Thursday, May 08, 2014

Euforia da vitória

Pedro J. Bondaczuk

Os desafios – desde que não impliquem em coisas impossíveis de serem realizadas – existem para serem vencidos. Quando conseguimos, (ou se conseguirmos) superar obstáculos que os outros (e, principalmente, nós mesmos) achavam insuperáveis, a sensação que isso nos dá é indescritível. Sentimo-nos (e neste caso, de fato, somos) vencedores e vibramos, não exatamente com eventuais vantagens materiais que possamos auferir com essas vitórias (na maioria das vezes nenhuma), mas com algo que, para mim, é muito mais importante: com a empolgante sensação de poder que nos domina ao conquistá-las. Sentimo-nos eufóricos e com razão. Por provarmos que podemos fazer o que quem nos desafiou entendia que não poderíamos. Qualquer outra coisa que venha, além disso, será puro lucro.

Acabo de vencer um desses desafios e não sou capaz de expressar – justo eu que lido o tempo todo com palavras e tento, e às vezes consigo, exprimir, a todo o momento, o “inexprimível” – o que estou sentindo agora. Só posso assegurar que é bom! É muito bom! É ótimo! É certo que a minha conta bancária não foi (e nem será) acrescida de um mísero centavo por causa disso. Não serei ovacionado por multidões de fãs, que sequer possuo. Não receberei homenagens. Ninguém me dará nenhuma medalha ou troféu. Não serei brindado, sequer, com um “curtir” em minha página no Facebook. Aliás, para a maioria das pessoas, eu sequer consegui alguma vitória. Mas consegui! Quem é escritor sabe o que isso significa.

E qual é esse desafio que venci e que ao vencer fui tomado por uma deliciosa sensação, misto de alívio e de euforia? Consegui empreender uma série de estudos que tudo indicava que eu não conseguiria por um monte de razões, entre as quais a carência de fontes informativas. A isso se somava uma crônica falta de tempo e a má vontade de muitos, que poderiam me ajudar nessa empreitada, mas por motivos que só eles podem explicar (será que podem mesmo?), não ajudaram. Tive que recorrer quase que exclusivamente aos meus arquivos pessoais, que me surpreenderam. Sequer desconfiava que tinha em meu poder, bem ao alcance das mãos, tantas informações a propósito de um assunto tão específico e pouco (ou nada) abordado. Refiro-me à série de estudos, concluída em novembro de 2013, sobre 23 dos principais ficcionistas baianos, tomando por base uma antologia de contos que adquiri há trinta anos, no caso, a “Histórias da Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963).

Fossem escritores aqui da minha cidade, embora pudesse, eventualmente, ser um desafio até dos grandes, não seria nada de excepcional. Os obstáculos, óbvio, seriam menores e não teriam a aparência, à primeira vista, de insuperáveis. Ou fossem ficcionistas do eixo Rio-São Paulo, ou mesmo de Minas ou Rio Grande do Sul, os caminhos para fontes informativas seriam muitos. Seria algo até relativamente fácil de fazer.  Mas não! Fui desafiado a abordar algo fora da minha realidade cotidiana. E sem tempo para pesquisas aprofundadas que o tema requeria. E, ainda assim... consegui.

Redigi o equivalente a um livro de quase 500 páginas, analisando vidas e obras não só de escritores que conhecia de longa data, mas, e principalmente, dos que fui descobrindo pelo caminho e me encantando com seu estilo, seu talento, sua persistência e sua criatividade. A família não entendeu até agora a razão de tanto esforço da minha parte. Meu filho chegou mesmo a perguntar-me o que eu ganharia com tudo isso. Bem, depende do que ele quis dizer com “ganho”. Caso tenha se referido a lucros materiais (e foi a isso que se referiu), não ganhei nada. Na verdade, até perdi. Ainda assim, até nesse aspecto posso vir a ganhar mais adiante. Ou meus futuros herdeiros (filhos e netos) podem. Afinal, o livro que escrevi com tamanho esforço agora existe, está pronto, é concreto e tem qualidade e potencial para ser útil a alguém. É, portanto, valioso. Mas esse não foi, em moment6o algum, meu objetivo.


O ganho que tive, ao vencer esse desafio, é de outra ordem. E não tem preço. É a satisfação íntima. É o prazer intelectual de aprender coisas novas. E de formar juízo sobre elas. E de opinar com conhecimento de causa a propósito, com argumentos sólidos, fundamentados em fatos. É fazer o que mais gosto, sei e, ainda por cima, resgatar escritores brilhantes, que aos poucos começam a cair (injustamente) no esquecimento.  É agir em relação aos outros como quero que alguém, algum dia, não sei quando e nem onde (e isso não importa) aja comigo: não deixar que o que fizeram e o que foram seja esquecido pelas gerações futuras. Quem sabe este livro não é garantia para que não me esqueçam jamais, também!

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