Aprendendo com o Ocidente
Pedro J. Bondaczuk
A
União Soviética, de tanto observar o comportamento ocidental face às crises,
começa a aprender como usar instrumentos de pressão econômica, para não
utilizar a força militar. É isso o que Mikhail Gorbachev vem fazendo em relação
à Lituânia, ao determinar, ontem, a primeira das medidas retaliatórias contra
essa República báltica, das muitas que certamente haverão de vir nos próximos
dias, para forçar seu Parlamento a revogar a declaração de independência de 11
de março passado e os mais de 80 leis e decretos aprovados desde então, à
revelia de Moscou. Os EUA, Grã-Bretanha e a CEE são "useiros e
vezeiros" desse expediente. O líder do Cremlin está em uma situação
delicadíssima, às vésperas da implantação de um "choque terapêutico"
na economia do seu país, sumamente impopular, que vai redundar, num primeiro
instante, numa brutal elevação do custo de vida, na redução do salário real e
no desemprego de pelo menos 10 milhões de trabalhadores.
Gorbachev
está sendo pressionado em sentidos opostos, interna e externamente e esbarra na
firme determinação secessionista dos lituanos. A perda dessa República, agora,
fatalmente redundará no desmembramento quase que imediato de outras quatro:
Estônia e Letônia (como a Lituânia, situadas no Mar Báltico) e Geórgia e
Azerbaijão, na região do Cáucaso. Dificilmente a linha dura do Partido
Comunista, ou até mesmo os direitistas nacionalistas russos, aceitarão tal
mutilação territorial. Caso ela aconteça, somada às conseqüências das duras
medidas econômicas que estão em elaboração, isto determinaria, fatalmente, a
queda do agora superpresidente soviético. Aliás, ele obteve tais poderes
excepcionais exatamente para que equacionasse, sem perdas para Moscou, o
problema secessionista.
Mas
paralelas às pressões internas, o dirigente vem sendo pressionado externamente
para moderar as ações em relação à Lituânia. E bem que ele tentou ser
conciliador. Chegou, mesmo, a debater o assunto com os lituanos em plena rua de
Vilnius, quando esteve nessa República báltica em 5 de fevereiro passado. É um
tanto estranho um Estado pertencente a determinado país, da noite para o dia,
sem qualquer negociação ou tratados prévios, decidir se tornar independente. É
como se o Acre, incorporado ao território brasileiro no início deste século
após a Revolução comandada por Plácido de Castro, resolvesse querer ser amanhã
um país. Como agiriam as nossas autoridades? Ficariam somente no terreno das
pressões econômicas? E se o Texas quisesse deixar os Estados Unidos? Não
ocorreria outra guerra da secessão, como a de 1865? Por que não deixam
Gorbachev um pouco em paz para resolver mais este grave problema? Ou seria
"ciumeira" pelo grande prestígio internacional que ele adquiriu?
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 18 de abril de
1990)
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