Escândalo será a tônica da campanha
Pedro J. Bondaczuk
A troca de acusações entre
os pré-candidatos republicanos à presidência dos Estados Unidos, nas eleições
de novembro próximo, o vice-presidente George Bush e o ex-secretário de Estado
de Ronald Reagan em seu primeiro
mandato, Alexander Haig, dá uma exata medida do que será a próxima campanha,
que aliás já está nas ruas, quando se sabe que as primeiras primárias vão
acontecer a partir do corrente mês.
Queira
ou não queira, goste ou não goste, o partido que está no poder vai Ter que
enfrentar o escândalo “Irã-contras” como principal obstáculo. Quem é membro da
agremiação e não esteve envolvido no “affaire”, vai procurar um “bode
expiatório” para lograr alguma vantagem, inicialmente junto aos delegados
partidários e, posteriormente, perante o eleitorado.
Nesse
caso, ninguém é mais indicado para levar as “sobras” desse monumental erro
político da atual administração do que o atual vice-presidente. Em primeiro
lugar, ele é o pré-candidato mais popular do partido, conforme mostram as
pesquisas.
Por
isso, quem tiver alguma ambição pela postulação vai atacá-lo de rijo. Em
segundo lugar, há muito tempo Bush aspira a Casa Branca, construindo
laboriosamente uma carreira política ao longo de praticamente duas décadas.
Quem deve estar vibrando com a lavagem pública da roupa suja republicana são os
democratas. Em especial, o ex-senador Gary Hart, marcado por um escândalo
pessoal, quando suas relações extraconjugais com a atriz e modelo Donna Rice
deixaram-no marcado perante os norte-americanos.
O
pré-candidato democrata, que surpreendeu os meios políticos ao retomar sua
campanha dias atrás, parece ter entendido muito bem isso. E não se fez de
rogado. Num discurso que pronunciou nesta semana, “espinafrou” a administração
Reagan, sem dó e nem piedade, ressaltando o “Irangate” e comparando o caso com
suas escapadas amorosas. Em detrimento do primeiro caso, é claro.
Bush,
no primeiro instante, parece ainda atordoado com a matéria do jornal “The
Washington Post”, publicada há três dias, sugerindo que a sua participação no
escândalo da venda de armas à República Islâmica seria muito maior do que ele
tenta dar a entender.
Ao
invés de desviar a atenção da opinião pública, está cotucando a onça com vara
curta, criticando a imprensa (como, aliás, Hart havia feito em meio de 1987, ao
desistir da sua pré-candidatura).
A
campanha de 1976 foi marcada, toda ela, pelo “Watergate”, possibilitando uma
vitória de Jimmy Carter, que na ocasião não tinha sequer grande expressão
nacional. A de 1980, foi pontilhada pelo fracasso na libertação dos reféns
norte-americanos no Irã e principalmente pela inflação.
A
de 1984, não foi contra ninguém, mas destacou os sucessos da “Reaganomic”. A de
1988, não tenham dúvidas, terá como tônica o “Irangate”, do qual somente
Reagan, ao que parece, não vai pagar preço algum.
(Artigo
publicado na página 21, Internacional, do Correio Popular, em 10 de janeiro de
1988).
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