Indecifrável
enigma
Pedro J. Bondaczuk
O potencial humano – quer para o
bem, quer para o mal – é incomensurável. É impossível determinar, em ambos os
casos, o limite de sua atuação. Até onde ele pode chegar na superação de
obstáculos e nos feitos da sua mente? No outro extremo, qual o máximo de
degradação, violência, egoísmo e maldade que nossa espécie pode atingir? Quando
achamos que, em ambos casos, já atingimos o limite, constatamos, surpresos, que
não chegamos sequer à metade das possibilidades, para o bem e para o mal. Estão
aí os feitos da ciência e da tecnologia a comprovar isso, com novas e
surpreendentes realizações. Todavia, no outro extremo, deparamo-nos, a todo o
momento, com monstros cruéis e insensíveis, capazes de infligir sofrimentos
inimagináveis aos semelhantes, não importa se a um só ou se a milhões, como os
casos dos ditadores tipo Hitler, Stalin, Lon Nol e tantos e tantos outros que
nos levam a nos persignar diante da simples menção de seus nomes.
Coloco-me na posição de um
suposto extraterrestre (caso isso seja possível e caso exista, alhures, outro
ser vivo e inteligente, mais inteligente do que o homem). Portanto, assumo (ou
tento assumir) a postura de um elemento neutro, de outro planeta, na tentativa
de avaliar esse estranhíssimo animal, que é o homem (e que sou eu). Fosse esse
o caso, minha cabeça, certamente, entraria em parafuso à primeira tentativa de
avaliação desse animal estranhíssimo, “parecido” com o macaco, mas tão
diferente dele. Pudera! Duvido que algum ET (no caso deles existirem, reitero)
conseguiria entender minimamente o que ou quem realmente somos e quais as
motivações que nos movem.
O homem, quando se guia só pelos
instintos e se deixa levar por seu latente egoísmo, é, de todos os animais, o
mais feroz e o mais cruel. Não é, fisicamente, o maior e nem o mais forte.
Torna-se tal, todavia, quando recorre à força da sua inteligência, caso a volte
para a destruição. Torna-se insuperável nesse aspecto. Um elefante, a despeito
do cérebro avantajado que tem, é incapaz de inventar e lançar mão de qualquer
arma que não seja alguma parte do próprio corpo. Nunca soube de algum deles que
houvesse inventado um revólver, um punhal, uma metralhadora ou mesmo simples
porrete para se defender e nem para atacar ninguém e que tenha feito uso desses
instrumentos. O mesmo vale para o leão, o tigre, o urso, o crocodilo e vai por
aí afora.
E olhem que não estou sequer
pensando em armas mais poderosas e letais, como tanques, aviões, granadas,
bombas e... artefatos nucleares. Não fosse o homem o animal mais cruel da
natureza (quando se deixa levar pelo instinto de fera e cala, por conseqüência,
a razão), não haveria extremos, por exemplo, em termos de posses.
Numericamente, há muitíssimo mais carentes no mundo, que não têm sequer certeza
de obter o almoço de cada dia (por frugal que seja) do que os que não precisam
se preocupar com as incertezas materiais da existência.
Milhões, Planeta afora, têm
apenas as ruas das cidades como lar. Indigentes não faltam por toda a parte e
cada qual é mais desvalido do que o outro. No entanto... essas pessoas são
dotadas de inteligência, sentimentos, sonhos e esperanças. São, como nós,
feitas “à imagem e semelhança de Deus”. Só na espécie humana há essas diferenças.
E tudo porque, para reforçar os efeitos do instinto natural de fera, ele lança
mão do que deveria servir somente de instrumento para o bem, para construir e
assegurar a sobrevivência da espécie. Age assim com o objetivo de fazer
prevalecer exclusivamente sua vontade, sem se importar se essa prevalência vai
prejudicar ou mesmo eliminar semelhantes.
Em contrapartida, quando o homem
utiliza a razão de forma construtiva, mantendo os impulsos instintivos sob
rigoroso controle, opera maravilhas que descambam para a magia ou para o
milagre, de tão assombrosas que são. Eu, se fosse o tal ET que mencionei acima,
por mais inteligente e evoluído que fosse, ficaria embasbacado ao saber que um
homem é capaz de trocar órgãos com mau funcionamento em semelhantes (fígado,
rins, pulmões e até mesmo coração) e lhe dá uma sobrevida, às vezes até de
décadas. Ficaria boquiaberto diante da habilidade desse animal aparentemente
selvagem para criar instrumentos de comunicação tipo rádio, televisão,
computador, telefone celular etc.etc.etc. Ficaria maravilhado com sua
capacidade de entendimento do universo, das forças que o regem, de descobrir
energias como a elétrica, magnética, nuclear etc. e não apenas isso, mas de
inventar formas de produzi-las, de controlá-las e de direcioná-las em seu
benefício.
Qual o limite de sua
inteligência? É possível determiná-lo? Dificilmente. Ouso afirmar que não. No
entanto, não se trata de nenhum deus imortal. É animal como outro qualquer,
dotado dos mesmíssimos instintos dos demais. É magnífico quando consegue
controlá-los. É terrível quando se deixa guiar por eles. Você nunca pensou
nisso, caríssimo leitor? Jamais se interessou por conhecer a magnificência e o
monstruoso potencial destrutivo da espécie a que pertence?
Da minha parte, confesso-me
assombrado, confuso e atemorizado com tudo isso. Todos os animais recorrem à
força bruta na disputa por território, pela fêmea para procriação, pela comida
etc. Travam lutas terríveis, porém raramente letais. São raríssimos os casos,
por exemplo, de elefantes matando elefantes, de leões matando leões, de tigres
matando tigres e vai por aí afora e, assim mesmo, quando eventuais mortes
acontecem, são meramente acidentais. São casuais. Os animais matam, sim, mas os
de outras espécies, que não das suas. E fazem-no exclusivamente por razões
defensivas ou para se alimentar de suas carnes. Seguem, pois, a lei da
natureza, que desde que me conheço por gente considero cruéis, mas que são como
são. E eles são irracionais. São movidos, puramente, por instinto, para eles
incontrolável, por não contarem com o “freio” da razão. E o homem? Age da mesma
maneira? A pergunta prescinde de resposta, não é mesmo? Infelizmente. Por isso
jamais entendi, sequer remotamente, o que verdadeiramente sou e por que. Sou,
por conseqüência, meu maior e mais indecifrável enigma.
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