Liberdade é assunto de todos
Pedro J. Bondaczuk
O escritor Ellie Wiesel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz
de 1986, escreveu num de seus trabalhos: “Quando um grupo é perseguido, a
humanidade inteira é atingida”. E é isto o que vem ocorrendo na China, com a
intensa perseguição, por parte das autoridades do país, aos participantes do
movimento pró-democracia, selvagemente reprimido, a poder de balas e de
tanques, nos dias 3 e 4 de junho passado, num massacre que vai ficar na
história, não somente por sua brutalidade, mas, principalmente, em razão do
cinismo de ser ainda “justificado”.
Esses incidentes, ao contrário do que muitos pensam,
não afetaram, e nem estão afetando, apenas os chineses. Todos nós estamos sendo
atingidos por essa demonstração de prepotência, mesmo com esses acontecimentos
ocorrendo do outro lado do mundo.
Para ressaltar isso e para que possamos manifestar o
nosso repúdio a esse tipo de comportamento, o Grupo de Campinas, da Anistia
Internacional, promove, amanhã, às 20 horas, no teatro de arena do Centro de
Convivência, o manifesto “SOS China”. Seu objetivo é denunciar as violações dos
direitos humanos nesse país asiático e ele constará de abaixo-assinados a serem
remetidos às autoridades chinesas e performances.
Pede-se aos participantes que levem uma vela,
símbolo do movimento, que será acesa durante cinco minutos de silêncio. Quem
comparecer (e esperamos que um número muito grande de campineiros compareça),
também poderá levar manifestações pessoais, por escrito e abertas, que serão anexadas
ao documento com as assinaturas.
Muitos poderão perguntar: “O que eu tenho a ver com
os acontecimentos na China, se no meu país as coisas andam tão complicadas?”.
Acontece que acima das barreiras nacionais, de raças, povos e línguas, está uma
coisa que nos une a todos: a nossa humanidade.
Os maus exemplos, desgraçadamente, costumam
frutificar muito mais do que os bons. Por isso, reproduzimos, abaixo, o que
Berthold Brecht disse a esse propósito (que já mencionamos tempos atrás num
comentário, mas que sempre é oportuno repetir, pelo fundo de verdade que
contém):
“Primeiro, levaram os comunistas,/mas a mim não
importa,/porque não sou comunista.//Em seguida, levaram uns trabalhadores,/mas
a mim não importa,/porque não sou trabalhador.//Depois, detiveram a uns
sindicalistas,/mas a mim não importa,/porque não sou sindicalista.//Logo,
prenderam uns sacerdotes,/mas como eu não sou religioso,/tampouco me
importa.//Agora, estão me levando,/mas já é tarde”. Cuidemos, pois, que não
sejamos um dia penalizados pela nossa omissão quando deveríamos ter agido.
(Artigo publicado na
página 12, Internacional, do Correio Popular, em 5 de julho de 1989).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment