Tuesday, May 27, 2014

Questão de autodisciplina

Pedro J. Bondaczuk

A autodisciplina é muito importante para o sucesso em qualquer atividade que venhamos a exercer. Nos esportes, por exemplo, sem ela, raramente conseguimos chegar a qualquer lugar. Para conseguir êxito, para atingir nossos limites físicos ou pelo menos para nos aproximarmos deles, temos que estabelecer, e seguir o mais rigorosamente possível, uma bem-planejada rotina de treinamentos, estafante e até dolorosa – os atletas de alto rendimento têm que se acostumar a conviver com a dor – e reduzir bastante, quando não privar-se por completo, de muita coisa que nos dá prazer, mas que é dispensável, por não levar a lugar algum e consumir muito tempo.

E não é, apenas, no esporte que a autodisciplina é importante. Ela tem grande importância, também, em tantas outras atividades: nos estudos, na vida profissional etc.etc.etc. e, claro, na Literatura. Caso nos deixemos levar pelos apelos do corpo e, sobretudo, da mente, acabaremos não fazendo nada, nunca. Ou faremos alguma coisa erraticamente, apenas em momentos que nos der vontade. E pode acontecer dela não surgir jamais, em momento algum. Não raro, por exemplo, acordamos de manhã indispostos, com vontade de dormir um pouquinho mais e dar trégua a nossas atividades.

Se formos escritores, em dias como este o que menos queremos é escrever. Queremos distância do computador (ou da máquina de escrever, se ainda for o caso). Ocorre que essa tendência à inação pode  virar rotina. Já vi muitos casos em que virou. Dessa forma, seremos escritores apenas em nossa imaginação. Ou por algum feliz acaso que nos leve a escrever apenas em algum dia específico em que estejamos dispostos e que, coincidentemente, “topemos” com uma boa idéia, que nos disponhamos a desenvolver. Mas esses acasos são lotéricos. Até para justificar o fator “casualidade”. Podem acontecer ou não. Via de regra, não acontecem. E você conhece algum escritor que nunca escreva? Eu não!

Não proponho que, a título de sermos autodisciplinados, venhamos a nos robotizar. Não é isso. Podemos, de vez em quando, fazer concessões, mas cuidando para que essas sejam excepcionais, que não se tornem rotina. Quanto mais conseguirmos concentrar forças, físicas e mentais, em um objetivo, maiores serão as possibilidades de alcançá-lo. Creio que isso é absolutamente óbvio. Os atletas vencedores, os detentores de medalhas olímpicas e de recordes de suas modalidades, sabem muito bem disso. Como também sabem os escritores que têm produção intelectual intensa, com sólidas e consistentes obras, tanto em quantidade, quanto, e principalmente, em qualidade. Não se fiem nessa história de “inspiração”. Para escrever textos inteligentes e profundos, o que conta, mesmo, é a transpiração. E abundante. Dessa de deixá-lo molhado por inteiro, com o suor pingando da testa.     

Já tratei em outras ocasiões do assunto, sem, no entanto, esgotá-lo. Ademais, nada me impede de voltar a abordá-lo e ainda assim não ser repetitivo. Em texto anterior, que partilhei com vocês neste espaço, indaguei a certa altura: “Existe alguma receita infalível para uma vida útil, produtiva e feliz?”. E respondi, na sequência: “Sim, existe. Todavia, embora pareça simples e óbvia, não é tão fácil assim de ser posta em prática”. Enfatizei que nossa tendência natural e até instintiva é a “de complicar todas as coisas”. Concluí que “a simplicidade nos assusta e gera desconfiança de que, se as coisas parecem (ou são) muito simples, há algo de errado com elas, mesmo, e principalmente, que não haja”.

E não é o que acontece? Queremos fazer um montão de coisas ao mesmo tempo e acabamos por não fazer nenhuma. Ou, se o fazemos, elas são mal feitas, equivocadas e/ou incompletas. O mais prático e lógico é tratar cada dia como se fosse miniatura de uma vida. Ou seja, que tenha começo, meio e fim. Parece simples, não é mesmo? Mas você consegue agir dessa maneira? Caso consiga, parabéns. Está no caminho do sucesso caso mantenha a autodisciplina e não disperse ou retenha suas energias. O ontem e o amanhã devem ser completamente ignorados e permanecer em compartimentos estanques e indevassáveis. Nosso empenho no novo dia deve ser o máximo, total e absoluto. Tudo o que fizermos, seja lá o que for, terá que ser feito da melhor forma que soubermos, indo, para isso, ao limite das nossas forças e capacidades, caso se faça necessário. Assim como fazem os atletas de alto rendimento, por exemplo.

Se há algo que tem que ser considerado “sagrado”, encarado como “cláusula pétrea” de uma lei inflexível, é não deixar pendências para o amanhã. Tudo o que tiver que ser resolvido, tem que o ser nestas 24 horas que caracterizam o dia de hoje e apenas nelas. No dia seguinte, a receita é exatamente a mesma. E isso tem que ser repetido por todos os anos da nossa vida, sem nenhuma exceção. É aí (mas não só nesse caso) que entra a questão da autodisciplina Mas você conhece quem aja dessa maneira? Eu não conheço! No entanto, esse procedimento é para lá de óbvio.

O mal é que, não apenas deixamos assuntos pendentes, de um dia para o outro, como levamos para ele os erros e bobagens cometidos na véspera, quando o sensato seria esquecê-los de vez, como se jamais tivessem sido cometidos. O filósofo norte-americano, Ralph Waldo Emerson, resume essa “receita” de bem viver da seguinte forma: “Termine cada dia e largue-o. Você fez o que pôde. Sem dúvida alguns erros e disparates se insinuaram nele; esqueça-os o mais depressa que puder. Amanhã é um novo dia; comece-o bem e serenamente e com o ânimo bastante alto para não se deixar estorvar por suas tolices passadas”. Que tal tentarmos viver dessa forma? Afinal, você quer ou não quer ser bem-sucedido no que faz? Pois então! Seja autodisciplinado! Só depende de você.


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