Saturday, May 17, 2014

Origem do hábito de comemorar aniversários

Pedro J. Bondaczuk

O hábito de se comemorar aniversários de nascimento é antiqüíssimo e varia de conformidade com cada cultura. Nem sempre, todavia, foi tão generalizado, como é na atualidade. Durante muitos séculos, por exemplo, os cristãos não festejavam estas datas, por considerarem que se tratava de um costume pagão. Entendiam, pois, que tais celebrações eram uma heresia. Antes deles, os judeus agiam da mesma forma e pelos mesmos motivos. É possível determinar uma época específica, mesmo que aproximada, em que esse tipo de festejo teve início? Sim, é possível, posto que não com exatidão.

Aqui recorro a uma informação que colhi no site “Mundo estranho” – WWW.mundoestranho.abril.com.br – que cita o livro “The lore of birthdays” (“A sabedoria dos aniversários”), nunca lançado no Brasil. Seus autores, os antropólogos norte-americanos Ralph e Adelin Linton, afirmam que o hábito de comemorar datas de nascimento surgiu no Egito, por volta do ano 3.000 antes de Cristo. Não citam no que se basearam para chegarem a essa conclusão. Presumo que, como tudo o que se refira à história antiga, não passe de um chute, de mero palpite. Afinal, como poderiam saber dos costumes (entre os quais, este) de povos que desapareceram sem deixar vestígios, que viveram antes não somente dos egípcios, mas até mesmo antes da invenção da escrita? Não há como!

Mas... aceitemos essa hipótese (ou palpite, sei lá) como um fato, e não como mera especulação (que acredito que seja), Até porque há um fundo de verdade nisso, posto que tênue. Afinal, os egípcios, de fato, celebravam aniversários, conforme se deduz de hieróglifos que sobreviveram ao tempo e chegaram até nós. Essas comemorações não eram generalizadas, como hoje. Não envolviam pessoas comuns, do povo, os cidadãos. E muito menos, é evidente, os milhares de escravos que havia nesse império. Só eram comemorados aniversários de faraós e de “deuses”.

O mesmo ocorria com os gregos, que adotaram o costume, “copiando-o” dos egípcios. E deles não se pode queixar da falta de registros, embora, óbvio, só existam os posteriores à invenção da escrita. Os anteriores... bem tudo o que antecede esse revolucionário invento fica por conta, apenas, da imaginação e da fantasia de cada um. No desenrolar dos séculos, a “exclusividade” dos faraós e deuses (no caso do Egito) e dos líderes políticos, generais e elite econômica (na Grécia), de terem aniversários lembrados, e celebrados, foi, aos poucos, perdendo espaço. Não tardou para o costume se popularizar, até com fins religiosos. E com o passar do tempo, até os escravos tiveram acesso a essas celebrações.

Quando Roma se tornou senhora do mundo, os romanos conheceram, e gostaram desse comportamento. Adotaram-no, também, posto que privilegiassem aniversariantes ilustres, como o imperador e seus parentes, os demais políticos e, sobretudo, os senadores. Mas faziam “vistas grossas” ao povão que os imitava. Os cristãos somente aderiram a esse hábito no século IV da nossa era. Usaram, como pretexto para a adoção, a celebração do nascimento de Cristo, ou seja, o Natal. Aos poucos, essa celebração foi perdendo a conotação de rito pagão. Mas demorou para que isso ocorresse. Pudera! Naqueles tempos remotos os costumes não se modificavam com a rapidez com que se modificam hoje. As mudanças levavam, não raro, até séculos para ocorrer. Hoje elas ocorrem num piscar de olhos, muitas vezes, até, em questão de alguns pares de dias.

E por que o costume de dar parabéns, presentes e de celebrar os aniversários era considerado “pagão”? Bem, aqui recorro à enciclopédia eletrônica Wikipédia. Essa fonte informa que esse procedimento objetivava proteger os aniversariantes contra a ação de demônios. A principal função desse ritual era garantir a segurança da pessoa por todo um ano, repetindo-se, ao seu término, o mesmo cerimonial, enquanto o indivíduo estivesse vivo. Como se vê, o que hoje é festejo, puro e simples, tinha, na sua origem, finalidade religiosa e mágica. Esse rito caracterizava-se como idólatra por ser celebrado em honra dos que eram considerados os deuses padroeiros do dia em que a pessoa nascia. A Wikipédia enfatiza que no Satanismo nenhuma data é mais importante do que aquela em que o indivíduo nasceu, por se tratar do nascimento de novo “servo de Satã”.

Como se nota, as comemorações de aniversários em tempos remotos, nas suas origens, não eram celebrações tão inocentes, corriqueiras e triviais, como muitos possam supor e como são hoje. Em alguns cultos pagãos, dependendo da relevância do aniversariante, faziam-se sacrifícios não somente de aves e animais, mas também humanos, para agradar os deuses padroeiros daquelas datas, para que estes protegessem o indivíduo que aniversariava. De acordo com a Wikipédia, os gregos consideravam que cada pessoa que nascia ganhava, ao nascer, um espírito protetor, um gênio inspirador, uma espécie de anjo da guarda dos cristãos, que a acompanhava no curso de toda sua vida. E essa entidade espiritual tinha estreitíssima relação mística com o deus padroeiro do dia em esse sujeito vinha ao mundo. Os romanos compactuaram dessa idéia e celebravam aniversários por idêntica razão.  .    

Bem, conforme o prometido, aí estão algumas informações (ou especulações?) não muito conhecidas sobre o assunto, que está longe do esgotamento. Esgotado está, isto sim, meu espaço para estas reflexões diárias. Prometo voltar ao tema com novas curiosidades, sem utilidade prática admito, mas que provavelmente o farão brilhar nas festinhas de aniversário que você participar, caríssimo leitor, caso reproduza aos convidados o que aprendeu aqui.


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