Tuesday, May 20, 2014

Origem das festas de aniversário

Pedro J. Bondaczuk

As festas de aniversário tornaram-se, hoje em dia, a celebração mais comum em todo o mundo, e popularizam-se, mais e mais, dada a própria globalização, que tende a padronizar hábitos e comportamentos. Perderam, há muito, e por completo, o caráter ritual que tiveram em sua origem. Tornaram-se eventos puramente familiares e/ou sociais. Ricos e pobres as promovem, indistintamente, claro, cada qual com as respectivas condições econômicas com que contam. Há festas suntuosas, banquetes com grande variedade de comidas e de bebidas, realizadas em amplos e luxuosos salões ou em restaurantes sofisticados e há, em contrapartida, meras reuniões informais, congregando, apenas, parentes e amigos mais chegados dos aniversariantes, com um ou outro salgadinho, refrigerantes baratos ou sucos caseiros se tanto.

Uma coisa, porém, não falta nas celebrações, tanto dos ricos, quanto dos pobres: o bolo de aniversário, contendo as insubstituíveis velinhas – às vezes uma para cada ano completado, outras com apenas uma, mas no formato do número de anos que a pessoa completa e em outros ainda, também uma única, posto que maior, geralmente no caso em que quem aniversaria é um adulto completando algumas décadas de vida. A intenção dos promotores dessas comemorações não é a de reverenciar nenhum deus, com esses elementos, como antigamente. Mas a origem desse costume era a reverência à divindade patrona do dia.

O costume de se consumir bolos em homenagem aos aniversariantes começou na Grécia. Aliás, em princípio, estes não eram consumidos nem por quem aniversariava e muito menos pelos convidados. A iguaria era destinada ao altar do templo de Artemis. Era uma forma de se pedir proteção à deusa, filha de Zeus e de Leda, irmã de Apolo, associada à luz da lua e à magia. Quem se deliciava com a iguaria eram os sacerdotes da referida divindade. Os bolos eram feitos de farinha, leite, fermento e mel. Por que? Porque o açúcar, como o conhecemos hoje, embora já produzido pelos indianos (seus descobridores no século VIII antes de Cristo), era raríssimo no resto do mundo. Popularizou-se, somente, principalmente na Europa, por volta do século XV da nossa era.

Os bolos tinham formato redondo, em alusão à lua,e eram iluminados com velas que, na crença popular, seriam dotadas de magia especial, propiciando o atendimento dos pedidos feitos por quem aniversariava. Os romanos, após conquistarem a Grécia e anexarem-na ao seu vasto império, adotaram o mesmo costume. Com o tempo, as pessoas passaram a confeccionar dois bolos de aniversário: um para o altar de Artemis (a Diana dos romanos) e outro para o consumo do aniversariante,  parentes e convidados. Mais tarde, se restringiram a um único, para consumo dos participantes da festa e  não mais oferecido à deusa.

Os europeus, em geral, apenas começaram a festejar aniversários após o século IV da nossa era, quando da liberação dos cristãos para fazê-lo. Antes, os seguidores de Cristo eram proibidos desse tipo de festejo, interpretado como cerimônia pagã (que, de fato, era). Os vários povos europeus passaram a adotar esse costume por motivo ligeiramente diverso dos gregos e dos romanos. De acordo com a enciclopédia eletrônica Wikipédia, eles invocavam fadas (e não mais deuses) boas e más. Todos temiam que esses espíritos, caso não fossem reverenciados, prejudicassem, de alguma forma, os aniversariantes. Entendiam que uma das formas de impedir isso era cercá-lo de parentes e de amigos, cuja presença e cujos votos de felicidade o protegeriam dos malefícios das fadas más e atrairia os benefícios das boas.

Os bolos de mel eram consumidos, mas sem o mesmo objetivo dos gregos e dos romanos. O consumo era, apenas, para manter a tradição. Já as velas tinham a função de “veículos”, para levarem os pedidos dos aniversariantes até as fadas boas que os atenderiam ou não. O hábito de cantar “parabéns pra você” surgiu muito tempo depois e é relativamente recente. Substituiu os votos e preces de parentes e amigos para que os deuses (no caso dos gregos e dos romanos) ou as fadas boas (no dos europeus), protegessem a vida e garantissem a saúde e a prosperidade, por todo um ano, de quem aniversariava.

Como se vê, o tempo passou, os costumes mudaram, as crenças passaram a ser outras, mas essa tradição milenar se manteve até os dias atuais, embora com intenções e formas de celebração muito diferentes das originais. Hoje em dia, nas grandes cidades, há várias empresas especializadas somente em festas de aniversário. Claro, para quem pode pagar por esse luxo. Estas, além das comidas e bebidas, das mais variadas e sofisticadas, encarregam-se de shows variados para entreter os convidados. Caso o aniversariante seja criança (a maioria é), são programadas apresentações de mágica, ou são contratados palhaços, ou são encenadas pequenas peças de teatro infantis e vai por aí afora. Para os mais crescidinhos, o programa pode incluir (em geral inclui) bailes. Enfim, tudo depende do gosto e, principalmente do bolso de quem promove essas já seculares festas.


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