Preservar
é vital
Pedro J.
Bondaczuk
"O
mundo está à beira de uma catástrofe climática, de conseqüências imprevisíveis,
por causa do aquecimento do Planeta provocado pela enorme emissão de gases
poluentes na atmosfera e da ruptura na camada de ozônio".
Esse
alerta dramático foi feito há já duas décadas por renomada instituição
preservacionista norte-americana, mas não foi levado a sério. Não mereceu, na
época, sequer reles nota de pé de página na maioria dos jornais. Foi tratado
como assunto secundário, atrás das preocupações econômicas e das estripulias
dos políticos que, convenhamos, nunca se constituíram em novidade. No entanto,
a advertência estava solidamente fundamentada em dados concretos.
O
tema poluição freqüentou muito as manchetes na década de 60, quando o problema
era bem menor. Já então, os dados de que se dispunha eram assustadores.
Ninguém, contudo, tomou qualquer providência. A argumentação, na época, era a
de que a miséria era pior do que a agressão ao meio ambiente. Dizia-se que era
preciso produzir o máximo de bens, para que toda a humanidade pudesse ter
acesso a melhores condições de vida.
Alguns grupos e
pessoas, de fato, enriqueceram no período, como nunca. Mas o estado de
miserabilidade da maioria da população terrestre multiplicou-se
vertiginosamente. Portanto, o patrimônio comum de todos nós foi depredado em
benefício de pouquíssimos. Hoje, a situação na "espaçonave" Terra é
gravíssima e poucos se dão conta. Ela está superlotada – está com mais de 7
bilhões de "passageiros" – o lixo acumula-se por toda a parte,
pedaços dela são queimados para a geração de energia, o calor aumenta, a fumaça
sufoca e a tripulação está mais ameaçada do que nunca. Temas como este ainda
são encarados com olímpico pouco caso, como se houvesse outro planeta melhor à
nossa espera, depois de depredarmos este. Mas não há!
Não
seria possível produzir mais, sem poluir? Não há uma maneira racional de se
explorar o que a natureza nos legou sem destruir? Os recursos terrestres não
são como a mitológica "cornucópia da abundância", ou seja,
inesgotáveis. O escritor Ulrich Schipke fez uma advertência, num de seus
livros, que deveria ser tema de profunda reflexão por parte dos que têm
capacidade de decisão: "Encontram-se em evolução cinco processos que ameaçam
a existência da nave espacial Terra: explosão demográfica, industrialização
descuidada, progressiva carência de alimentos, diminuição das reservas de
matérias-primas e poluição do ambiente. Qualquer destes processos pode
transformar a Terra num astro tão morto como a Lua". Infelizmente, isto
não é ficção científica.
O
líder pacifista indiano, Mohandas Karamanchand Gandhi, ensinou que "a
Terra é suficiente para as necessidades básicas de todos, mas não para a
voracidade dos consumistas". Todavia, nos dias atuais, são estes os que
prevalecem, causando catastrófica depredação planetária, nem sempre delatada,
ou pelo menos não em sua verdadeira dimensão. Indiferentes ao fato de que estão
neste mundo apenas de passagem, e que seu papel, a sua razão de viver, é a de preparar
condições propícias para que futuras gerações vivam melhor, certas pessoas, ou
grupos, ou governos, ou corporações, usam e abusam dos recursos de que a
natureza nos dotou.
O
desarranjo climático, que vem se verificando em várias partes do Planeta, tem
sido freqüente demais para poder ser caracterizado como episódico, eventual ou
passageiro. Volta e meia, o noticiário registra incêndios florestais em Los
Angeles e seus arredores, a cada ano mais difíceis de serem controlados. O frio
castiga o hemisfério Norte com inusitada dureza. Registram-se, por exemplo, e
já há alguns dias, temperaturas baixíssimas, de até 40 graus centígrados
negativos, em vastas áreas dos Estados Unidos. Em contrapartida, os
termômetros, na Austrália, marcam esses mesmos números, só que positivos, ou
seja, de calor escaldante. Secas catastróficas, invernos extremamente
rigorosos, verões inusitadamente quentes e inundações desastrosas repetem-se,
aqui e ali, ano após ano, sem que se faça algo de efetivo em favor do
equilíbrio do meio ambiente.
Os
compromissos assumidos na ECO-92, a conferência mundial sobre ecologia,
realizada no Rio de Janeiro em 1992, e em encontros de cúpula posteriores,
ficaram apenas no papel. Pouca coisa, senão nenhuma, se fez para evitar o
aumento, por exemplo, do rombo na camada de ozônio. Os produtos responsáveis
pela destruição dessa capa protetora, continuam sendo utilizados, embora esteja
mais do que comprovada sua ação nociva sobre a atmosfera. A poluição do ar, da
água e da terra (mediante o uso de agrotóxicos), tem aumentado, ao invés de
diminuir, embora todos admitam que o perigo do temido "efeito estufa"
existe e não é pura fantasia.
A
ecologia tornou-se apenas modismo, dos que procuram notoriedade, através de
espaços na imprensa. Alguns fazem dela cabo eleitoral, slogan político,
bandeira utópica e nada mais. Ocorre que o Planeta não pertence a ninguém. É um
condomínio. Ou, para utilizar metáfora mais precisa, é uma espécie de nave
natural, que viaja no espaço vazio, com destino ignorado. Seu interior é
limitado e tem que ser compartilhado por esta e por futuras gerações. Os
recursos são finitos e alguns não são renováveis. Caso a Terra seja destruída –
e está sendo – não teremos onde ficar. O homem desaparecerá também.
Trata-se
de realidade tão óbvia, que seria desnecessário mencionar. Ocorre que a maioria
não se dá conta e trata a natureza como se fosse algo descartável,
"prêt-à-porter", que se possa "usar e jogar fora". Claro
que não pode! Enquanto o homem não fizer do preservacionismo mais do que mero
assunto da moda e não o transformar em consciência, estaremos todos, sem
exceção, da presente e das vindouras gerações, em sérios, em seriíssimos
apuros. Pensem nisso.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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