Bases de uma nova era
Pedro J.
Bondaczuk
O momento da reunião de cúpula dos presidentes George
Bush, dos Estados Unidos, e Mikhail Gorbachev, da União Soviética, na Ilha de
Malta – ao largo dela, já que os encontros vão ocorrer a bordo dos cruzadores dos
dois países, respectivamente “Belknap” e “Slava” – se aproxima e com ele cresce
a expectativa do mundo todo.
Esse tipo de diálogo
“tête-a-tête”, entre os líderes das superpotências, foi resgatado em sua
importância em 1985. Naquele ano, Ronald Reagan, rompendo um longo período de
franca e aberta hostilidade entre as duas nações mais poderosas do Planeta,
mais especificamente nos dias 19 e 20 de novembro, teve uma conversa franca com
o líder do Cremlin em Genebra, na qual ambos abriram seus corações.
Especialmente no curto, mas
decisivo instante de informalidade que tiveram, quando de um passeio que
fizeram, inesperadamente, à beira do famoso lago que banha essa cidade suíça.
Na oportunidade, nós observamos que nasceu uma espécie de liame entre ambos.
Os dois, independente das
diferenças que os separavam na ocasião – e elas eram infinitamente maiores do
que agora – simpatizaram pessoalmente um com o outro. Nem tanto na qualidade de
líderes de sistemas antagônicos e que pareciam inconciliáveis, mas na de homens.
De meros seres humanos.
A partir de então, tudo ficou
mais fácil. A cúpula que vai começar amanhã, apesar de norte-americanos e
soviéticos afirmarem que terá caráter absolutamente informal, estejam certos os
leitores, será marcada por decisões históricas, tendentes a mudar os rumos dos
acontecimentos mundiais.
Pode até ser que tais entendimentos sequer venham a
público oficialmente. Afinal, não está prevista a assinatura de nenhum acordo e
nem mesmo de uma declaração conjunta. Mas agora que a confiança entre os dois
gigantes foi restabelecida, documento é o que menos importa.
O importante é a determinação de
ambos pelo estabelecimento de uma nova ordem mundial, onde a concórdia sempre
seja possível, sem a necessidade de se apelar para o expediente estúpido e
irracional da violência, que ademais jamais resolveu qualquer controvérsia.
A história das civilizações ai
está para comprovar isso. O que Bush e Gorbachev, certamente, farão será lançar
as bases de um mundo muito diferente, política, econômica e até
geograficamente. A estratégia de blocos ficou ultrapassada pela revolução
deflagrada pelo avanço tecnológico. Que da doutrina do “lar comum europeu”
defendida pelo presidente soviético, surjam muitos outros lares em comunidade,
americanos, asiáticos, africanos e finalmente mundiais.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 1
de dezembro de 1989).
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