Solidariedade popular
Pedro J. Bondaczuk
O
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar
pesquisa em que revela que cerca de 90% da população do País considera
necessária a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, a campanha
encabeçada pelo sociólogo Herbert de Souza para, entre outras coisas, combater
a fome de parcela expressiva dos cidadãos, ou melhor, dos excluídos da
cidadania.
Dos
consultados, 30% contribuem de alguma forma, ou com alimentos ou em espécie,
para ajudar o próximo. Nada mau, principalmente se levarmos em conta que poucos
estão nadando em dinheiro. É falsa, portanto, a afirmação, bastante comum, de
que o nosso povo não é solidário e que se apega a um egoísmo sem limites.
Mas
se a população merece louvores, por essa preocupação com o próximo, o mesmo não
se pode dizer dos que poderiam e deveriam resolver os problemas econômicos e
sociais do País, com programas consistentes e probidade administrativa, e não o
fazem: os políticos.
Na
semana passada, o presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar
(Consea), Dom Mauro Morelli, criticou, por exemplo, as dificuldades políticas e
a corrupção que têm atrapalhado a distribuição de 400 toneladas de alimentos do
estoque regulador do governo para as famílias carentes do Nordeste. É
lamentável que isto ainda ocorra.
O
pior é que os gêneros, que são perecíveis, acabam se estragando nos armazéns
--- e a imprensa tem mostrado isso com grande freqüência --- enquanto que as
pessoas que seriam beneficiadas com essa comida não têm o que comer. Essa
atitude, além de perniciosa, é criminosa.
Dom
Mauro citou, como entraves mais comuns, as dificuldades legais e burocráticas
(sempre os burocratas!), a má vontade dos transportadores e, como não poderia
faltar, o jogo político atrapalhando o atendimento aos carentes.
Daí
a sociedade estar buscando suas próprias alternativas. O problema da miséria no
Brasil sequer é uma questão de falta de recursos, como ocorre, por exemplo, em
paupérrimos países africanos. É a ausência de uma vontade política. São a
incompetência e a corrupção. É a "fogueira das vaidades" de
indivíduos que não entendem o alcance e a responsabilidade de um mandado
popular que lhes é conferido através do voto. É aí que o País precisa mudar!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de agosto de 1994)
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