Anões são candidatos
Pedro J. Bondaczuk
O
Brasil, este país de contrastes e contradições, com ilhas de prosperidade e
continentes de miséria, com alguns setores ostentando o que existe de mais
moderno e outros na Era da Pedra Lascada; com rasgos de generosidade do seu
povo e comportamentos do mais mesquinho egoísmo, possui uma atividade
fundamental que virtualmente não se atualizou desde a independência brasileira.
Trata-se da forma de se fazer política por aqui.
Esse
nobre exercício de cidadania, inclusive uma ciência de vida, entre nós ainda é
um joguinho de "esperteza", em que o que se diz, em geral, é
diametralmente oposto ao que se faz. Daí ser raro o surgimento de algum líder
autêntico. E a atividade está tão desgastada aos olhos da população, que mesmo
que surja esse condutor altruísta e sincero, tão procurado e raramente
encontrado, dificilmente será identificado.
O
mais provável é que venha a ser confundido com os que fazem da política mera
profissão, quando não uma forma fácil de ganhar dinheiro, mesmo que às custas
da miséria de milhões. Veja o leitor o que ocorreu com o escândalo da
manipulação do Orçamento da União.
Pelo
menos metade dos 18 citados no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito
que investigou o caso --- e eles foram aqueles contra os quais as evidências
eram absolutamente consistentes, já que os envolvidos eram mais e faltou tempo
para uma apuração mais minuciosa sobre outros culpados --- foram absolvidos por
seus pares no plenário.
O
pior é que, numa ostensiva zombaria da inteligência do eleitorado, os que
obtiveram absolvição --- conseguida apenas porque o número de votos pela sua
cassação, embora majoritário, não atingiu maioria absoluta --- são candidatos à
reeleição.
Certamente
virão até nossas casas, sem convite e nenhuma cerimônia, da forma mais
"cândida" (para não dizer cínica) possível, pedir nosso voto. E nós,
o que faremos? Reconduziremos essas pessoas ao Parlamento, para que tudo
continue como sempre foi?
Convém
que, cada um que vai votar nas eleições de 3 de outubro próximo, medite sobre
isso. Pondere acerca de que tipo de político o País precisa. Escolha,
friamente, sem se ater a questões ideológicas --- já que nossos partidos, a
rigor, não possuem, salvo honrosas exceções, qualquer ideologia --- quem o irá representar
no Congresso na elaboração das leis indispensáveis para a correção das
distorções existentes no Brasil e que o conduzam, definitivamente, à
modernidade, que implica justiça social acima de tudo.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de julho de 1994).
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