Os muitos Brasis
Pedro
j. Bondaczuk
O Brasil é um país
maravilhoso, que tenho orgulho de que seja minha terra natal. Mas por mais
distraído ou alienado que eu seja, ou esteja, não tenho como ignorar seus
erros, vícios e contradições. Enfim, suas infinitas mazelas, entre as quais a
mais nefasta é a corrupção. E são tantas!!! Em certos momentos, e aspectos, o
Brasil é uma espécie de paraíso terrestre. Mas em outros, e na maior parte do
tempo, mais parece sucursal do inferno do que um lugar decente e aprazível para
se viver. Fico imaginando como os milhares de turistas que nos visitarão a
partir de junho, no período de disputa da Copa do Mundo, irão nos encarar. Qual
a impressão que terão de nós? Reforçarão os tantos estereótipos a nosso
respeito que prevalecem no Exterior? Vão apreciar a experiência de nos conhecer
em nossa casa? Vão detestar? Como saber?
Outra coisa que imagino
é qual a avaliação que os brasileiros do futuro farão do Brasil de hoje, com
base nos registros de nossa imprensa e dos historiadores das mais variadas
tendências e níveis. Que País haverão de herdar? Será uma sociedade justa, aberta, solidária e tolerante ou
cínica, hipócrita, violenta, preconceituosa e cada vez mais individualista?
Pensando nessa geração de fins do século XXI e início do XXII, atrevo-me a
fazer algumas avaliações, sumamente superficiais, sob minha ótica pessoal, que,
espero, lhes chegue às mãos e sirva como referencial.
Classifico o Brasil – e
a maioria das pessoas que conheço faz o mesmo – conforme o ânimo de momento. Em
alguns dias, entendo que se trate do “país dos contrastes”. Embora tenha
evoluído muito, do ponto de vista social, de uns dez anos para cá, ainda
convivem, neste território de dimensões continentais, dois Brasis distintos:
um, territorialmente pequeno, com o nível de desenvolvimento de uma Bélgica e
outro, extensíssimo, com o tipo de vida igual ao da imensa maioria dos mais de
1,1 bilhão de habitantes da Índia. Bem que lhe cabe, portanto, o “apelido” de
Belíndia.
Há ocasiões, porém,
notadamente quando pela manhã me informo sobre o noticiário do dia – por vários
dos seus jornais, noticiosos de rádio e televisão e sites da internet – que
concluo se tratar do “país das versões”. Caso a fonte informativa seja
vinculada ao governo, chego a desconfiar que viva mesmo no paraíso, que todos
com os quais cruzo nas ruas ou convivo sejam seres angelicais e que sejamos
sumamente privilegiados por estarmos aqui. Contudo, se a origem das notícias é
de integrantes ou simpatizantes da oposição... Bem, neste caso chego a sentir
as labaredas do inferno queimando-me as carnes. Ora, ora, ora. Nem tanto ao
céu, nem tanto à terra.
Estimativas são
informadas a todo o momento como dados estatísticos, pelas duas correntes
antagônicas, palpites são considerados avaliações técnicas e as coisas seguem
por aí afora. Provavelmente, nem o governo nem instituições públicas e privadas
têm diagnósticos corretos, precisos, exatos, ou que pelo menos se aproximem um
pouco da realidade, da nossa situação. Quem, como eu, se debruça sobre os
problemas brasileiros, com o objetivo de escrever um livro, ou um artigo, ou um
ensaio a propósito, entende o que quero dizer. Há uma falta absoluta de
material confiável. Abundam palpites.
As estatísticas
disponíveis, além de contarem com grotescos erros técnicos, na maioria dos
casos são antigas, embora apresentadas como atualizadas. Em geral, os problemas
são exagerados e para pior pela maioria dos meus colegas jornalistas. Entendem,
os que recorrem a essa prática, que apenas agindo assim conseguirão
sensibilizar a sociedade para as principais aberrações que existem no País.
Como se fosse preciso exagerar! Incorre-se no erro de se achar que a quantidade
de indivíduos atingidos pelas distorções sociais que nos afligem é mais
importante do que a existência dos males, não importa quantos sejam os
afetados. Pessoas, portanto, são reduzidas a simples cifras. E quanto maiores
forem, melhor será, raciocinam os que não se preocupam com a verdade, mas se
contentam com a "metade" dela.
Há, ainda, outros
tantos Brasis, dependendo de quem observa nossa realidade, como o faz e com
qual objetivo. Será que os turistas que irão nos visitar no período da Copa
irão identificá-los? Tenho minhas dúvidas. O provável é que se apeguem aos
estereótipos que criaram para nós e não os abandonem jamais. Por exemplo, o Brasil, país em que o jogo é oficialmente
proibido, lembra, em certos momentos, gigantesco cassino. Há jogatina,
ostensiva ou disfarçada, por toda a parte. Joga-se por todas as formas e meios.
Desde as tradicionais apostas em corridas de cavalo, aos clandestinos
carteados, este vício já se incorporou aos hábitos do brasileiro. Quem nunca
fez uma “fézinha”, digamos, na famosa loteca ou em outra modalidade qualquer de
sorteio? Raros, não é mesmo? E rifas? Há uma infinidade delas promovidas todos
os dias e em todos os lugares.
O Estado banca boa parte dos jogos, como por exemplo as loterias
federal e estaduais, a esportiva, os vários tipos de raspadinhas, a megassena e
vai por aí afora, sem esquecer o bicho, que mesmo sendo contravenção penal,
resiste há mais de um século e dá margem a subornos e outros tipos mais graves
de corrupção. Como fiscalizar o que é permitido e coibir o proibido? Como verificar
se cada promotor desses jogos realmente está dentro do espírito que norteou sua
criação? E muitos certamente não estão. Da mesma forma que neste país existem
“contas fantasmas” em bancos, “eleitores fantasmas” em muitos feudos de
caciques políticos, “cheques fantasmas” e outras tantas fantasmagorias por aí,
há clubes também com essa característica. Ou seja, existem apenas no papel.
Onde há ingênuos, evidentemente existem os espertalhões.
Muitos ainda não se conscientizaram que raros, raríssimos conseguem o
que quer que seja na vida sem trabalho, sem esforço, sem sacrifício, sem
contínuo aperfeiçoamento e rígida autodisciplina. Em geral, acabam por se
machucar. Quem não sonha com a ação do acaso, vulgarmente chamado de “sorte”,
que mude radicalmente sua situação financeira e lhe permita comprar aquela casa
há tanto desejada, aquele carro tão cobiçado ou que assegure um futuro
tranqüilo para os filhos? Raros, raríssimos, no entanto, têm uma, uma única
chance objetiva de êxito. Há jogos em que, mesmo pressupondo absoluta lisura e
total transparência dos promotores, as
probabilidades de se ganhar chegam a ser de uma em um quatrilhão! Ou seja,
raiam ao impossível! A menos, evidentemente, que se seja um João Alves, o
famoso “anão” do Orçamento, recordista em prêmios da loteria. Mas esta é uma
outra história...
Antes que me questionem, não esqueci o tema da origem das celebrações
de aniversário que vinha tratando em dias anteriores. Só estou dando um tempo,
para poder “digerir” o volume de informações que colhi a propósito, pois não
quero escrever besteira. Se o fizer... no dia seguinte, minha caixa postal
ficará entupida de e-mails, chamando-me às falas, quando não xingando-me de
“burro”. E não pensem que me irrito com essa fiscalização. Só perco as estribeiras
quando as críticas são feitas em linguagem chula, desrespeitosa, que reflita a
má educação de quem age assim. Estes não considero meus leitores. E eles podem
ter a certeza de que jamais serão bem vindos nos espaços em que atuo.
Acompanhe-me perlo twitter: @bondaczuk
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