Piores ações ficam impunes
Pedro J.
Bondaczuk
O terrorismo, a despeito de se tratar de uma ação política
quase tão antiga quanto o próprio homem, dada a sua complexidade, é algo até
difícil de se definir com exatidão. Prova disso é que o Departamento de Estado
dos Estados Unidos, em seu relatório anual acerca dessa prática violenta, na
versão do corrente ano, buscou dar uma definição para, através dela,
estabelecer um critério para o cômputo de casos registrados em 1988: “violência
premeditada, motivada politicamente, perpetrada contra alvos não combatentes e,
geralmente, destinada a influenciar uma audiência”.
Além desse detalhe, outra coisa
que chamou a atenção no documento é que ele assinalou um novo recorde de atos
terroristas, o quarto consecutivo, mostrando que os fanáticos de todos os
matizes, os insensíveis e os partidários do “quanto pior, melhor”, estão
aumentando no mundo, ao invés de diminuir.
E a cifra recordista, frise-se,
ocorreu num período caracterizado como de distensão política, quando os líderes
das superpotências trocam beijinhos e apertos de mão, ao invés das farpas
ferinas e das sinistras ameaças de tempos atrás.
Numa época em que pontos de
grande fricção no relacionamento internacional vão sendo superados, longas
guerras estão acabando e os homens até esboçam falar em paz. Ainda assim, em
1988, de acordo com os critérios do Departamento de Estado dos Estados Unidos,
houve 856 ações de terror, que redundaram em 658 mortes.
O que chega a ser sintomático, e,
sobretudo, perigoso, é que os dois atos de maior repercussão do ano acabaram
por ficar impunes. O primeiro foi o seqüestro do Jumbo da “Kuwait Airways”, em
abril de 1988, ocasião em que seqüestradores árabes tomaram o avião quando este
voava sobre território iraniano, fizeram um longo giro pelo Oriente Médio e Mar
Mediterrâneo e foram parar na Argélia, com mais de cem reféns a bordo.
Dois passageiros foram estúpida e
covardemente assassinados, apenas porque os terroristas queriam mostrar que
“não estavam brincando”. Ao cabo de 15 dias de tensas e penosas negociações,
finalmente, o caso (que foi do dia 2 ao dia 20) terminou com os piratas aéreos
deixando Argel, para “rumo ignorado”, sem que nada lhes acontecesse.
O outro episódio foi mais
misterioso, mas muito mais sangrento. Aliás, fechou o ano de forma macabra. Foi
a explosão do Jumbo da Pan Am, em 21 de dezembro de 1988, sobre a cidadezinha
escocesa de Lockerbie, que redundou em 270 mortes.
Hoje, os investigadores sabem
como a bomba foi montada: num gravador japonês. Têm ciência de onde o artefato
foi introduzido na aeronave: no Aeroporto de Frankfurt. Mas não conseguiram
chegar ao autor ou autores. E aí está a diferença. O caso termina com a
perigosa impunidade, estímulo seguro para novos e covardes atos da mesma
espécie.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 12
de abril de 1989).
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