Sunday, May 18, 2014

Solidariedade popular


Pedro J. Bondaczuk


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar pesquisa em que revela que cerca de 90% da população do País considera necessária a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, a campanha encabeçada pelo sociólogo Herbert de Souza para, entre outras coisas, combater a fome de parcela expressiva dos cidadãos, ou melhor, dos excluídos da cidadania.

Dos consultados, 30% contribuem de alguma forma, ou com alimentos ou em espécie, para ajudar o próximo. Nada mau, principalmente se levarmos em conta que poucos estão nadando em dinheiro. É falsa, portanto, a afirmação, bastante comum, de que o nosso povo não é solidário e que se apega a um egoísmo sem limites.

Mas se a população merece louvores, por essa preocupação com o próximo, o mesmo não se pode dizer dos que poderiam e deveriam resolver os problemas econômicos e sociais do País, com programas consistentes e probidade administrativa, e não o fazem: os políticos.

Na semana passada, o presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), Dom Mauro Morelli, criticou, por exemplo, as dificuldades políticas e a corrupção que têm atrapalhado a distribuição de 400 toneladas de alimentos do estoque regulador do governo para as famílias carentes do Nordeste. É lamentável que isto ainda ocorra.

O pior é que os gêneros, que são perecíveis, acabam se estragando nos armazéns --- e a imprensa tem mostrado isso com grande freqüência --- enquanto que as pessoas que seriam beneficiadas com essa comida não têm o que comer. Essa atitude, além de perniciosa, é criminosa.

Dom Mauro citou, como entraves mais comuns, as dificuldades legais e burocráticas (sempre os burocratas!), a má vontade dos transportadores e, como não poderia faltar, o jogo político atrapalhando o atendimento aos carentes.

Daí a sociedade estar buscando suas próprias alternativas. O problema da miséria no Brasil sequer é uma questão de falta de recursos, como ocorre, por exemplo, em paupérrimos países africanos. É a ausência de uma vontade política. São a incompetência e a corrupção. É a "fogueira das vaidades" de indivíduos que não entendem o alcance e a responsabilidade de um mandado popular que lhes é conferido através do voto. É aí que o País precisa mudar!


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de agosto de 1994)

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