Questão
de autodisciplina
Pedro J. Bondaczuk
A
autodisciplina é muito importante para o sucesso em qualquer atividade que
venhamos a exercer. Nos esportes, por exemplo, sem ela, raramente conseguimos
chegar a qualquer lugar. Para conseguir êxito, para atingir nossos limites
físicos ou pelo menos para nos aproximarmos deles, temos que estabelecer, e
seguir o mais rigorosamente possível, uma bem-planejada rotina de treinamentos,
estafante e até dolorosa – os atletas de alto rendimento têm que se acostumar a
conviver com a dor – e reduzir bastante, quando não privar-se por completo, de
muita coisa que nos dá prazer, mas que é dispensável, por não levar a lugar
algum e consumir muito tempo.
E
não é, apenas, no esporte que a autodisciplina é importante. Ela tem grande
importância, também, em tantas outras atividades: nos estudos, na vida
profissional etc.etc.etc. e, claro, na Literatura. Caso nos deixemos levar
pelos apelos do corpo e, sobretudo, da mente, acabaremos não fazendo nada,
nunca. Ou faremos alguma coisa erraticamente, apenas em momentos que nos der
vontade. E pode acontecer dela não surgir jamais, em momento algum. Não raro,
por exemplo, acordamos de manhã indispostos, com vontade de dormir um pouquinho
mais e dar trégua a nossas atividades.
Se
formos escritores, em dias como este o que menos queremos é escrever. Queremos
distância do computador (ou da máquina de escrever, se ainda for o caso).
Ocorre que essa tendência à inação pode
virar rotina. Já vi muitos casos em que virou. Dessa forma, seremos
escritores apenas em nossa imaginação. Ou por algum feliz acaso que nos leve a
escrever apenas em algum dia específico em que estejamos dispostos e que,
coincidentemente, “topemos” com uma boa idéia, que nos disponhamos a
desenvolver. Mas esses acasos são lotéricos. Até para justificar o fator
“casualidade”. Podem acontecer ou não. Via de regra, não acontecem. E você
conhece algum escritor que nunca escreva? Eu não!
Não
proponho que, a título de sermos autodisciplinados, venhamos a nos robotizar.
Não é isso. Podemos, de vez em quando, fazer concessões, mas cuidando para que
essas sejam excepcionais, que não se tornem rotina. Quanto mais conseguirmos
concentrar forças, físicas e mentais, em um objetivo, maiores serão as
possibilidades de alcançá-lo. Creio que isso é absolutamente óbvio. Os atletas
vencedores, os detentores de medalhas olímpicas e de recordes de suas
modalidades, sabem muito bem disso. Como também sabem os escritores que têm
produção intelectual intensa, com sólidas e consistentes obras, tanto em
quantidade, quanto, e principalmente, em qualidade. Não se fiem nessa história
de “inspiração”. Para escrever textos inteligentes e profundos, o que conta,
mesmo, é a transpiração. E abundante. Dessa de deixá-lo molhado por inteiro,
com o suor pingando da testa.
Já
tratei em outras ocasiões do assunto, sem, no entanto, esgotá-lo. Ademais, nada
me impede de voltar a abordá-lo e ainda assim não ser repetitivo. Em texto
anterior, que partilhei com vocês neste espaço, indaguei a certa altura: “Existe
alguma receita infalível para uma vida útil, produtiva e feliz?”. E respondi,
na sequência: “Sim, existe. Todavia, embora pareça simples e óbvia, não é tão
fácil assim de ser posta em prática”. Enfatizei que nossa tendência natural e
até instintiva é a “de complicar todas as coisas”. Concluí que “a simplicidade
nos assusta e gera desconfiança de que, se as coisas parecem (ou são) muito
simples, há algo de errado com elas, mesmo, e principalmente, que não haja”.
E
não é o que acontece? Queremos fazer um montão de coisas ao mesmo tempo e
acabamos por não fazer nenhuma. Ou, se o fazemos, elas são mal feitas,
equivocadas e/ou incompletas. O mais prático e lógico é tratar cada dia como se
fosse miniatura de uma vida. Ou seja, que tenha começo, meio e fim. Parece
simples, não é mesmo? Mas você consegue agir dessa maneira? Caso consiga,
parabéns. Está no caminho do sucesso caso mantenha a autodisciplina e não
disperse ou retenha suas energias. O ontem e o amanhã devem ser completamente
ignorados e permanecer em compartimentos estanques e indevassáveis. Nosso
empenho no novo dia deve ser o máximo, total e absoluto. Tudo o que fizermos,
seja lá o que for, terá que ser feito da melhor forma que soubermos, indo, para
isso, ao limite das nossas forças e capacidades, caso se faça necessário. Assim
como fazem os atletas de alto rendimento, por exemplo.
Se
há algo que tem que ser considerado “sagrado”, encarado como “cláusula pétrea”
de uma lei inflexível, é não deixar pendências para o amanhã. Tudo o que tiver
que ser resolvido, tem que o ser nestas 24 horas que caracterizam o dia de hoje
e apenas nelas. No dia seguinte, a receita é exatamente a mesma. E isso tem que
ser repetido por todos os anos da nossa vida, sem nenhuma exceção. É aí (mas
não só nesse caso) que entra a questão da autodisciplina Mas você conhece quem
aja dessa maneira? Eu não conheço! No entanto, esse procedimento é para lá de
óbvio.
O
mal é que, não apenas deixamos assuntos pendentes, de um dia para o outro, como
levamos para ele os erros e bobagens cometidos na véspera, quando o sensato
seria esquecê-los de vez, como se jamais tivessem sido cometidos. O filósofo
norte-americano, Ralph Waldo Emerson, resume essa “receita” de bem viver da
seguinte forma: “Termine cada dia e largue-o. Você fez o que pôde. Sem dúvida
alguns erros e disparates se insinuaram nele; esqueça-os o mais depressa que
puder. Amanhã é um novo dia; comece-o bem e serenamente e com o ânimo bastante
alto para não se deixar estorvar por suas tolices passadas”. Que tal tentarmos
viver dessa forma? Afinal, você quer ou não quer ser bem-sucedido no que faz?
Pois então! Seja autodisciplinado! Só depende de você.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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