Bomba
de efeito retardado
Pedro J. Bondaczuk
Os dados divulgados ontem, em relatório da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), a respeito do desemprego e do
subemprego no mundo são, simplesmente, aterradores. Os dados revelam que no
Terceiro Mundo – o primo pobre da comunidade mundial (aliás, quantitativamente,
a grande maioria da população do Planeta) – existem 500 milhões de pessoas sem
ocupação. Ou seja, em outras palavras, há meio bilhão de homens e mulheres,
adultos e válidos, sem qualquer fonte de
renda para o próprio sustento e o das suas famílias.
Se as revelações do documento parassem por aí,
embora horríveis e calamitosas, não seriam tão ruins. Mas não param. O
relatório traz outros dados, tão contundentes quanto estes. A OIT conclui que
estes países tão pobres (entre os quais o Brasil está incluído), vão precisar
criar, em conjunto, 50 milhões de empregos por ano para reduzir o problema a
níveis minimamente aceitáveis.
E a Organização Internacional do Trabalho vai ainda
mais longe em seu estudo. Alerta que até o ano 2000 (número cabalístico para os
supersticiosos) um novo e gigantesco contingente de pessoas, atualmente na fase
da infância, será lançado no mercado de trabalho.
Em resumo, além de ter que criar empregos para 500
milhões de adultos, atualmente sem ocupação, os países mais pobres do Planeta
ainda terão que descobrir alguma fórmula mágica para ocupar sua imensa legião
de jovens, que pede passagem para ter sua parcela de oportunidade na vida.
Colocado o problema em termos financeiros, a OIT
conclui que, para minorar essa situação aberrante, em que imensas multidões se
vêem condenadas à inexorável miséria e degradação social, por falta de
oportunidades profissionais, o Terceiro Mundo teria que despender US$ 559
bilhões até o ano 2000!
Isso mesmo, mais de meio trilhão de dólares!
Trata-se de quantia superior, inclusive, a toda a dívida externa da América
Latina. Mas como conseguir tantos recursos, se os países desenvolvidos, em
estado superior de civilização, gastam US$ 1,5 bilhão por dia (e é dia mesmo,
de 24 horas!) em armamentos, mas fazem questão de impor barreiras
protecionistas aos produtos do Terceiro Mundo, a única forma que esses povos
têm de amealhar algumas migalhas que caem da mesa dos ricos?!
Como conseguir tanto dinheiro, se aquilo que as
comunidades mais pobres produzem durante todo um ano de sacrifícios e de
privações não cobre, sequer, o pagamento de juros da sua dívida externa?! Onde
esse impasse vai levar a humanidade, às vésperas de um novo milênio?
O que dói, não é apenas isso. É fato das
superpotências acharem que o que gastam com armas nucleares ainda é muito
pouco, face ao que pretendiam. Que mundo vamos legar aos nossos filhos e nossos
netos?!
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 5 de junho de 1984)
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