Thursday, May 15, 2014

Anões são candidatos


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil, este país de contrastes e contradições, com ilhas de prosperidade e continentes de miséria, com alguns setores ostentando o que existe de mais moderno e outros na Era da Pedra Lascada; com rasgos de generosidade do seu povo e comportamentos do mais mesquinho egoísmo, possui uma atividade fundamental que virtualmente não se atualizou desde a independência brasileira. Trata-se da forma de se fazer política por aqui.

Esse nobre exercício de cidadania, inclusive uma ciência de vida, entre nós ainda é um joguinho de "esperteza", em que o que se diz, em geral, é diametralmente oposto ao que se faz. Daí ser raro o surgimento de algum líder autêntico. E a atividade está tão desgastada aos olhos da população, que mesmo que surja esse condutor altruísta e sincero, tão procurado e raramente encontrado, dificilmente será identificado.

O mais provável é que venha a ser confundido com os que fazem da política mera profissão, quando não uma forma fácil de ganhar dinheiro, mesmo que às custas da miséria de milhões. Veja o leitor o que ocorreu com o escândalo da manipulação do Orçamento da União.

Pelo menos metade dos 18 citados no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou o caso --- e eles foram aqueles contra os quais as evidências eram absolutamente consistentes, já que os envolvidos eram mais e faltou tempo para uma apuração mais minuciosa sobre outros culpados --- foram absolvidos por seus pares no plenário.

O pior é que, numa ostensiva zombaria da inteligência do eleitorado, os que obtiveram absolvição --- conseguida apenas porque o número de votos pela sua cassação, embora majoritário, não atingiu maioria absoluta --- são candidatos à reeleição.

Certamente virão até nossas casas, sem convite e nenhuma cerimônia, da forma mais "cândida" (para não dizer cínica) possível, pedir nosso voto. E nós, o que faremos? Reconduziremos essas pessoas ao Parlamento, para que tudo continue como sempre foi?

Convém que, cada um que vai votar nas eleições de 3 de outubro próximo, medite sobre isso. Pondere acerca de que tipo de político o País precisa. Escolha, friamente, sem se ater a questões ideológicas --- já que nossos partidos, a rigor, não possuem, salvo honrosas exceções, qualquer ideologia --- quem o irá representar no Congresso na elaboração das leis indispensáveis para a correção das distorções existentes no Brasil e que o conduzam, definitivamente, à modernidade, que implica justiça social acima de tudo.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de julho de 1994).


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