Especulações sobre
idade
Pedro
J. Bondaczuk
O pensador e filósofo
chinês Confúcio, que viveu entre 551 e 479 antes de Cristo, indagou, em certa
ocasião, a um dos seus discípulos: “Qual
seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?”. Há, porventura,
quem saiba, mas saiba mesmo e não somente especule? Não creio. Eu não saberia
dizer qual a minha, caso não soubesse a data exata em que nasci e quantos anos
se passaram desde então. Mas será que sei mesmo? Óbvio que estive “presente”
quando este acontecimento se deu. Fui um dos personagens centrais. Só que é
impossível lembrar tudo o que aconteceu comigo quando vim ao mundo. Sei da data
porque meus pais me informaram. E porque tenho a respectiva certidão de
nascimento.
Todavia, esse papel é
prova irrefutável de que a data em que comemoro anualmente meus aniversários é
mesmo a exata? Não pode ter ocorrido, por exemplo, do meu pai (ou seja lá quem
tenha me registrado) ter comparecido ao cartório muitos dias depois do fato
ocorrido e de ter errado o dia, ao ser questionado pelo funcionário do
cartório? Afinal, há casos e mais casos de pessoas que são registradas um ano
ou mais após o nascimento. E, nesses casos, haja memória para alguém lembrar da
data exata em que o filho nasceu.
Há mesmo pessoas que
jamais foram registradas. E não são poucas. Daí as campanhas do governo para
que se corrija essa omissão e para que uma quantidade desconhecida
(provavelmente muito alta) de brasileiros (que oficialmente “não existem”),
passe a existir. Ou seja, para que quem está nessa situação seja, finalmente,
reconhecido como cidadão. Conheço dezenas desses casos. E todas essas pessoas
celebram aniversários. Comemoram na data certa ou o fazem aleatoriamente, em
uma que “acham” que o nascimento ocorreu? Como saber? Não se sabe. Aposto na
segunda opção. Celebram em data escolhida aleatoriamente.
Se isso ocorre agora,
em pleno século XXI do terceiro milênio da era cristã, a despeito de tantos e
tão sofisticados meios de informação e de comunicação, o que se dizer dos que
nasceram em tempos muito mais remotos, já nem digo anteriores à invenção dos
calendários e principalmente da escrita, mas, digamos, no século XII? Ademais,
calendários minimamente confiáveis, são coisas recentes. O nosso, no Ocidente,
é o Gregoriano, promulgado pelo papa Gregório XIII em 24 de fevereiro de 1582.
Aliás, é o adotado oficialmente pelas Nações Unidas em todo o mundo, nesta era
de globalização. Pudera! Tinha que ser! Se não houvesse essa padronização,
todos os negócios, seja de que natureza forem, seriam inviáveis. E, mesmo
assim...muita gente, mas muita mesmo, ainda se baseia em vários outros
calendários.
Você não acredita?
Deveria acreditar. Temos, por exemplo, o calendário Juliano, ainda seguido em
muitas partes (como na Rússia), o chinês, o judaico e o muçulmano, de alguns de
que me lembro. Fora aqueles que hoje são apenas estudados como meras
curiosidades históricas. Você não acredita? Deveria acreditar. Cito apenas
alguns destes: os calendários maia e asteca; o dos incas e o dos indígenas
brasileiros (e entre estes, há muitas variantes, de uma nação para outra).
Poderia citar outros, mas não o farei. Com uma confusão tão grande na contagem
do tempo, como esta, como saber se o dia em que celebramos aniversário é,
mesmo, aquele em que nascemos de fato?
Claro que esse
conhecimento, em termos práticos, é irrelevante. Não fará nem dólar baixar e
nem deterá o aumento da inflação. Todavia, convenhamos, é um bom assunto para
reflexão, para que possamos exercitar nossos neurônios e impedir que enferrujem
ou se esclerosem. Fico no aguardo das manifestações dos leitores, daqueles
fieis e assíduos que costumeiramente me pautam por e-mail, se devo prosseguir
nessa linha de raciocínio ou me voltar para assuntos mais “importantes”, mais
práticos e mais compatíveis com um espaço voltado à Literatura, como este.
Encerro estes comentários despretensiosos de hoje com a mesma pergunta com que
os iniciei, aquela feita por Confúcio a um de seus discípulos: “Qual seria a
sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?”
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment