Friday, May 30, 2014

Liberdade é assunto de todos


Pedro J. Bondaczuk

O escritor Ellie Wiesel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1986, escreveu num de seus trabalhos: “Quando um grupo é perseguido, a humanidade inteira é atingida”. E é isto o que vem ocorrendo na China, com a intensa perseguição, por parte das autoridades do país, aos participantes do movimento pró-democracia, selvagemente reprimido, a poder de balas e de tanques, nos dias 3 e 4 de junho passado, num massacre que vai ficar na história, não somente por sua brutalidade, mas, principalmente, em razão do cinismo de ser ainda “justificado”.

Esses incidentes, ao contrário do que muitos pensam, não afetaram, e nem estão afetando, apenas os chineses. Todos nós estamos sendo atingidos por essa demonstração de prepotência, mesmo com esses acontecimentos ocorrendo do outro lado do mundo.

Para ressaltar isso e para que possamos manifestar o nosso repúdio a esse tipo de comportamento, o Grupo de Campinas, da Anistia Internacional, promove, amanhã, às 20 horas, no teatro de arena do Centro de Convivência, o manifesto “SOS China”. Seu objetivo é denunciar as violações dos direitos humanos nesse país asiático e ele constará de abaixo-assinados a serem remetidos às autoridades chinesas e performances.

Pede-se aos participantes que levem uma vela, símbolo do movimento, que será acesa durante cinco minutos de silêncio. Quem comparecer (e esperamos que um número muito grande de campineiros compareça), também poderá levar manifestações pessoais, por escrito e abertas, que serão anexadas ao documento com as assinaturas.

Muitos poderão perguntar: “O que eu tenho a ver com os acontecimentos na China, se no meu país as coisas andam tão complicadas?”. Acontece que acima das barreiras nacionais, de raças, povos e línguas, está uma coisa que nos une a todos: a nossa humanidade.

Os maus exemplos, desgraçadamente, costumam frutificar muito mais do que os bons. Por isso, reproduzimos, abaixo, o que Berthold Brecht disse a esse propósito (que já mencionamos tempos atrás num comentário, mas que sempre é oportuno repetir, pelo fundo de verdade que contém):

“Primeiro, levaram os comunistas,/mas a mim não importa,/porque não sou comunista.//Em seguida, levaram uns trabalhadores,/mas a mim não importa,/porque não sou trabalhador.//Depois, detiveram a uns sindicalistas,/mas a mim não importa,/porque não sou sindicalista.//Logo, prenderam uns sacerdotes,/mas como eu não sou religioso,/tampouco me importa.//Agora, estão me levando,/mas já é tarde”. Cuidemos, pois, que não sejamos um dia penalizados pela nossa omissão quando deveríamos ter agido.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 5 de julho de 1989).


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