikhail Gorbachev, já está
assegurada, com a data marcada e a agenda praticamente completa. De todos os
encontros realizados pelos dois dirigentes, este foi o que teve a sua definição
mais fácil e rápida.
Desta feita, Moscou sequer fez questão que o acordo
para a redução de 50% dos mísseis de longo alcance das duas superpotências
estivesse pronto para ser assinado. Os dois lados concordaram que, se o pacto
não ficar concluído em tempo, até 29 de maio próximo, quando da realização da
conferência, sua assinatura pode ficar para uma outra ocasião.
Deixaram em aberto, portanto, a possibilidade de uma
quinta reunião de cúpula, o que será absolutamente inédito se vier a acontecer
e refletirá bem, o estado do relacionamento entre os dois gigantes mundiais.
Não há como negar que o clima existente entre a
União Soviética e os Estados Unidos, se ainda não é de cordialidade, pelo menos
é de um antagonismo civilizado. E, certamente, ficará melhor depois que os 115
mil soldados russos deixarem o Afeganistão.
A despeito do desmentido do chanceler Eduard
Shevardnadze, acerca dessa retirada, não tenham dúvidas de que ela acontecerá e,
provavelmente, dias antes do desembarque de Reagan em Moscou. Os soviéticos
sempre apreciaram esses lances dramáticos, que ganham manchetes e melhoram a
imagem do país no mundo. E deve ser isso o que está acontecendo.
Há muitos sinais de que a saída do território afegão
é iminente, para que o analista se engane ou se precipite. O clima criado na
URSS é todo ele propício a esse regresso. Inclusive os familiares dos pracinhas
já começam a ser repatriados, o que é um sintoma dos mais fortes de que essa
questão está próxima de uma solução.
O entendimento maior entre as superpotências, no
entanto, não significa que o mundo poderá afirmar que há paz. Isto está longe,
muito longe ainda de acontecer. Só que esse clima de cordialidade permitirá que
os problemas enormes que persistem sejam solucionados de forma racional e não
mais emocional, como vinha acontecendo até aqui.
Não teremos, de novo, os arroubos da guerra fria,
que tornavam até os noticiários monótonos, com a sucessão de xingamentos e de
ameaças mútuos que deixavam todos em suspense. Há, ainda, uma longa e penosa
caminhada a fazer, principalmente para se evitar retrocessos.
Afinal, as duas ideologias são antagônicas até por
definição. Mas fica a certeza que todos os caminhos da paz, daqui para frente,
conduzirão a Washington e a Moscou. Finalmente se progride, em termos de
relacionamento, neste violento e duro século XX.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 24 de março de 1988)
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