Euforia da vitória
Pedro J. Bondaczuk
Os desafios – desde que
não impliquem em coisas impossíveis de serem realizadas – existem para serem
vencidos. Quando conseguimos, (ou se conseguirmos) superar obstáculos que os
outros (e, principalmente, nós mesmos) achavam insuperáveis, a sensação que isso
nos dá é indescritível. Sentimo-nos (e neste caso, de fato, somos) vencedores e
vibramos, não exatamente com eventuais vantagens materiais que possamos auferir
com essas vitórias (na maioria das vezes nenhuma), mas com algo que, para mim,
é muito mais importante: com a empolgante sensação de poder que nos domina ao
conquistá-las. Sentimo-nos eufóricos e com razão. Por provarmos que podemos
fazer o que quem nos desafiou entendia que não poderíamos. Qualquer outra coisa
que venha, além disso, será puro lucro.
Acabo de vencer um
desses desafios e não sou capaz de expressar – justo eu que lido o tempo todo
com palavras e tento, e às vezes consigo, exprimir, a todo o momento, o
“inexprimível” – o que estou sentindo agora. Só posso assegurar que é bom! É
muito bom! É ótimo! É certo que a minha conta bancária não foi (e nem será)
acrescida de um mísero centavo por causa disso. Não serei ovacionado por
multidões de fãs, que sequer possuo. Não receberei homenagens. Ninguém me dará
nenhuma medalha ou troféu. Não serei brindado, sequer, com um “curtir” em minha
página no Facebook. Aliás, para a maioria das pessoas, eu sequer consegui
alguma vitória. Mas consegui! Quem é escritor sabe o que isso significa.
E qual é esse desafio
que venci e que ao vencer fui tomado por uma deliciosa sensação, misto de
alívio e de euforia? Consegui empreender uma série de estudos que tudo indicava
que eu não conseguiria por um monte de razões, entre as quais a carência de
fontes informativas. A isso se somava uma crônica falta de tempo e a má vontade
de muitos, que poderiam me ajudar nessa empreitada, mas por motivos que só eles
podem explicar (será que podem mesmo?), não ajudaram. Tive que recorrer quase
que exclusivamente aos meus arquivos pessoais, que me surpreenderam. Sequer
desconfiava que tinha em meu poder, bem ao alcance das mãos, tantas informações
a propósito de um assunto tão específico e pouco (ou nada) abordado. Refiro-me
à série de estudos, concluída em novembro de 2013, sobre 23 dos principais ficcionistas
baianos, tomando por base uma antologia de contos que adquiri há trinta anos,
no caso, a “Histórias da Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963).
Fossem escritores aqui
da minha cidade, embora pudesse, eventualmente, ser um desafio até dos grandes,
não seria nada de excepcional. Os obstáculos, óbvio, seriam menores e não
teriam a aparência, à primeira vista, de insuperáveis. Ou fossem ficcionistas
do eixo Rio-São Paulo, ou mesmo de Minas ou Rio Grande do Sul, os caminhos para
fontes informativas seriam muitos. Seria algo até relativamente fácil de fazer.
Mas não! Fui desafiado a abordar algo
fora da minha realidade cotidiana. E sem tempo para pesquisas aprofundadas que
o tema requeria. E, ainda assim... consegui.
Redigi o equivalente a
um livro de quase 500 páginas, analisando vidas e obras não só de escritores
que conhecia de longa data, mas, e principalmente, dos que fui descobrindo pelo
caminho e me encantando com seu estilo, seu talento, sua persistência e sua
criatividade. A família não entendeu até agora a razão de tanto esforço da
minha parte. Meu filho chegou mesmo a perguntar-me o que eu ganharia com tudo
isso. Bem, depende do que ele quis dizer com “ganho”. Caso tenha se referido a
lucros materiais (e foi a isso que se referiu), não ganhei nada. Na verdade,
até perdi. Ainda assim, até nesse aspecto posso vir a ganhar mais adiante. Ou
meus futuros herdeiros (filhos e netos) podem. Afinal, o livro que escrevi com
tamanho esforço agora existe, está pronto, é concreto e tem qualidade e potencial
para ser útil a alguém. É, portanto, valioso. Mas esse não foi, em moment6o
algum, meu objetivo.
O ganho que tive, ao
vencer esse desafio, é de outra ordem. E não tem preço. É a satisfação íntima.
É o prazer intelectual de aprender coisas novas. E de formar juízo sobre elas. E
de opinar com conhecimento de causa a propósito, com argumentos sólidos,
fundamentados em fatos. É fazer o que mais gosto, sei e, ainda por cima,
resgatar escritores brilhantes, que aos poucos começam a cair (injustamente) no
esquecimento. É agir em relação aos
outros como quero que alguém, algum dia, não sei quando e nem onde (e isso não
importa) aja comigo: não deixar que o que fizeram e o que foram seja esquecido
pelas gerações futuras. Quem sabe este livro não é garantia para que não me
esqueçam jamais, também!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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