Friday, May 16, 2014

Preservar é vital

Pedro J. Bondaczuk

"O mundo está à beira de uma catástrofe climática, de conseqüências imprevisíveis, por causa do aquecimento do Planeta provocado pela enorme emissão de gases poluentes na atmosfera e da ruptura na camada de ozônio".

Esse alerta dramático foi feito há já duas décadas por renomada instituição preservacionista norte-americana, mas não foi levado a sério. Não mereceu, na época, sequer reles nota de pé de página na maioria dos jornais. Foi tratado como assunto secundário, atrás das preocupações econômicas e das estripulias dos políticos que, convenhamos, nunca se constituíram em novidade. No entanto, a advertência estava solidamente fundamentada em dados concretos.

O tema poluição freqüentou muito as manchetes na década de 60, quando o problema era bem menor. Já então, os dados de que se dispunha eram assustadores. Ninguém, contudo, tomou qualquer providência. A argumentação, na época, era a de que a miséria era pior do que a agressão ao meio ambiente. Dizia-se que era preciso produzir o máximo de bens, para que toda a humanidade pudesse ter acesso a melhores condições de vida.

Alguns grupos e pessoas, de fato, enriqueceram no período, como nunca. Mas o estado de miserabilidade da maioria da população terrestre multiplicou-se vertiginosamente. Portanto, o patrimônio comum de todos nós foi depredado em benefício de pouquíssimos. Hoje, a situação na "espaçonave" Terra é gravíssima e poucos se dão conta. Ela está superlotada – está com mais de 7 bilhões de "passageiros" – o lixo acumula-se por toda a parte, pedaços dela são queimados para a geração de energia, o calor aumenta, a fumaça sufoca e a tripulação está mais ameaçada do que nunca. Temas como este ainda são encarados com olímpico pouco caso, como se houvesse outro planeta melhor à nossa espera, depois de depredarmos este. Mas não há!

Não seria possível produzir mais, sem poluir? Não há uma maneira racional de se explorar o que a natureza nos legou sem destruir? Os recursos terrestres não são como a mitológica "cornucópia da abundância", ou seja, inesgotáveis. O escritor Ulrich Schipke fez uma advertência, num de seus livros, que deveria ser tema de profunda reflexão por parte dos que têm capacidade de decisão: "Encontram-se em evolução cinco processos que ameaçam a existência da nave espacial Terra: explosão demográfica, industrialização descuidada, progressiva carência de alimentos, diminuição das reservas de matérias-primas e poluição do ambiente. Qualquer destes processos pode transformar a Terra num astro tão morto como a Lua". Infelizmente, isto não é ficção científica.

O líder pacifista indiano, Mohandas Karamanchand Gandhi, ensinou que "a Terra é suficiente para as necessidades básicas de todos, mas não para a voracidade dos consumistas". Todavia, nos dias atuais, são estes os que prevalecem, causando catastrófica depredação planetária, nem sempre delatada, ou pelo menos não em sua verdadeira dimensão. Indiferentes ao fato de que estão neste mundo apenas de passagem, e que seu papel, a sua razão de viver, é a de preparar condições propícias para que futuras gerações vivam melhor, certas pessoas, ou grupos, ou governos, ou corporações, usam e abusam dos recursos de que a natureza nos dotou.

O desarranjo climático, que vem se verificando em várias partes do Planeta, tem sido freqüente demais para poder ser caracterizado como episódico, eventual ou passageiro. Volta e meia, o noticiário registra incêndios florestais em Los Angeles e seus arredores, a cada ano mais difíceis de serem controlados. O frio castiga o hemisfério Norte com inusitada dureza. Registram-se, por exemplo, e já há alguns dias, temperaturas baixíssimas, de até 40 graus centígrados negativos, em vastas áreas dos Estados Unidos. Em contrapartida, os termômetros, na Austrália, marcam esses mesmos números, só que positivos, ou seja, de calor escaldante. Secas catastróficas, invernos extremamente rigorosos, verões inusitadamente quentes e inundações desastrosas repetem-se, aqui e ali, ano após ano, sem que se faça algo de efetivo em favor do equilíbrio do meio ambiente.

Os compromissos assumidos na ECO-92, a conferência mundial sobre ecologia, realizada no Rio de Janeiro em 1992, e em encontros de cúpula posteriores, ficaram apenas no papel. Pouca coisa, senão nenhuma, se fez para evitar o aumento, por exemplo, do rombo na camada de ozônio. Os produtos responsáveis pela destruição dessa capa protetora, continuam sendo utilizados, embora esteja mais do que comprovada sua ação nociva sobre a atmosfera. A poluição do ar, da água e da terra (mediante o uso de agrotóxicos), tem aumentado, ao invés de diminuir, embora todos admitam que o perigo do temido "efeito estufa" existe e não é pura fantasia.

A ecologia tornou-se apenas modismo, dos que procuram notoriedade, através de espaços na imprensa. Alguns fazem dela cabo eleitoral, slogan político, bandeira utópica e nada mais. Ocorre que o Planeta não pertence a ninguém. É um condomínio. Ou, para utilizar metáfora mais precisa, é uma espécie de nave natural, que viaja no espaço vazio, com destino ignorado. Seu interior é limitado e tem que ser compartilhado por esta e por futuras gerações. Os recursos são finitos e alguns não são renováveis. Caso a Terra seja destruída – e está sendo – não teremos onde ficar. O homem desaparecerá também.

Trata-se de realidade tão óbvia, que seria desnecessário mencionar. Ocorre que a maioria não se dá conta e trata a natureza como se fosse algo descartável, "prêt-à-porter", que se possa "usar e jogar fora". Claro que não pode! Enquanto o homem não fizer do preservacionismo mais do que mero assunto da moda e não o transformar em consciência, estaremos todos, sem exceção, da presente e das vindouras gerações, em sérios, em seriíssimos apuros. Pensem nisso.


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