Thursday, May 01, 2014

Escândalo será a tônica da campanha


Pedro J. Bondaczuk


A troca de acusações entre os pré-candidatos republicanos à presidência dos Estados Unidos, nas eleições de novembro próximo, o vice-presidente George Bush e o ex-secretário de Estado de Ronald Reagan em  seu primeiro mandato, Alexander Haig, dá uma exata medida do que será a próxima campanha, que aliás já está nas ruas, quando se sabe que as primeiras primárias vão acontecer a partir do corrente mês.

Queira ou não queira, goste ou não goste, o partido que está no poder vai Ter que enfrentar o escândalo “Irã-contras” como principal obstáculo. Quem é membro da agremiação e não esteve envolvido no “affaire”, vai procurar um “bode expiatório” para lograr alguma vantagem, inicialmente junto aos delegados partidários e, posteriormente, perante o eleitorado.

Nesse caso, ninguém é mais indicado para levar as “sobras” desse monumental erro político da atual administração do que o atual vice-presidente. Em primeiro lugar, ele é o pré-candidato mais popular do partido, conforme mostram as pesquisas.

Por isso, quem tiver alguma ambição pela postulação vai atacá-lo de rijo. Em segundo lugar, há muito tempo Bush aspira a Casa Branca, construindo laboriosamente uma carreira política ao longo de praticamente duas décadas. Quem deve estar vibrando com a lavagem pública da roupa suja republicana são os democratas. Em especial, o ex-senador Gary Hart, marcado por um escândalo pessoal, quando suas relações extraconjugais com a atriz e modelo Donna Rice deixaram-no marcado perante os norte-americanos.

O pré-candidato democrata, que surpreendeu os meios políticos ao retomar sua campanha dias atrás, parece ter entendido muito bem isso. E não se fez de rogado. Num discurso que pronunciou nesta semana, “espinafrou” a administração Reagan, sem dó e nem piedade, ressaltando o “Irangate” e comparando o caso com suas escapadas amorosas. Em detrimento do primeiro caso, é claro.

Bush, no primeiro instante, parece ainda atordoado com a matéria do jornal “The Washington Post”, publicada há três dias, sugerindo que a sua participação no escândalo da venda de armas à República Islâmica seria muito maior do que ele tenta dar a entender.

Ao invés de desviar a atenção da opinião pública, está cotucando a onça com vara curta, criticando a imprensa (como, aliás, Hart havia feito em meio de 1987, ao desistir da sua pré-candidatura).

A campanha de 1976 foi marcada, toda ela, pelo “Watergate”, possibilitando uma vitória de Jimmy Carter, que na ocasião não tinha sequer grande expressão nacional. A de 1980, foi pontilhada pelo fracasso na libertação dos reféns norte-americanos no Irã e principalmente pela inflação.

A de 1984, não foi contra ninguém, mas destacou os sucessos da “Reaganomic”. A de 1988, não tenham dúvidas, terá como tônica o “Irangate”, do qual somente Reagan, ao que parece, não vai pagar preço algum.

(Artigo publicado na página 21, Internacional, do Correio Popular, em 10 de janeiro de 1988).

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